2c6833b0-77e9-4a38-a9e6-8875b1bef33d diHITT - Notícias Sou Maluca Sim!: CHICO BUARQUE FALA SOBRE RACISMO
quinta-feira, 21 de novembro de 2013

CHICO BUARQUE FALA SOBRE RACISMO

 

Chico Buarque fala sobre racismo no Brasil e sobre seu desapontamento ao saber que o neto sofria agressões raciais na escola.



 Em uma das raras entrevistas, o cantor e compositor fala sobre racismo e a sua visão de Brasil. Segundo o artista, não existe branco no Brasil e é uma ilusão o brasileiro querer negar a mestiçagem nacional. Chico também relata casos de racismo sofridos pela família. Ele conta que já foi vítima de piadas racistas por conta do genro, Carlinhos Brown, ser casado com sua filha Helena Buarque. Confira:


“Percebo o racismo no Brasil, é claro. Percebo claramente e até mais diretamente. Depois que a minha filha se casou com o Carlinhos Brown, e brincando ou não, eu ouço referências disso o tempo todo, até mesmo andando na rua. Até mesmo algum tipo de gracinha agressiva.

Primeiro as pessoas pensam que são brancas. Pensam que eu sou branco, por exemplo. Só no Brasil que eu sou branco, ou que minha filha é branca. Um dia eu falei brincando que ninguém no Brasil é branco, a não ser a Xuxa e se ela não casar com o Tafarel, aí vão acabar os últimos brancos brasileiros.

Daquela semana para cá, eu fui num restaurante e tinha uma senhora sentada, com um cabelo amarelo pintado, ela começou a gritar: “eu sou branca!”. E isso num restaurante, supostamente chique.

Isso é uma coisa muito mal resolvida no Brasil. O brasileiro não aceita o fato de ser mestiço, não aceita mesmo. Isso é uma coisa que pega fundo. Todo mundo fala assim: quando é teoricamente, ou fulano fala que tem um pé na cozinha e todo mundo ri, mas não tem não, imagina se um democrata ia falar isso, todo mundo está vendo que ele é branco. Então não dá para ser, quer dizer, a não ser o imigrante filho de imigrante.

A minha família é antiga no Brasil, tanto lado de pai como de mãe. Agora tem essa mania de livros com genealogia. Aí, você vai ver lá e tem uma hora que para de aparecer um nome, as pessoas somem. É impossível imaginar que famílias do século XVI ou XVI não tenham se misturado com índio ou com preto. Não havia como.

Todo mundo diz “eu sou descendentes de fulano, descendente de sicrano, de um barão”. Sim, mas você tem dois pais, quatro avós, vai olhar lá na árvore, são oito bisavós, 16 tataravós. Chega no século XVI, você tem 128 antepassados. Esses 128 não podem ser 128 brancos, não podem ser!

Não é possível que aquela senhora do cabelo amarelo seja branca, não pode ser. E isso a pessoa não quer aceitar. Escravo não, preto não! Quer dizer, sem ser diretamente com os meus netos, já aconteceu uma agressão à casa em que eles moravam. Saíram de lá, a família saiu de lá e foram para a Bahia.

Quando a minha família vem agora, o Carlinhos e os filhos, eles ficam na casa de Marieta (Severo, atriz), porque ficou desagradável conviver e morar num condomínio de classe média na Gávea, onde eles eram claramente indesejáveis, onde foram agredidos. Você não tem o que fazer. Meu ímpeto era ir lá e chamar o síndico. Perguntar “quem foi que fez isso?”. E não adianta, é inútil.

Isso está impregnado, aqueles caras que na praia dizem: “Ô Chico”, “Chico, cadê o genro?”. Aqueles caras ali na praia pensando que são brancos, e não são brancos. Eles pensam que são brancos. Nós não somos brancos.

O que me aborrece é a hipocrisia. A hipocrisia e a ignorância da situação. Isso é ignorância, é incultura. O nosso valor é a miscigenação. As pessoas pensam que não são mulatas, e são mulatas. E estão fazendo muita coisa boa porque são mulatas. A mistura de raças é essencial. No futuro da humanidade, não vai ter como se manter sem isso. Para citar o caso da França. A periferia lá com todos aqueles filhos, netos de árabes. As filhas estão se casando. Elas querem casar com preto, com mulato, e lá também, se a Xuxa não se casar com o Tafarel, daqui a três gerações não vai existir mais o francês puro, de raça branca, né? O ariano, e mais lentamente, a tendência vai ser sempre essa miscigenação.

O Brasil já está adiantado nesse processo, é um exemplo de que a miscigenação dá certo”.

1 comentários:

Por Amor disse...

JACK !!! ESQUECER A HISTÓRIA É TALVEZ O MAIOR ERRO DE UM POVO !!! POIS O RUMO SE ESVAI !!! E O PRESENTE PASSA A SER FALSO E INSEGURO !!! ALÉM DE GERARMOS UM FUTURO !!! NA MAIORIA DAS VEZES SEM BÚSSOLA !!! NÃO BEM SE SABE PARA ONDE IR !!! parabéns sábia amiga um beijo grande Pedro Pugliese

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Obrigada pela sua opinião e um grande abraço de Jaqueline Ramiro/blog Sou Maluca Sim!

 
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