Lançado em 1935,quando atrizes eram mal vistas e mesmo hostilizadas pela sociedade,
Favela dos Meus Amores foi produzido por Carmen Santos e dirigido por Humberto Mouro.
Tendo por conhecimento que mesmo nos dias atuais o mundo das produções cinematográficas é quase exclusivamente masculino o fato de termos uma mulher como produtora torna o filme no minimo curioso. No entanto o que desejo salientar é o pano de fundo onde se desenvolve a trama - FAVELA- denuncia o título.
Enquanto o governo do Brasil representado por Getúlio Vargas esforçava-se por meio da censura para camuflar a massiva presença de negros e a pobreza existente no país, principalmente em respeito a capital tupiniquim. E o mercado brasileiro estava sendo tomado por produções norte americanas que impunham seu modelo de cinema hollywoodiano com mocinhas, bandidos e lugares de estética perfeita, Favela dos Meus Amores usa por cenário o morro. Não como um lugar de triste desordem ou violência, e sim como lugar de suavidade, beleza e musicalidade.
A impressa da época destacou a interpretação de Armando Louzada como "Nhonhô", alusão clara o a sambista carioca Sinhô.As canções apresentadas no filme fizeram sucesso por longos anos consagrando a dobradinha música e cinema.A ousadia de mostrar nas grandes telas a favela agradou o público e a crítica, mesmo entre as elites, porém infelizmente essa importante película não existe mais.
Segundo Alex Viany:
"primeiro filme carioca a aproveitar um dos mais trágicos, exuberantes e musicais da vida na capital do Brasil. o morro (...) marco importantíssimo não só por construir a coisa mais séria dos primeiros anos do per[iodo sonoro , mas também por seu sentido popular, que apontava um rumo verdadeiro a nossos homens de cinema".
Segundo Jorge Amado:
"Em relação as virtudes de Favela dos Meus Amores. O que Humberto conseguiu tirá da favela(fotografias absolutamente admiráveis) com motivo de emoção humana é simplesmente extraordinário. o grande morro legendário não aparece nesse filme com sua fisionomia deturpada. Muito ao contrário Humberto mouro soube conservar o ar próprio do morro, a sua vida miserável e, no entanto com tanta beleza os pretos e as mulatas do morro que movimentam o filme se revelam além de tudo artistas admiráveis. Estão de uma naturalidade espantosacomo se diante deles não estivesse a câmera.os efeitos da fotografia conseguido com as ruas das favelas estão além de toda e qualquer expectativa. nota-se também, com todos os louvores, a introdução das escolas de Samba, o maxixe dançado no cabaré, e todas as músicas do filme que são muito boas. o som também está bom, perdendo-se um numero relativamente pequeno de palavras."
Obs.: Mesmo com a maioria dos atores sendo brancos ou morenos Favela do Meus Amores acabou sendo censurado por mostrar muitos pobres e conseqüentemente negros.
Canções apresentadas em Favela dos Meus Amores:
Título: Ao luar;
Autor da canção: Barroso, Ari;
Intérprete: Santos, Carmen;
Título: Favela dos meus amores;
Autor da canção: Nássara;
Título: Quando um sambista morre;
Autor da canção: Barroso, Ari;
Título: Favela;
Autor da canção: Mesquita, Custódio;
Título: Fado, O;
Autor da canção: Vivas, maestro;
Intérprete: Orfeao Português;
Título: Todinha;
Autor da canção: Mesquita, Custódio;
Título: Ironia torturante;
Autor da canção: Caldas, Silvio;
Intérprete: Caldas, Silvio;
Título: Quase que eu disse
Autor da canção: Caldas, Silvio
Intérprete: Caldas, Silvio
fontes:
Cinemateca Brasileira
Viany, Alex. introdução ao cinema brasileiro. rio de janeiro, MEC/INL,1956. p. 107-8.
Gomes, P.E. Salles, e Gonzaga, A. 70 anos..., op. cit., p. 90.
amado, Jorge. Favela dos Meus Amores. Boletim de Ariel, s. d. p. 30.
Filmografia: Censura Federal, Rio de Janeiro, entre 01 e 15.10.1935; renovação de Censura Federal (com metragem de 2.600m), para a Brasil Vita Filmes, entre 16 e 31.08.1946.
2 comentários:
Olá Jaqueline, prazer em tê-la no meu espaço,obrigada, é sempre bom conhecer pessoas e novos amigos, serás sempre bem vinda!
Grande abraço!
Ivone
Isso que eu chamo de trazer a tona a história do cinema nacional.
Grande trabalho Jaqueline.
Parabéns pelo artigo, bem escrito e uma aula da história do cinema do Brasil.
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Obrigada pela sua opinião e um grande abraço de Jaqueline Ramiro/blog Sou Maluca Sim!