As contribuições do físico e cosmólogo para a sociedade ultrapassam o campo da ciência.
Stephen Hawking é, sem dúvidas, uma das mentes mais brilhantes da história da ciência. Aos 73 anos, ele fez grandes contribuições à comunidade científica, com teorias como a do espaço-tempo e do funcionamento dos buracos negros, a partir das quais conseguiu aproximar o público de temas que poderiam parecer complexos para muitos.
Você pode conhecê-lo por meio do livro Uma Breve História do Tempo, da representação feita dele pelo ator Eddie Redmayne no recente A Teoria de Tudo ou pode ter ouvido falar do cientista por conta de ele sofrer da raríssima condição esclerose lateral amiotrófica. No entanto, a produção dele vai muito além.
Separamos oito reflexões a partir das quais é possível ter uma visão mais profunda da linha de pensamento — e das contribuições científicas do cosmólogo:
“Deus pode existir, mas a ciência consegue explicar o universo sem a necessidade de um criador.” Em múltiplas ocasiões, Hawking afirmou ser ateu. Neste caso, Deus seria uma espécie de limitação, ou seja, as pessoas só saberiam aquilo que Ele sabe. A diferença entre a religião e a ciência, de acordo com Hawking, é que a primeira é baseada em uma autoridade, enquanto a segunda funciona a partir da observação e da razão. “Eu acredito que o universo é regido pelas leis da ciência”, explica. “A ciência triunfará porque ela funciona.”
“Acredito que a vida se desenvolve de forma espontânea na Terra, então deve ser possível para ela se desenvolver em outros planetas.” Hawking acredita que formas inteligentes, não apenas microbianas, de vida existem em outros lugares do universo. Tanto que, em julho deste ano, ele lançou um programa de 100 milhões de dólares cujo objetivo é buscar uma civilização extraterrestre ao longo da próxima década. A segunda parte da missão consistirá em compilar uma mensagem para ser enviada para essas formas de vida. “Não há questão maior. Está na hora de nos comprometermos a achar a resposta, a procurar vida fora da Terra. Estamos vivos. Somos inteligentes. Precisamos saber”, disse o físico.
“O desenvolvimento da inteligência artificial pode ser o fim da raça humana.” Por sofrer de esclerose lateral amiotrófica, que compromete o funcionamento do sistema nervoso, o cosmólogo conta com a tecnologia para se comunicar. Especialistas da Intel e da Swiftkey criaram um sistema que, por meio do teclado de um aplicativo no smartphone, aprende como Hawking pensa e sugere palavras que ele queira usar em seguida. O desenvolvimento dessa tecnologia envolve inteligência artificial, o que impressiona e assusta o cientista ao mesmo tempo.
Para ele, é necessário ter cautela para não criar uma espécie de Skynet que ultrapassaria a inteligência humana e substituíria as pessoas. Essa preocupação se estende principalmente ao desenvolvimento de armas autônomas. Em carta aberta, Hawking e centenas de outros cientistas se posicionaram em relação às consequência desse tipo de tecnologia. “A tecnologia relacionada a inteligência artificial chegou a um ponto no qual a disposição desses sistemas é possível em questão de anos, não décadas, e as expectativas são altas: as armas autônomas foram descritas como a terceira revolução para as guerras, após a pólvora e as armas nucleares”, diz o documento.
“A pergunta chave para a humanidade hoje é se devemos dar início a uma corrida de armas feitas com inteligência artificial ou se devemos prevenir que ela sequer comece. É só uma questão de tempo até que elas apareçam no mercado negro ou nas mãos de terroristas e ditadores que querem controlar suas populações, ou déspotas que desejam fazer ‘uma limpeza’ étnica em seus territórios.”
“A ideia de viagem no tempo não é tão louca quanto parece.” Em artigo escrito para o Daily Mail em 2010, Hawking revelou que, por muito tempo, evitou falar sobre viagem no tempo por receio de ser rotulado de louco. Mas com o passar dos anos, deixou essa abordagem de lado. “Eu sou obcecado com o tempo. Se eu tivesse uma máquina do tempo, eu visitaria Marilyn Monroe em seus dias de glória ou iria atrás de Galileu enquanto ele construia seu telescópio. Talvez eu até viajasse para o fim do universo para descobrir como a nossa histórica cósmica termina”, escreve.
NOS ÚLTIMOS ANOS, AS VIAGENS NO TEMPO PASSARAM A SER UM TEMA RECORRENTE NA FALA E NO TRABALHO DE HAWKING.
O físico sugere a existência de uma quarta dimensão. Haveria, além da altura e do comprimento, um outro tipo de comprimento: o do tempo. “Tudo tem um comprimento no tempo, bem como no espaço”, explica. Logo, viajar no tempo seria viajar pela quarta dimensão, uma espécie de portal com o nome de “buraco de minhoca”. “Os buracos de minhoca estão por toda parte do nosso redor, mas eles são muito pequenos para que consigamos vê-los. Eles ocorrem em fendas e cantos do espaço e do tempo. Alguns cientistas acreditam que talvez seja possível aumentá-los o suficiente para que humanos ou naves espaciais possam utilizá-los.”
"As coisas podem escapar de um buraco negro, tanto para o lado de fora, como também possivelmente em um outro universo." Em 1974, Hawking argumentou que os buracos negros, supostamente campos gravitacionais impossíveis de se escapar, emitem um tipo de radiação térmica por conta de efeitos quânticos. Chamada de radiação Hawking, quando emitida em grande quantidade, teoricamente, pode fazer com que o buraco negro desapareça e que, com isso, a informação sobre o estado físico de um objeto que cai no buraco negro seja destruída.
Em 2004, o cientista mudou de ideia em relação aos buracos negros, afirmando que a informação poderia sobreviver ao ser sugada por eles
Isso aconteceria de acordo com a relatividade geral. Já sob o ponto de vista da mecânica quântica, essa mesma informação não poderia se perder. Esse paradoxo tem perdurado pelos últimos 40 anos.
Em 2004, o cientista mudou de ideia, afirmando que a informação poderia sobreviver. No fim de agosto de 2015, ao falar da radiação Hawking, o cosmólogo sugeriu uma nova abordagem que pode mudar para sempre a forma como buracos negros são vistos e discutidos. “Eu proponho que a informação não é armazenada no interior do buraco negro, como é de se esperar, mas sim em seu limite, o horizonte de eventos”, disse o cientista. Basicamente, ao ser sugada pelo buraco negro, a informação passaria por um processo de tradução, criando um holograma da informação que sobreveviria e escaparia pelo horizonte de eventos. “Os buracos negros não são tão negros como os fizemos parecer. Eles não são as prisões eternas que já foram considerados uma vez”, explicou Hawking.
“Você tem que ter uma atitude positiva e tirar o melhor da situação na qual se encontra.” O cosmólogo foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica quando tinha 21 anos. Na época, a previsão dos médicos era de que Hawking teria apenas mais três anos de vida — em janeiro de 2015, completou 73 anos. Ele lida com a doença se focando em atividades relacionadas com a física teórica, que não exigem seu esforço físico. “A ciência é uma área boa para pessoas deficientes porque ela precisa principalmente da mente”, afirma.
"Manter alguém vivo contra a sua vontade é uma grande indignidade." O suicídio assistido deve ser um direito dos pacientes de doenças terminais, de acordo com Hawking. O cientista afirmou, durante um programa da BBC, em junho de 2015, que consideraria dar um fim à própria vida se sentisse ser um fardo para outras pessoas e não tivesse mais contribuições a fazer. No entanto, ele admite que ainda tem muito a oferecer à sociedade. “Nem pensem que eu vou morrer antes de desvendar mais segredos do universo”, declara.
“Nós somos uma espécie avançada de macacos em um planeta menor de uma estrela mediana. Mas nós conseguimos entender o universo. E isso nos torna muito especiais.” O objetivo de Hawking é obter a compreensão total do universo, como os motivos de ele ser como é e a razão de ele existir. A dica do cientista para as pessoas é olhar para as estrelas e não para baixo, para os próprios pés. “Tente encontrar sentido no que você vê, e se pergunte sobre o que faz o universo existir”, diz. “Seja curioso.”
Isabela Moreira
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