Srinivasa Ramanujan pode ser uma personalidade pouco conhecida para quem não estuda matemática. Este indiano pobre, sem estudos, foi responsável por revoluções na matemática abstrata, fazendo avanços consideráveis nas frações continuadas e nas séries infinitas. Mas sua cinebiografia não tem a menor pretensão de esclarecer estas questões: como o tema é árido para a maioria das pessoas, Ramanujan é visto como um típico gênio incompreendido.
O Homem que Viu o Infinito -
O pouco experiente cineasta Matt Brown decide levar a história às telas com toda a pompa que julga necessária ao tema. Ele usa trilha sonora instrumental à exaustão, halos circulando o protagonista como uma figura divina, uma iluminação escuríssima dentro dos cômodos, para retratar os gênios buscando a luz nas trevas. A sacralização é tamanha que beira a paródia. O matemático torna-se um mártir, que sofreu por ser pobre, por ser imigrante, por ser indiano, por não conseguir comprovar suas teorias matemáticas e por ter que abandonar a mãe e a esposa na Índia para estudar na Inglaterra.
Paralelamente, Brown transforma Ramanujan em representante da fé religiosa num círculo majoritariamente descrente. O grande conflito do filme não diz respeito à matemática tradicional contra as teorias ousadas do indiano, nem entre o conhecimento do Oriente e do Ocidente. O embate central ocorre entre um homem que se diz iluminado por deuses, recebendo toda a sua instrução de forças invisíveis, e um acadêmico tradicional, ateu, incapaz de aceitar as fórmulas de Ramanujan sem a comprovação de sua origem. Ironicamente, O Homem que Viu o Infinito trata a matemática com uma aura mística, pouco científica – algo reforçado pelos títulos original e brasileiro. O projeto sustenta a ideia questionável de que seria impossível revolucionar a ciência sem reconhecer a existência de Deus.
O Homem que Viu o Infinito -
Embora a estética e a compreensão da ciência deixem a desejar, a biografia atinge seu ponto alto no retrato da amizade entre Ramanujan e o professor G. H. Hardy. O enfrentamento de ambos soa esquemático durante a primeira parte da narrativa, mas o roteiro consegue extrair, na segunda metade, um afeto verdadeiro desta união. Dev Patel, preso pela enésima vez ao papel do pobre indiano sonhador, não demonstra grande versatilidade em sua composição, mas Jeremy Irons está excelente na transformação do professor aberto a pessoas e ideias desconhecidas. Atores coadjuvantes como Toby Jones e Stephen Fry também colaboram à verossimilhança do meio acadêmico.
Ao lado de outras biografias que idealizam a figura de físicos e matemáticos, como A Teoria de Tudo, Uma Mente Brilhante e Gênio Indomável, O Homem que Viu o Infinito representa um projeto inferior, com roteiro mais maniqueísta e direção menos refinada. Mas o humanismo da trama ainda resiste às escolhas desengonçadas de Brown, tornando a obra uma experiência agradável – pouco didática no que diz respeito à matemática, mas extremamente pedagógica quanto à moral, aos bons costumes e à noção de meritocracia.
Fonte: adorocinema