2c6833b0-77e9-4a38-a9e6-8875b1bef33d diHITT - Notícias Sou Maluca Sim!: junho 2014
sexta-feira, 27 de junho de 2014 0 comentários

SERÁ QUE TODO MUNDO É TÃO FELIZ QUANTO MOSTRA SER NO FACEBOOK?



Curta-metragem mostra como a felicidade pode ser forjada no Facebook.
"what's on your mind?" , a pesar de ser uma crítica ao uso dado as redes socias tem feito muito sucesso na internet. 

E você o que acha? 

Será que todo mundo é tão feliz quanto mostra ser no Facebook?



Recorrerei a um texto publicado anteriormente aqui no SOU MALUCA SIM.

ERA DO PLACEBO


O perdão só é bonitinho nas histórias contadas sobre cristo.

As pessoas pensam estarem se curando de alguma coisa, mas não estão. Procuram remédio para: solidão, inveja, covardia, medo, ira...para o amor. Porém nada é suficiente. Inevitavelmente todos sentem alguma estranha ausência. Sempre falta algo.

Desejam demais o  poder, fazem qualquer coisa para consegui-lo. O problema é que elas querem alcançar o poder jogando MONOPOLY  e monopoly é apenas um jogo. Em qualquer canto dessa terra se houver dois seres humanos um irá se sobrepor ao outro. A maioria das pessoas não param para pensar nisso de forma intelectualizada, no entanto, parecem carregarem essas ações em seu DNA.

Todos sentem-se machucados, agredidos de algum modo e mesmo os que não admitem desejam vingança. É bem mais fácil retribuir à agressão com um machado. O perdão só é bonitinho nas histórias contadas sobre Cristo.

Para controlar os sintomas desse demônio chamado homem, as pessoas procuram antídotos incutidos na sociedade. Porções mágicas como: "consciência social", "crise sociais", "redes sociais" com suas frases feitas, músicas de uma frase só e com o mesmo ritmo. Acham que com tais atitudes passam a fazer parte do grupo. Acham-se curadas - que encontraram remédio para a solidão - o algo que falta.  Uma grande parte recorre não apenas ao remédio sistêmico, mas também à anestesias como: álcool e drogas sintéticas.

O grande mal dessa coisa toda é que infelizmente estão consumido placebo. Quando acordão a sensação é a mesma da manhã anterior. Sentem o mesmo vazio de sempre.

Por: Flávio Tavares


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EMBRIAGUE-SE



Embriague-se

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.

Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.

Charles Baudelaire
segunda-feira, 23 de junho de 2014 0 comentários

CADA ENCONTRO



Cada encontro está carregado de perda. Ou de perdas.
As vezes duas pessoas que se amam (amigos, casados, solteiros, amantes, namorados) se encontram e são felizes.
Ao fim da felicidade, um deles chora. Ou fica triste.
Ou baixa os olhos. Ou é invadido por uma inexplicável melancolia.
É a perda que está escondida no deslumbramento de cada encontro.
O encontro humano é tão raro que mesmo quando ocorre, vem carregado de todas as experiências de desencontros anteriores.

Quando você está perto de alguém e não consegue expressar tudo o que está claro e simples na sua cabeça, você está tendo um desencontro.
Aquela pessoa que lhe dá um extremo cansaço de explicar as coisas é alguém com quem você se desencontra.
Aquela a quem você admira tanto, que lhe impede de falar, também é um agente de desencontro, por mais encontros que você tenha com as causas da sua admiração por ele.
A pessoa que só pensa naquilo em que vai falar e não naquilo que você está dizendo para ela é alguém com quem você se desencontra.
Alguém que o ama ou o detesta, sem nunca ter sofrido a seu lado, é alguém desencontrado de você.

Cada desencontro é perda porque é a irrealização do que teria sido uma possibilidade de afeto.
É a experiência de desencontros que ensina o valor dos raros encontros que a vida permite. A própria vida é uma espécie de ante-sala do grande encontro (com o todo? o nada?).
Por isso talvez ele nada mais seja do que uma provocação de desencontros preparatórios da penetração na essência DO SER.

Mas por isso ou por aquilo, cada encontro está carregado de perda.
E no ato de sentir-se feliz associa-se a idéia do passageiro que é tudo, do amanhã cheio de interrogações, da exceção que aquilo significa.
A partir daí, uma tristeza muito particular se instala.
A tristeza feliz. Tristeza feliz é a que só surge depois dos encontros verdadeiros, tão raros.
Encontros verdadeiros são os que se realizam de ser para ser e não de inteligência para inteligência ou de interesse para interesse.
Os encontros verdadeiros prescindem de palavras, eles realizam em cada pessoa, a parte delas que se sublimou, ficou pura, melhor, louca, mas a parte que responde a carências e às certezas anteriores aos fatos.

É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria da felicidade vivida ou trocada.
Quem se alegra demais se distancia da felicidade.
Felicidade está mais próxima da paz que da alegria, do silêncio do que da festa. Felicidade está perto da tristeza, porque a certeza da perda se instala a cada vez que estamos felizes.
É esta certeza - a da perda - que provoca aquela lágrima ou aquela angústia que se instala após os verdadeiros encontros.

Há sempre uma despedida em cada alegria.
Há sempre um E depois? após cada felicidade.
Há sempre uma saudade na hora de cada encontro.
Antecipada.
Disso só se salva quem se cura, ou seja, quem deixa de estar feliz para ser feliz, quem passa do estar para o ser.

Arthur da Távola

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EVITE SER TRAÍDO

Você homem da atualidade, vem se surpreendendo diuturnamente com o “nível” intelectual, cultural e, principalmente, “liberal” de sua mulher, namorada etc.
As vezes sequer sabe como agir, e lá no fundinho tem aquele medo de ser traído – ou nos termos usuais – “corneado”. Saiba de uma coisa…

Esse risco é iminente, a probabilidade disso acontecer é muito grande, e só cabe a você, e a ninguém mais evitar que isso aconteça – ou então – assumir seu “chifre” em alto e bom som. Você deve estar perguntando porque eu gastaria meu precioso tempo falando sobre isso. Entretanto, a aflição masculina diante da traição vem me chamando a atenção já há tempos.
Mas o que seria uma “mulher moderna”? A principio seria aquela que se ama acima de tudo, que não perde (e nem tem) tempo com/para futilidades, é aquela que trabalha porque acha que o trabalho engrandece, que é independente sentimentalmente dos outros, que é corajosa, companheira, confidente, amante…

É aquela que as vezes tem uma crise súbita de ciúmes mas que não tem vergonha nenhuma em admitir que está errada e correr pros seus
braços… É aquela que consegue ao mesmo tempo ser forte e meiga, arrumada e linda… Enfim, a mulher moderna é aquela que não tem medo de nada nem de ninguém, olha a vida de frente, fala o que pensa e o que sente, doa a quem doer… Assim, após um processo “investigatório” junto a essas “mulheres modernas” pude constatar o pior.

VOCÊ SERÁ (OU É???) “corno”, ao menos que:
- Nunca deixe uma “mulher moderna” insegura. Antigamente elas choravam. Hoje, elas simplesmente traem, sem dó nem piedade.
- Não ache que ela tem poderes “adivinhatórios”. Ela tem de saber da sua boca – o quanto você gosta dela. Qualquer dúvida neste sentido poderá levar às conseqüências expostas acima.
- Não ache que é normal sair com os amigos (seja pra beber, pra jogar futebol…) mais do que duas vezes por semana, três vezes então é assinar atestado de “chifrudo”. As “mulheres modernas” dificilmente andam implicando com isso, entretanto elas são categoricamente “cheias de amor pra dar” e precisam da “presença masculina”. Se não for a sua meu amigo…Bem…
- Quando disser que vai ligar, ligue, senão o risco dela ligar pra aquele ex bom de cama é grandessíssimo.
- Satisfaça-a sexualmente. Mas não finja satisfaze-la. As “mulheres modernas” têm um pique absurdo com relação ao sexo e, principalmente dos 20 aos 38 anos, elas pensam – e querem – fazer sexo TODOS OS DIAS (pasmem, mas é a pura verdade)… Bom, nem precisa dizer que se não for com você…
- Lhe dê atenção. Mas principalmente faça com que ela perceba isso. Garanhões mau (ou bem) intencionados sempre existem, e estes quando querem são peritos em levar uma mulher às nuvens. Então, leve-a você, afinal, ela é sua ou não é????

- Nem pense em provocar “ciuminhos” vãos. Como pude constatar, mulher insegura é uma máquina colocadora de chifres.
- Em hipótese alguma deixe-a desconfiar do fato de você estar saindo
com outra. Essa mera suposição da parte delas dá ensejo ao um “chifre” tão estrondoso que quando você acordar, meu amigo, já existirá alguém MUITO MAIS “comedor” do que você…só que o prato principal, bem…dessa vez é a SUA mulher.

- Sabe aquele bonitão que, você sabe, sairia com a sua mulher a qualquer hora. Bem… de repente a recíproca também pode ser verdadeira.
Basta ela, só por um segundo, achar que você merece…Quando você reparar… já foi.
- Tente estar menos “cansado”. A “mulher moderna” também trabalhou o dia inteiro e, provavelmente, ainda tem fôlego para – como diziam os homens de antigamente – “dar uma”, para depois, virar do lado e simplesmente dormir.

- Volte a fazer coisas do começo da relação. Se quando começaram a sair viviam se cruzando em “baladas”, “se pegando” em lugares inusitados, trocavam e-mails ou telefonemas picantes, a chance dela gostar disso é muito grande, e a de sentir falta disso então é imensa. A “mulher moderna” não pode sentir falta dessas isas…senão…

Bem amigos, aplica-se, finalmente, o tão famoso jargão “quem não dá assistência, abre concorrência e perde a preferência”. Deste modo, se você está ao lado de uma mulher de quem realmente gosta e tem plena consciência de que, atualmente o mercado não está pra peixe (falemos de qualidade), pense bem antes de dar alguma dessas “mancadas”… proteja-a, ame-a, e, principalmente, faça-a saber disso. Ela vai pensar milhões de vezes antes de dar bola pra aquele `bonitão´ que vive enchendo-a de olhares… e vai continuar, sem dúvidas, olhando só pra você!!!”

ARNALDO JABOR
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EU SEI, MAS NÃO DEVIA



Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.


A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

MARINA COLASANTI
sábado, 21 de junho de 2014 0 comentários

VÓ THEREZA



Vez por outra falo com vocês sobre minha avó paterna, essa nega flamenguista e chamada Thereza. Tento sempre expor minha admiração em razão das inúmeras atrocidades que ela passou ao longo da vida e mesmo assim manteve-se de pé. Educou, de acordo com as suas limitadíssimas possibilidades, filhos e netos.

Mulher negra, extremamente pobre, mas que me passou preciosos conhecimentos. 

Estou muito feliz por ter conseguido por meio de terceiros essa imagem dela, já de cabelinhos brancos e um bom copo de cerveja na mão.

Vó, saudades eternas. 


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TEU SONHO NO MEU SONHO



Já és minha. Repousa com teu sonho em meu sonho.
Amor, dor, trabalhos, devem dormir agora.
Gira a noite sobra suas invisíveis rodas
e junto a mim és pura como âmbar dormido.
Nenhuma mais, amor, dormirá com meus sonhos.
Irás, iremos juntos pelas águas do tempo.
Nenhuma mais viajará pela sombra comigo,
só tu, sempre-viva, sempre sol, sempre lua.
Já tuas mãos abriram os punhos delicados
e deixaram cair suaves sinais sem rumo,
teus olhos se fecharam como duas asas cinzas.
Enquanto eu sigo a água que levas e me leva:
a noite, o mundo, o vento enovelam seu destino,
e já não sou sem ti senão apenas teu sonho.

PABLO NERUDA
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ME DÁ PREGUIÇA




Quem nunca teve preguiça que atire a primeira pedra. De onde vem a preguiça que só de pensar nela ela já aparece? Se uns dizem que são preguiçosos para estudar, ler ou trabalhar, outros dizem que preguiça é “o que dá” diante de certas pessoas ou programas, causas políticas e ecológicas cheias de discursos que se repetem ou que exigem esforço. Em nossos tempos já se falou até de preguiça do sexo. Se a preguiça é difícil de explicar, não é difícil de entender que ela é reação a algo que, na falta de expressão melhor, chateia. Pode ser causa, mas também efeito. Pode ser direito e pode ser desculpa. Em qualquer caso, ela é sempre um mal estar. Tal mal estar não é só ruim, pode também ser proteção contra o excesso de trabalho, contra a super produtividade de cuja exigência ninguém escapa na vida contemporânea. Mal compreendida a preguiça pode ser só uma forma de violência passiva diante das urgências da vida.

A preguiça é um vício

Há preguiça demais e pouca análise dos seus motivos. Até por preguiça. Até parece a grande vitoriosa diante das possibilidades da vida. A preguiça é redundante. Seu nome próprio é a vitória sobre qualquer esforço, até o do pensamento que parece não exigir força alguma. Mas por qual motivo?

Os filósofos antigos se ocupavam da preguiça como um dos sintomas da melancolia que compõe a pré-história da depressão atual. A preguiça era falta de vontade de tudo e qualquer coisa. Na Idade Média, São Tomás de Aquino tratou-a entre os vícios capitais que se opunham às virtudes. Virtude, para o filósofo santo, era tudo aquilo que dizia respeito à realização da natureza de algo. Por exemplo: a virtude da faca é cortar, a virtude do homem é raciocinar, a virtude do cão de guarda é guardar assim como a da estante é suster livros. Neste sentido, mesmo sendo cristão, ele pensava como os antigos gregos. Vício, por outro lado, era tudo o que não alcançava seu próprio objetivo interno, era como perder-se no meio do caminho: uma faca que não corta, um homem que não raciocina, um cão que não guarda, etc. Mas por que algo deixaria de fazer o que deve, ou deixaria de realizar o motivo pelo qual existe?

A definição tomista de preguiça é importante ainda hoje: ela se caracterizava como uma tristeza que impossibilitava a quem dela padecia de agir para fazer o bem. A preguiça era um torpor do espírito que impedia o indivíduo de agir. Não era a maldade, mas a inatividade.

Não é nenhum exagero a sua íntima relação com a cultura brasileira. Quando Mario de Andrade escreveu seu Macunaíma não errou nem por um segundo quanto ao sentido da preguiça que, como sério fator cultural, nos assola desde sempre.

A preguiça é a doença da ação

A preguiça tem alvo. Sua arma é o abandono. Quando temos preguiça tratamos nosso alvo como algo que simplesmente não nos interessa. Abandonamos ou ficamos abandonados a nós mesmos. Pode-se ter preguiça de conversar com amigos, mas também de educar os filhos, de ensinar alunos, de informar um funcionário sobre seus erros ou até acertos. A preguiça não vem do cansaço. É bom esclarecer que cansado é aquele que fez ou tentou fazer, que exauriu forças e não pode prosseguir por esgotamento. Esgotou uma força que havia. Preguiçoso é quem nem tentou fazer, mas está impedido por um outro motivo, o descaso. Em sua base está um desinteresse pelas coisas e pelas pessoas que, sem cuidado, pode se transformar em falta de respeito. O preguiçoso é aquele que esgota uma força que nunca existiu, ele se cansa antes de ter começado como se estivesse doente de uma curiosa incapacidade de agir.

Impotência

Se a violência é destrutiva do poder como um dia comentou a filósofa da política Hannah Arendt, podemos dizer que a preguiça também nega o poder, mas não por contradizê-lo e sim por localizar-se onde ele falta. A preguiça é o nome que se dá a uma forma de impotência, à potência que não se realiza. O preguiçoso não é simplesmente aquele que “não pode”, mas aquele que não tenta, não deseja e, no limite, não se permite sair da inatividade na qual está lançado. No fundo, o impotente é aquele que “poderia, mas não pode”. Porém, é preciso lembrar que “não poder” também está ao alcance de todo aquele que pode. Quem faz algo poderia sempre “não ter feito nada”. O que nos ensina que fazer ou não fazer tem relação direta com a possibilidade de escolha.

A preguiça neste sentido não é o ócio, mas o seu momento negativo, pejorativo. Assim como o negócio é a negação do ócio, mas num sentido positivo, a preguiça é a negação do ócio num sentido pejorativo. Por isso é possível dizer que a preguiça é autoritária, porque ela é fechada, não deixa espaço para as novidades da vida, para outros olhares, para a aceitação de novas potências. Se há segredo em conviver com a preguiça nossa de todo dia, ele está na possibilidade de saber sua diferença com o descanso necessário ou a falta de desejo pela vida e suas possibilidades. É muito bom não fazer nada quando isto é uma escolha, mas não é nada bom ser escravo da própria impotência.

MARCIA TIBURI


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O AMOR SE ESCONDE




Eu te conheço, antes mesmo de te conhecer, em meus desejos.
Você é sempre linda, mas eu nunca consigo ver seu rosto.

A cada sonho apareces diferente.
Mas seu olhar te revela e me hipnotiza de novo,
misturando carinho, tesão e amor,
em doses muito, muito precisas.

Sua pele sempre parece feita de tudo,
um pouco de carne, um pouco de veludo,
um raio de sol, um raio de lua,
É a felicidade sorrindo, a alegria nua

Você é o alimento dos meus sonhos.
Me faz sentir tudo que os sentidos podem alcançar.
O seu cheiro, o som da sua voz, o toque na sua pele, o gosto do seu desejo.

Te reconheço pelo olhar, seja com cabelos louros, castanhos ou escuros.
Te reconheço pelo cheiro do seu couro cabeludo.
Reconheço cada parte de você inteira, em cada novo corpo.
Te redescobrindo sempre. Te amando sempre.

Mas, de repente você some, desaparece sem avisar,
deixando no seu lugar, onde você existia,
uma pessoa que não conheço. A casca do amor.

Mas, sempre reapareces de novo, perfeita, e cada vez diferente.
Com outro nome, com outros corpos, outros cabelos e outros olhos.
E durante algum tempo você permanece ao meu lado.
É quando sou feliz. É quando amo. É quando vivo.

Amei todos os seus nomes, todos os seus corpos e todas as suas vozes.

Mas, agora, chegou a hora de nos conhecermos sem máscaras,
para nunca mais desaparecermos um do outro.
Estou cansado de te perder.

Edmir Silveira
sexta-feira, 20 de junho de 2014 0 comentários

PARA O MEU CORAÇÃO



" Para o meu coração basta o teu peito,
para a tua liberdade as minhas asas.
Da minha boca chegará até ao céu
o que dormia sobre a tua alma..." 

PABLO NERUDA
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NOITES SEM VOCÊ




Como o vazio da noite é tão cheio de você.
A cada segundo a tua falta pulsa em mim.
Só há o escuro, cego, teus olhos não estão mais aqui;

Como é vazia a noite sem as tuas mãos, sem a tua voz.
Como sou vazia sem você em mim.
E mais ainda sem mim em você;

Como a noite é tão cheia de saudade
e tão vazia do teu corpo no meu corpo,
dos teus sonhos nos meus sonhos.
Tão vazia de mim.

Como o vazio da noite é tão cheio de você,
como o vazio da noite é tão cheio de lembranças.
E quanto melhores as lembranças maior a dor.

Me arranquei, de dentro de você. E só agora vi que você era você.
E agora, como faço para arrancar você de dentro de mim?
Só me resta chorar o que fiz até cansar, até dormir.
Até acostumar a não ser mais o sonho do meu sonho.

Como são vazias as noites sem você.

 Daniela G. Riwde
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A DANÇA DA VIDA

Ela chegou de novo, de repente, de longe, de sempre.


Mas nossas vidas sempre foram assim, feitas de surpresas impossíveis.
Desde o dia em que,aos 16 anos, antes de estarmos presos a tudo, resolvemos simplesmente que iríamos nos amar pra sempre. Do nosso jeito. Maior que tudo. Como só duas crianças podem sonhar. Pra sempre.
Sempre não é aqui, não é agora, mas até pode ser, porque sempre não tem hora, é sempre.

E nosso tempo sempre foi bem diferente.
De repente, presente, assim não mais que de repente. Quando era necessário, sem que nenhum dos dois soubesse que éramos necessários ao outro naquele momento.

Ela é uma verdadeira bailarina. Ela não escolheu, foi escolhida. Sua alma nascera com um propósito determinado e maior que ela: dançar.

Me parece que toda mulher escolhe a dança, mas a dança escolhe poucas.
Ela rodou o mundo, os grandes palcos, as maiores cidades, realizou tudo que os mais impossíveis sonhos poderiam imaginar. E, a minha bailarina, chegou de novo, quando eu mais precisava da sua dança. Agora.

Não fazia tanto tempo que não nos víamos, mas fazia muito tempo que eu não precisava tanto daquele abraço. Daquele colo. Daquela dança. Seus olhos se conectaram aos meus e imediatamente lacrimejaram, como os meus. Por uma dor que era só minha. Isso é a conexão maior que uma alma pode fazer com outra. O silêncio de quem conhece os sentimentos do outro pelo jeito de olhar.

Ela sabia que a minha tristeza nem minhas lágrimas tinham a ver com ela nem com aquele encontro. Mas sabia que tinha a ver com a minha vida. E isso era o que importava pra ela. Era só o que importava. E isso era tudo que eu precisava ouvir, que ela se importava com o que eu sentia. Mas, antes que tudo pudesse ir por outro caminho , ela começou a dançar pelo quarto, uma música imaginária. Sua dança clássica, elegante, perfeita, possível apenas para um corpo que vive diariamente para aquele propósito,e por isso, perfeito em cada detalhe tanto nos movimentos quanto na nudez de uma pele de veludo. Perguntei se ela queria que ligasse alguma música, ela se aproximou, me abraçou, começou a dançar sobre meu corpo, e respondeu, iluminando meu coração como um milagre:
- Minha música é você.

E mais uma vez a mágica entrou na minha vida da forma mais real, bonita e necessária que poderia existir. E me fez renascer.

Edmir Silveira


quarta-feira, 18 de junho de 2014 1 comentários

AMAR E SER FELIZ



Nos primeiros dias do ano, caiu-me nas mãos, presenteado por uma amiga, um livro. Eu não a conhecia antes, e essa amiga passou tão rápido na minha vida, que acho que a função dela era só me dar esse livro. Como uma fada que a vida manda pra gente com a única função de nos fazer algum bem.
Ela me fez prometer que o leria.

Pois é, não é que o livro realmente me impressionou como há muito não acontecia?

Me identifiquei profundamente. Trata-se da transcrição de uma palestra do filósofo francês contemporâneo André Comte-Sponville. O nome do livro é Felicidade, desesperadamente. Ele faz um passeio pela história da filosofia e utiliza as vários correntes filosóficas para apoiar seu próprio raciocínio.

O livro me fez compreender o que sempre pensei e nunca havia conseguido enunciar e entender daquela forma tão clara e óbvia.

A identificação com a condução do assunto proposta pelo escritor foi completa. A primeira coisa que o livro me fez ver, é que eu havia, finalmente, compreendido o que é amar de verdade. Não de verdade no sentido de intensidade, mas no sentido de profundidade e amplitude. E, também, no sentido da ação.

O verdadeiro amor desperta nosso lado melhor. O lado mais humano, amigo, parceiro. Temos vontade de fazer coisas que façam o outro feliz. E, por causa dessas nossas atitudes bonitas para com o ser amado, nos vemos mais bonitos. Nossa autoestima aumenta, o que nos faz amar o amor que sentimos pela outra pessoa. E esse ciclo se fecha ao sermos retribuídos e, por isso, amamos ainda mais a pessoa que nos faz sentir todo esse prazer de viver.

 E, que aumenta na medida em que transformamos esse amor em atitudes, nos fazendo capazes de sentir felicidade pela felicidade do outro, prazer pelo prazer do outro. Nesses momentos conseguimos ser verdadeiramente felizes.
Cada um do seu jeito, com as suas verdades. Unidos apenas pela felicidade de estar junto. Pela alegria e o prazer que o amor proporciona.

Mas, a felicidade não existe para o amor dos imaturos, do desejo egoísta que quer o objeto porque não o tem. Do que quer a posse, o controle, quer o poder de manipular o outro através dos sentimentos. Este, está condenado a ser infeliz .
É esse pensamento imaturo que ainda sustenta a formalidade dos antigos modelos de casamento e suas subformas como uma meta de vida para a maioria.

O amor de verdade trás com ele a possibilidade real de felicidade. Ele nos faz sentir amor apenas com a simples ideia de que a pessoa amada existe. E que, também, nos ama. Mesmo que não estejamos naquele momento fisicamente próximos. A simples ideia da existência do outro já é razão de sentir alegria.

Não existe sentimento de posse. Existe desejo. Não existe obrigação. Existe vontade. Cada encontro acontece porque o desejo impulsionou. Porque trás prazer, felicidade. Trás alegria, amor.

O prazer de se sentir o objeto de desejo do nosso objeto de desejo é indescritível, é o momento mais mágico da vida. É a felicidade verdadeira.

O amor sem posse, apenas pela alegria de amar e de sentir prazer com o prazer do outro e felicidade com a felicidade do outro.

Edmir Silveira
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DESEJO



Lençóis de seda na cama
Sobre o fino véu
Rasga o céu infinito
Brisa no ar
Esvoaça véu

Envolvida

Nos contornos malicia
Movimentos em curvas
Silhuetas
Pulso de garras firmes

Seduzida

Delicados caminhos entreabertos
Rega água
Escorre gotas
Derretimento em pulsão
De solo fértil

Entregue

Cavidades completas em novas formas
Ondas pulsantes
Em mar revolto
Transbordamento ofegante
Lambuza mel

Possuída

Patrícia Azevedo
 
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