2c6833b0-77e9-4a38-a9e6-8875b1bef33d diHITT - Notícias Sou Maluca Sim!: CARIOCA ERA UM RIO
terça-feira, 18 de novembro de 2014

CARIOCA ERA UM RIO


Para os desavisados, essa cidade maravilhosa aos pés dos maciços de granito e de frente para a vastidão do atlântico é, necessariamente, uma cidade criada e voltada para a vocação do mar. Ledo engano. essa (atro)cidade maravilhosa é fundada, cultivada e destruída a partir de um rio. Seu nome: carioca. Esse rio, que desce manso pelas paredes da floresta da tijuca, atravessa comunidades e mansões do Cosme Velho, corre pelo vale das laranjeiras e deságua na praia do flamengo, foi onde, ainda 1565, em meio a batalhas de portugueses, franceses e tamoios, fundou-se o que depois viria ser a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Após quase quatro séculos abastecendo o núcleo urbano da capital da colônia e, posteriormente, do império e da república, os inúmeros abusos feitos pela população e pelos governos destruíram o rio carioca a partir do seu uso como lixo e da invasão sistemática de suas margens. Durante o início do século XX, a ideia de progresso como o domínio transformador da cultura sobre a natureza fez com que a cidade resolvesse tampar o rio carioca em seu trecho que vai do Cosme Velho à Praia do Flamengo, privilegiando os bondes e, posteriormente, ônibus e automóveis.

Hoje, ele corre silencioso, sujo e inquieto abaixo dos pés da população que, largamente, ignora sua história. apenas durante as fortes chuvas que periodicamente atingem a cidade, lembramos que suas águas ainda circulam em sua cabeceira e a força de sua enxurrada alaga completamente a região. Apenas na sua revolta, lembramos do rio carioca. mas nunca questionamos sua destruição. O caso do rio carioca prova que o maior vândalo nesse país é o estado, e, desde 1500, o vandalismo de estado é o mais pernicioso, quando ele mesmo destrói, não educa, não atua como agente de preservação do patrimônio dos cidadãos. Um estado que vive a serviço dos interesses imobiliários, das máfias dos transportes, um estado gerente dos interesses privados, e não os da população.

Brasil, Washington, Londres. seja onde for, a história sempre se repete: o aumento desenfreado da população urbana, o crescimento das cidades e a falta de tratamento do esgoto contribuíram para a degradação dos rios. no entanto, iniciativas no mundo mostram que é possível a recuperação de rios e a humanização das cidades. Cheong gye cheon na coreia do sul, tâmisa em Londres, sena em Paris são rios vivos graças a projetos que além de resgatar a função biológica, também contemplam o resgate de suas identidades em relação às cidades. até nossos colonizadores financiaram um projeto de recuperação do rio tejo e deu certo.

A prefeitura de Seul desenvolveu um projeto orçado em us$ 380 milhões para recuperar o rio cheong gye cheon na coreia do sul. Enquanto isso, o custo dos estádios da copa do mundo já chega a r$ 8,9 bilhões. Esse valor atual supera em mais de três vezes a estimativa inicial, feita em outubro de 2007.
Carioca, tietê, pinheiros, iguaçu, paraíba do sul, doce, capibaribe....
 .... todos asfixiados pelo descaso estatal. e quantos rios cariocas não existem na cidade que podem ser recuperados para a população, seguindo exemplos do mundo inteiro? Abrir o que fechamos, renovar o que destruímos, se orgulhar de um mito de origem que envolveu povos, crenças, costumes, batalhas e visões de mundo, mas envolveu, principalmente, um rio.



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