2c6833b0-77e9-4a38-a9e6-8875b1bef33d diHITT - Notícias Sou Maluca Sim!: abril 2017
terça-feira, 25 de abril de 2017 1 comentários

SINCRONICIDADE: A CIÊNCIA DAS COINCIDÊNCIAS



 “O mundo é um ovo” ou “Que mundo pequeno!” são expressões que certamente você já usou ou ouviu em algum momento. Essas expressões são usadas quando uma situação de coincidência acontece. Um encontro de surpresa com alguém que você conhece em uma cidade diferente da sua pode ser um exemplo de  coincidência. Mas o que aconteceria se soubéssemos que, na verdade, isso tem a ver com uma ciência chamada “sincronicidade”?

Mesma que pareça incrível, importantes pesquisadores estudaram e tentaram identificar as relações que podem existir entre dois fenômenos taxados como muito improváveis ou que parecem não ter conexão alguma. E não foram nomes muito desconhecidos os que tentaram dar alguma explicação para estes acontecimentos. Podemos falar de gente de renome, como Carl Jung, por exemplo, que inventou o termo “sincronicidade”.

“Uma vez é acidente, duas é coincidência, e três é ação do inimigo”.
– Ian Fleming –

O que é a sincronicidade?

Às vezes pensamos que o universo está nos enviando sinais quando acontecem coincidências que são muito surpreendentes. No entanto, para Jung, era simplesmente a sincronicidade, que poderia ser definida como a simultaneidade de diferentes eventos vinculados por um sentido que não é o da coincidência.

Ou seja, podemos resumir esta singular ciência em uma coincidência temporal de uma série de eventos (dois ou mais), que apesar de estarem relacionados entre si, não são influenciados um pelo outro. No entanto, existe uma relação de conteúdo.

Para tentar tornar isso mais fácil, imagine que você tem um bom amigo. Um dia, conversando com o seu pai, você fala para ele sobre essa amizade e comenta seu nome com ele, quem são seus familiares, etc. Assim, do nada, seu pai percebe que seu amigo tem uma relação familiar distante com a sua, porque o avô de seu amigo e a sua avó eram primos de segundo grau.

Observemos no exemplo que o fato de você e do seu amigo serem parentes distantes não tem nada a ver com a sua amizade e nem com como ela aconteceu. No entanto, há uma relação de conteúdo, mas não de coincidência.

Mais detalhes curiosos sobre a sincronicidade

Muitos autores estudaram ou falaram, inclusive sem saber, sobre essa peculiar ciência. Para Friedrich Schiller, por exemplo, o acaso surge de fontes profundas, por isso a coincidência não existe. No entanto, o surrealista André Bretón considerava a existência do acaso objetivo, quando seus desejos convergem com o que o mundo oferece.

Porém, de acordo com Jung, quando falamos de sincronicidade, nos referimos à união de acontecimentos internos e externos. Sendo assim, o indivíduo que vive determinados acontecimentos encontra sentido na unificação de ambos.

Apesar de acudirmos à metafísica para justificar estes acontecimentos, como pode ser o acaso ou a sorte, inclusive a magia, na realidade aconteceriam em forma de atração inconsciente. Uma atração inconsciente que faz com que as coisas aconteçam, pelo menos de acordo com o que Jung considera. Isso nos leva ao reconhecimento de padrões.

É por isso que esta teoria do autor, que nasce da psicanálise, choca-se com movimentos racionalistas e materialistas. Entretanto, o famoso psicólogo estabelecia épocas mais ou menos propícias para o aparecimento das sincronicidades..

O reconhecimento de padrões

Cabe destacar que Jung estabelecia a sincronicidade ou ocorrência como uma busca de padrões reconhecíveis. Por essa razão, segundo o psicanalista, fases após a morte de pessoas queridas ou mudanças no trabalho provocam uma maior energia para a coincidência. Tudo isso se deve às mudanças provocadas em nós após essas situações, que nos levam a buscar padrões reconhecíveis que deem sentido a nossa busca. Assim, este impulso de reconhecimento que parece que todos nós temos, é a base da sincronicidade.

De acordo com alguns estudos, em momentos de elevada quantidade de dopamina no cérebro, caso de situações estressantes ou de grande profundidade emocional, nós tendemos ao pensamento mágico. Porém, essa magia, que seria a coincidência, é na realidade a sincronicidade.

No entanto, não se deve desprezar a necessidade de busca por padrões. Isso é algo natural que temos na mente humana desde o tempo das cavernas. E mais, este tipo de pensamento está ligado à anedonia, cuja inexistência poderia provocar a incapacidade de sentir prazer. Ou seja, essa é, na realidade, uma habilidade que nos ajudou a sobreviver durante milhares de anos.

“Não acredito na coincidência nem na necessidade. Minha vontade é o destino”.
– John Milton

Então não pense na loucura da coincidência e do acidente. Somos propensos a procurar padrões e, em muitas ocasiões, nosso cérebro lida com essa informação de forma inconsciente. Entretanto, é um mecanismo valioso que nos ajuda a tomar decisões. Talvez a magia da coincidência não exista, mas pode ser bonito e útil pensar que sim.
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MIGRAÇÃO E REFUGIADOS



 “Acontecerá algo terrível antes de se encontrar um equilíbrio.”

- Umberto Eco

A entrevista dele ao Expresso era sobre livros, mas Umberto Eco falou sobre mais - incluindo este tema que o preocupa há muito, o da migração e dos refugiados. Recuperamos o que ele enunciou em abril agora que estamos despertos para uma tragédia que se estende não há dias nem semanas, mas há meses e quase anos. É uma reflexão dura: “ A Europa irá mudar de cor. E isto é um processo que demorará muito tempo e custará imenso sangue”. Mas também com fé no outros homens - nos que estão e nos que vêm: “A migração produz a cor da Europa”

Entrevistámos Umberto Eco no seu apartamento em Milão. Atendeu o intercomunicador e abriu a porta de casa, revelando a sua alta figura e a cordialidade que seria uma constante durante a conversa. De eterno cigarro apagado entre os dedos - desistiu de fumar mas não se desfez do gesto - ofereceu café e sentou-se na sua poltrona de cabedal. Falámos da infância, da escrita, de jornalismo - central em "Número Zero", o novo romance que saiu em maio em Portugal. Mas falámos também da Europa e dos longos processos migratórios que a configuraram. Para Eco, estamos a atravessar um deles e não será um caminho fácil nem desprovido de desafios. Eis alguns excertos da entrevista.

1. CULTURA NÃO QUER DIZER ECONOMIA
"Desde a juventude que sou um apoiante da União Europeia. Acredito na unidade fundamental da cultura europeia, aquém das diferenças linguísticas. Percebemos que somos europeus quando estamos na América ou na China, vamos tomar um copo com os colegas e inconscientemente preferimos falar com o sueco do que com o norte-americano. Somos similares. Cultura não quer dizer economia e só vamos sobreviver se desenvolvermos a ideia de uma unidade cultural."

2. UM GRANDE ORGULHO
"Quando atravesso a fronteira sem mostrar o passaporte e sem ter de trocar dinheiro, sinto um grande orgulho. Durante dois mil anos, a Europa foi o cenário de massacres constantes. Agora, esperemos um bocado: mesmo que o mundo hoje seja mais veloz, não se pode fazer em 50 anos o que só fomos capazes de fazer em dois mil. E mesmo indo nessa direção, não sei como os países europeus poderão sobreviver: estão a tornar-se menos importantes do que a Coreia do Sul, e não apenas do ponto de vista industrial. Culturalmente, está-se a traduzir mais livros lá do que em França."

3. A COMISSÃO DAS PESSOAS SÁBIAS
"Entidades nacionais como Portugal ou Itália tornar-se-ão irrelevantes se não fizerem parte de uma unidade maior. Mas nada disto se constrói em pouco tempo. O problema da Europa é estar a ser governada por burocratas. Uma vez, uma instituição europeia - não me recordo qual - decidiu criar uma comissão de pessoas sábias. Estava lá Gabriel García Márquez, Michel Serres e eu próprio. Os outros convidados eram burocratas europeus. Cada reunião servia para discutir a ordem de trabalhos da reunião seguinte. Aquilo era o retrato da Europa: pessoas a governarem uma máquina autorreferencial. Porém, é o que temos. É como a democracia segundo Winston Churchill: um sistema horrível, mas melhor do que os outros."

4. UM PROCESSO QUE CUSTARÁ IMENSO SANGUE
"Estou muito preocupado, não por mim, mas pelos meus netos. Escrevi-o há 30 anos: o que se passa no mundo não é um fenómeno de imigração, mas de migração. A migração produz a cor da Europa. Quem aceitar esta ideia, muito bem. Quem não a aceitar, pode ir suicidar-se. A Europa irá mudar de cor, tal como os Estados Unidos. E isto é um processo que demorará muito tempo e custará imenso sangue. A migração dos alemães bárbaros para o Império Romano, que produziu os novos países da Europa, levou vários séculos. Portanto, vai acontecer algo terrível antes de se encontrar um novo equilíbrio. Há um ditado chinês que diz: 'Desejo-te que vivas numa era interessante'. Nós estamos a viver numa era interessante."

5. A ÉTICA DA REPÚBLICA
"Não se deve perguntar porque haverá derramamento de sangue: é um facto. Vejamos a França. É o caso típico de um país que acreditou poder absorver a migração. Porém, por um lado, impôs logo aos migrantes a ética da República; e, por outro, arrumou-os nos bairros remotos. É muito raro encontrar um migrante a viver ao lado de Notre-Dame."

6. INTEGRAÇÃO E ÓDIO
"Porque é que um muçulmano em França se torna fundamentalista? Acha que isso aconteceria se vivesse num apartamento perto de Notre-Dame? A sua integração não foi completa nem poderia ser. De novo, é um facto. A migração a longo prazo pode produzir integração mas a curto prazo não, e a não-integração produz uma reação, que pode ser de ódio."

7. NO SENTIDO EM QUE HITLER NÃO ERA A CRISTANDADE
"O inimigo é sempre inventado, construído. Precisamos dele para definir a nossa identidade. A extrema-direita italiana acredita que são os ciganos ou os migrantes pobres, ou o Islão em geral, ainda que o Islão possa assumir muitas formas. Ora, o Estado Islâmico não é o Islão, no sentido em que Hitler não era a cristandade."

8. RESPOSTA: NÃO
"A Idade Média não existe, porque tem dez séculos. É uma construção artificial. De qualquer forma, vemos que é uma época de transição entre dois tipos de civilização. E provavelmente - falávamos de migração - estamos numa era de transição, que é sempre difícil. A questão é: houve alguma era que não fosse de transição? Resposta: não. Mas houve momentos em que cada um vivendo no seu país não se apercebia de que havia uma transição a acontecer no mundo."

9. CHAMA OS BOMBEIROS
"Qual o papel do intelectual hoje? Não dar muitas entrevistas! [risos] Falando a sério, penso que é duplo. Primeiro, é dizer o que as outras pessoas não dizem. Não é dizer que há desemprego em Itália. Segundo, não é resolver os problemas imediatos, é olhar para a frente. Se um poeta está num teatro e há um incêndio, não se põe a recitar poemas: chama os bombeiros. Pode é escrever sobre incêndios futuros."

10. PERDA DO PASSADO
"É impossível pensar o futuro se não nos lembrarmos do passado. Da mesma forma, é impossível saltar para a frente se não se der alguns passos atrás. Um dos problemas da atual civilização - da civilização da internet - é a perda do passado."

Fonte: Expresso/sapo.pt (2015).  Entrevista com UMBERTO ECO
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“O PORTUGUÊS DO BRASIL VAI DOMINAR”



O romancista moçambicano afirma que o poder que o país tem deexportar cultura está contagiando todos os países de língua portuguesa


A língua portuguesa está se transformando, muito por causa do papel das nações emergentes lusófonas da África. Nesta entrevista a Luís Antônio Giron da revista Época, concedida em São Paulo, o escritor moçambicano Mia Couto, diz que, apesar da renovação de linguagem que a África apresenta hoje, o Brasil reúne condições para se tornar a nação dominante do ponto de vista cultural e linguística. Em relação aos países africanos, Couto diz que é preciso distinguir entre independência e descolonização – e que a África ainda não enfrentou o segundo termo.

Para ele, o Brasil serviu como modelo para a formação da identidade nacional das nascentes nacos lusófonas da África, mas pelo lado da mistificação, o que se esgotou rapidamente. Ele afirma que o Brasil virou as costas para a África.

Luís Antônio Giron – O uso do português em várias nações gerou diferenças de vocabulário e uso. O português está se transformando a ponto de se desfigurar?

Mia Couto – O português é uma língua viva, não porque ela seja especialmente diferente. Mas ela viveu essa coisa que se chama Brasil. Vive a África que está se apropriando dela com cinco países africanos que o fazem de modo diverso. É evidente que é preciso um cuidado para que a língua continue com uma identidade e um fundamento. As diferenças do português em vários países não são sentidas como um problema. Salvo alguns intelectuais conservadores do Brasil e de Portugal, que têm um certo gosto de se apropriar da pureza da língua. De resto, existe nos países lusófonos até um gosto de visitar essas diferenças. O que está acontecendo de forma inelutável é que a variante brasileira será dominante. O português do Brasil vai dominar.

Luís Antônio Giron – Por quê?

Couto – Por causa do tamanho do Brasil e da capacidade que o país tem de exportar a si próprio, por via da novela de televisão. Há coisas que estamos pegando de vocês brasileiros que vocês nem notam. É o caso da expressão “todo mundo”. É uma expressão típica brasileira. Nos outros países dizemos “toda gente”. Mas hoje “todo mundo” é comum em Moçambique. Outra palavra é cambalacho... Deve ser uma expressão africana.

Luís Antônio Giron – “Cambalacho” é um termo do lunfardo, da gíria portenha, que incorporamos... É como “bacana’, do lunfardo argentino. Há uma troca. Eu lamento que não saibamos mais sobre as formas de falar da África. O Brasil exporta, mas não sabe absorver o que vem de fora.

Couto – O Brasil quis fazer uma batalha dentro da própria língua para se tornar independente de Portugal. Houve a afirmação de uma identidade própria que se expressa na língua. O Brasil sofre do peso de seu próprio tamanho. Sofreu um processo autocêntrico, que agora está sendo repensado e está mais propenso a escutar aquilo que vem de Moçambique, Angola e Timor Leste.  Ele tem muita coisa da África, mas é antigo. Agora o país importa o vocabulário do Brasil. Nós africanos temos que ser mais ativos e mais criativos nessa troca com o Brasil.

Luís Antônio Giron – Na palestra que o senhor fará no Brasil, o senhor chama atenção para o perigo de o pensamento se fechar em si mesmo. Como mantê-lo aberto?

Couto – As fronteiras são vitais, todo organismo cria seus próprios limites. As fronteiras na natureza são feitas para intercambiar. Mas na civilização as fronteiras são feitas para fechar, para enclausurar. A grande aprendizagem nossa é se mantiver em uma fronteira que crie pontes. O grande problema hoje é que as fronteiras criadas entre culturas, civilizações e povos nascem para fechar. As fronteiras são construídas a partir do medo do outro, do desconhecido. O outro é apresentado como uma ameaça, aquele que tem uma outra política, uma outra religião.

Luís Antônio Giron – O medo é também um problema político?  Erguer fronteiras – políticas, culturais, linguísticas e espirituais – é uma necessidade humana?

Couto – É uma necessidade humana, mas não da maneira como fazemos. Tivemos outras maneiras. Há culturas de hoje que são abertas, feitas para o convívio, para a partilha. Na África, muitas dessas fronteiras são vivas. As fronteiras se fecham às vezes. O fato de serem países em que o Estado homogêneo e todo-poderoso não existe tornam as fronteiras ávidas de deixarem de ser fronteiras. É uma condição diferente da dos países europeus, árabes, asiáticos e nos Estados Unidos. O medo hoje é bem distribuído, numa narrativa que contaminou tudo.

Luís Antônio Giron – Por que a Europa está caminhando na direção da exclusão do imigrante e de sua transformação em mão de obra.

Couto – Isso acontece como uma maneira de ocultar os problemas internos que essas sociedades têm. É uma forma de escamotear os conflitos internos desses universos. Existem razões que tendem a culpar o outro, sempre o estranho.   É como as famílias que recomendam às crianças que não falem com estranhos. Quando, na realidade, as grandes violências são cometidas dentro da casa. Essa versão começa a ser inculcada desde a infância.

Luís Antônio Giron – Como o senhor analisa a tribalização do mundo?

Couto – A tribalização da Europa acontece ao contrário do que aconteceu na África. Noto isso em Moçambique, que se manteve isolado por longo tempo. Mas era um país sentado à beira da praia, esperando pelos navios.  Tudo se deve à enfermidade dos mecanismos de pensamento, que tendem a criar essências, como algo que está fora da história, que faz parte da natureza. Assim, criam-se os estereótipos, como se dá no Brasil: os brasileiros do Sul são trabalhadores por natureza, os do Nordeste são menos trabalhadores, como se fosse uma coisa que está na massa do sangue. Como se tivéssemos que arrumar o mundo em um monte de gavetas, em vez de compreender que cada pessoa é uma pessoa e temos de procurar uma identidade.

Luís Antônio Giron – O senhor tem uma expressão que pode soar politicamente incorreta: “Eu sou mulato não das raças, mas de existências”.

Couto – É difícil de conviver com a complexidade que cada um tem dentro de si e o que cada outro é. Apesar da tendência de categorizar e simplificar, há qualquer coisa que escapa à categorização. É esta coisa que escapa que é o mais bonito, é o que quero fixar.

Luís Antônio Giron – O senhor afirma que a atitude politicamente correta é prejudicial às sociedades pós-coloniais como Brasil e Moçambique. Por quê?

Couto – Porque a mentalidade politicamente correta nasce de uma atitude religiosa do norte da Europa, da procura daquilo que é puro do ponto de vista moral, liberto de outras contaminações. Ela tenta resolver o mundo pela palavra. Pode soar poética, mas é uma coisa da religião protestante, que apoiava tudo na palavra divina, no poder do livro. É uma operação que obriga a pessoa a pensar duas vezes antes de dizer “favela” ou “comunidade” – um eufemismo que também tem origem religiosa. Tenho de policiar minha expressão de maneira que ela pareça certa. No fundo, não se resolve aquilo que é mais importante: mudar a realidade para que eu não tenha medo das palavras nem ter de pensar cinco vezes se eu devo dizer “negro” ou “preto” ou “afrodescendente”. O engraçado é que isso varia. Nosso foco tem que ser outro. É preciso deixar de pensar no vestuário superficial da palavra e ir mais fundo, investigar o próprio pensamento.

Luís Antônio Giron – O senhor não acha que, mesmo assim, em nome da ética e do respeito, algumas palavras precisam ser substituídas?

Couto – Há casos em que é preciso alterar o uso das palavras. A conotação que liga o negro ao negativo, ao sinistro.

Luís Antônio Giron – Como é a mentalidade politicamente correta na África?

Couto – Na África, essas coisas quase não existem, e quando ocorrem é por influência dos Estados Unidos. Essa coisa da afirmação positiva, das costas, nunca existiu. Mas agora já começa a haver um movimento a favor de introduzir um mecanismo de acerto por imposição de uma cota.

Luís Antônio Giron – O senhor é a favor das cotas?

Couto – Não tenho simpática nenhuma pelas cotas. A cota avilta quem recebe e não diz nada de quem a dá. É preciso que não haja cotas, e sim que se resolvam os problemas radicalmente.

Luís Antônio Giron – Como seria resolver esses problemas em um mundo regido pelo mercado?

Couto – Não sei se é tão inviável assim. Por que não fazemos outra vez uma revolução? Não sei como. Para já o que é preciso não aceitar as cotas. Parecem soluções, são panaceias. Na África, as elites reproduziram o discurso do orgulho nacionalista e acabaram por reproduzir também os mecanismos de repressão a seu próprio povo. Em relação à realidade anterior, colonial, nada mudou. Processou-se apenas uma mudança de turno, as elites substituíram o antigo poder colonial europeu. As elites africanas indigenizaram o próprio colonialismo. É um sistema. É como se o oprimido se tornasse rapidamente opressor.

Luís Antônio Giron – Os países europeus experimentam hoje uma situação que África e Brasil já lidam há séculos: a da identidade múltipla. Com tantas identidades, a tendência não é a diluição? Ou o multiculturalismo é a solução para um mundo em crescente diversidade?

Couto – Não gosto do conceito e da palavra multiculturalismo. É preciso considerar o que cada um de nós tem por dentro. Ninguém é feito de uma cultura só. Isso não existe hoje. Eu dei aulas como biólogo e eu mostrava aos meus alunos que eles não são um indivíduo, mas uma simbiose de indivíduos com identidades completamente diversas, como bactérias, fungos e vírus que não estão vivendo com eles, mas são eles. A aceitação de que somos tão diversos é difícil. Aí os alunos achavam estranho e diziam: “Bactérias? Então eu sou bactéria?” Gosto de tudo o que a ciência propunha para derrubar a ideia de que somos um produto divino e puro foi absorvida. Quanto aos europeus, eles acreditam que defendem uma fortaleza, que é o centro histórico da civilização. Isso foi manipulado para que eles pudessem conviver com outras culturas, aí o multicultralismo. Mas a verdade é a convivência é pacífica, mas cada um tem a sua cultura separadamente.  Quando o ponto é que as culturas têm que se misturar e se tornar uma simbiose. Um pouco como aquilo que o Brasil fez: incorporar suas diferentes matrizes.
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Luís Antônio Giron – No Brasil isso acontece em um plano mais ideal que real.

Couto – Sim, é mais o que o Brasil gostaria que acontecesse do que acontece. Os brasileiros conseguiram ir mais longe que quaisquer outros povos em fundir as religiões, fazer sincretismos, absorver as coisas que vieram da África e da Europa. Mas a sociedade brasileira é muito estratificada, é muito hierarquizada. E hoje acontece no Brasil um discurso de afirmação que dita que se sentir superior é se sentir europeu. O processo de imposição da língua, por exemplo, se deu pela violência. No Brasil ou em Moçambique, a língua portuguesa foi imposta. Há mais de 20 línguas diferentes em Moçambique. Todo mundo pode hoje falar sua língua, mas não é uma língua de prestígio, que pode chegar ao livro, como o português. O português é uma violência sutil hoje, mas continua presente.

Luís Antônio Giron – O poder do pensamento sistemático ocidental é arrasador. O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss veio ao Brasil e descreveu a complexidade do pensamento selvagem. Mas esse pensamento é reduzido a um objeto de estudo antropológico. O que seria uma redução.

Couto – O problema é que as pessoas que vivem esse pensamento aprendem rapidamente a se envergonhar do que elas pensam e praticam o suicídio epistemológico. Eles se encarregam eles próprios de matar os fundamentos de seu pensamento. Quando é objeto de uma coisa exótica, com sua graça, que serve a uma disciplina de etnografia e antropologia, mas não de alguma coisa que pode ser incorporada na modernidade. E aí o pensamento selvagem não tem lugar. Só tem lugar como objeto de museu.

Luís Antônio Giron – Os artistas tentaram alterar a imagem da África, não? É o caso de Picasso e sua tela Les Demoiselles d’Avignon...

Couto – A arte vai à frente, tentando abrir um caminho, de uma maneira muito modesta. Mas isso depois tem consequências. A arte e a literatura podem criar um desejo de que o mundo pode ser diverso. É um trabalho quase psiquiátrico o do artista, o de fazer as pessoas perderem o medo do outro e do desconhecido. Não só isso, mostrar que aqueles que a gente tema podem manter conosco uma relação de solução e de enriquecimento. A arte pode propor uma relação de namoro.

Luís Antônio Giron – Como enfrentar os problemas culturais e educacionais nos países africanos?

Couto – Hoje há muito mais gente em escola. Não são escolas que pensem seu próprio perfil e no sentido da utilidade. Estamos defasados em relação às grandes demandas do mundo. Falta qualificação em áreas no domínio técnico. Portanto, estamos criando uma situação em que há muita gente escolarizada e pouca preparada para enfrentar o mundo. A apreciação da África tem que mudar, e ler literatura contemporânea da África ajuda nisso. A África não exporta só jogador de futebol e dançarino. Exporta pensamento, a capacidade de produzir beleza.

Luís Antônio Giron – O Brasil hoje voltou a ser modelo para a África?

Couto – O presidente Lula torou o Brasil mais próximo. Até então o Brasil estava de costas viradas para a África. Na relação entre o Brasil e África, pode-se dizer que há um pré-Lula e um pós-Lula. Com Dilma, existe uma continuação. As empresas brasileiras foram levadas para a África e nossa relação se libertou do laço político. A Odebrecht, a Vale e Andrade Gutierrez estão presentes na África e estabeleceram uma relação que não depende mais da política. São empresas que criam relações. A Vale tem milhares de funcionários brasileiros que vivem em Moçambique, nas mais diferentes cidades. E isso cria qualquer coisa próxima. Eu lembro que anos atrás eu cheguei a um hotel, os moçambicanos se cumprimentavam à maneira indiana, com “Nemastê”. Eu não via televisão e achei tudo estranho. Só depois que soube que era por causa de uma novela, O caminho das Índias, que os brasileiros estavam vendo no hotel, e que contaminaram todos. Ali eu vi a globalização: os africanos se cumprimentando à maneira indiano por causa de uma novela brasileira.

Luís Antônio Giron – Como está a literatura moçambicana hoje?

Couto – Há uns cinco escritores interessantes e que se projetam mundialmente. O fato é que vivemos uma estagnação durante a guerra civil, de 1977 a 1992. A escola que ainda cultivava a literatura morreu. Hoje assistimos aos meninos que estão abraçando a poesia e o conto, e estou muito otimista.

Luís Antônio Giron – Por que o senhor nunca saiu de Moçambique e trocou Maputo por Lisboa?

Couto – Isso acontece mais com os africanos de língua inglesa do que os lusófonos. Lisboa é uma capital atraente mas não é Londres nem Paris. Nunca me ocorreu fazer isso. Não era um opção. Se eu tivesse de sair de Moçambique, eu carregaria Moçambique comigo. Minha família era muito nuclear. Fui visitar Lisboa quando adulto. Meus pais e meus irmãos estão lá. É como se Adão e Eva estivessem nascido em Moçambique.  Outro mundo era coisa estranha. O Brasil sofreu um processo autocêntrico, que agora está sendo repensado.

Luís Antônio Giron – O senhor diz que a literatura brasileira não é conhecida na África.  Como o senhor faz para tomar contato com ela?

Couto – Quando estou no Brasil faço minhas incursões. Gosto de algumas coisas que estão sendo feitos, como o Milton Hatoun, que é uma referência para mim. Um livro que me marcou foi O leite derramado. Porque eu queria ter feito esse livro, a memória de um velho que está no limite do que podemos acreditar, contando sua história e a de seu país. Era o meu projeto. Eu me reconheci no livro. Estou tentando encontrar uma maneira que seja minha.

Luís Antônio Giron – O senhor está escrevendo um romance?

Couto – Sim, ainda não tem título. É a história de um imperador, Gungunyana, um resistente contra a ocupação colônia, ele reinou de 1870 a 1895. Portugal precisava de capturá-lo para manter seu território colonial. Eu quero contar a história dele, mas não como um romance histórico, mas através de uma tradutora, como um elo entre o poder colonial e a resistência. Ela foi levada a Lisboa com Gungunyana. Ele morreu nos Açores, enterrado no mar como diz a personagem. É uma tentativa de reabilitar um personagem de um tempo que foi mistificado.

Luís Antônio Giron – O que o senhor aprendeu com os escritores brasileiros?

Couto – Eu vim beber no Brasil. Sou mais influenciado pelos poetas brasileiros, como Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. A minha casa vivia cheia de poesia, porque meu pai, Fernando Couto, era vidrado em poesia brasileira e francesa. Eu tinha discos da poesia jogral de São Paulo, que hoje ninguém mais conhece. Mas me marcou escutar poemas como “Essa nega fulô”, de Jorge de Lima. Poesia era mais som do que leitura para mim. Em minha casa viviam essas vozes. Eu nem me dava conta de que poesia vinha do livro. Comecei a ouvir música brasileira na nossa varanda. Meu pai ouvia também as canções praieiras do Dorival Caymmi e aquele jeito doce de cantar me marcou desde menino. Depois vieram João Cabral de Melo Neto e Guimarães Rosa. Quando publiquei Vozes amanhecidas, em 1987, eu sofria influência do Guimarães Rosa, embora nunca o tinha lido. Depois o escritor Luandino Vieira, que transgredia a norma incorporando os sotaques de Luanda, chamou atenção em um entrevista que era influenciada por  Guimarães Rosa. Eu consegui uma fotocópia do conto “A terceira margem do Rio” e finalmente li. Quando escrevi o segundo livro de contos, Cada homem é uma raça, aí já era totalmente influenciado em Guimarães Rosa. Os contos dele são romances condensados.

Luís Antônio Giron – O senhor se encantou com Rosa pelo fato de ele experimentar e manipular a linguagem?

Couto – Sim. E era uma coisa que fazíamos intuitivamente em Moçambique, como deve ser quando incorporamos uma língua. Precisamos torná-la íntima, namorar com ela no chão e criar um novo ser.  O Rosa faz parte de um contexto histórico em que havia a necessidade de criar o sertão, uma fronteira pura em que o mundo não chegava para contaminar. É a construção do território da palavra, contra a lógica do tempo, isso me parecia importante.

Luís Antônio Giron – Qual a sua principal influência literária?

Couto – Venho da poesia. Li poesia francesa, como os surrealistas Paul Éluard e Jacques Prévert,  os petistas da resistência espanhola como Miguel Hernandez ou García Lorca. Vivíamos como se a poesia fosse um habitante da casa.  Fernando Pessoa é impossível de contornar. Ele é infinito. Na adolescência ele era o meu guia. Ele é o maior. Ele me ajudou a me resolver internamente, naquele momento que temos de nos confrontar com escolhas e criar uma identidade reconhecível, simples e única. Ele foi mais que uma influência literária. Foi filosófica.  Ele me ensinou a ser múltiplo e plural. Ele é o verdadeiro autor de autoajuda. 

Luís Antônio Giron – O quanto de poesia tem a sua obra de ficção? Há diferença para o senhor entre poesia e prosa?

Couto – Eu estou sempre lá na poesia. Não vejo diferença, faço prosa e poesia. Quando decido contar uma história, romance ou conto, acontece em poesia, só. É um estorvo. Quero contar uma história e ter a disciplina de romancista e lá está a poesia. Agora, olhando para a chuva na janela, a poesia é uma chuva que limpa o céu e torna a alma limpa. Vou para o romance sem saber como vai ser a história. É como se a poesia me ajudasse de olhar a história.

Luís Antônio Giron – De onde o senhor tira suas histórias? E como as compõe?

Couto – Conto uma história a partir da sugestão do real. Mas tenho um pudor que me faz não reproduzir uma história real. Tiro de conversas de pessoa. Isso vem da capacidade de escutar os outros, há sempre uma história que está oculta. É um exercício que faço desde menino. Eu me sentava diante da casa e os meus pais me chamavam de muito devagar. Eu era muito sossegado. E assim eu observava.  Contar história é uma coisa que parte do não saber. É uma ignorância intencional. Ela me torna disponível para escutar vozes dos personagens. O que eu gosto é criar personagens. Eles têm de ser suficientemente sedutores para que eles possam me escutar também. É um jogo. Eu sei que é romântico o modo como olho o meu próprio modo de produção. Mas é assim que funciona.

Luís Antônio Giron – O senhor é romântico, não?

Couto – Sou um romântico que briga com a realidade, mas não lhe dá tanta importância assim como os românticos do passado. É que é um modo de subverter as coisas que eu aprendi do [líder revolucionário] vietnamita Ho Chi Minh. Ele escreveu uma poesia delicadíssima quando estava na cadeia. Perguntaram a ele como era possível ele ter escrito poesia tão singela numa posição tão dura. A resposta dele é um lema para mim: “Eu desvalorizei as paredes”. No fundo ele nunca esteve preso. Estamos presos a esta coisa que chamamos realidade, há uma ditadura que diz que o mundo tem que ser assim. Mas o mundo não é assim. Há outros mundos possíveis.

Luís Antônio Giron – Qual o seu método de trabalho?

Couto – Estou sempre anotando. Meus bolsos estão cheios de papéis e isso me atrapalha. É um caos permanente que depois pede que eu tenha um retiro para eu poder dar uma ordem a isso. Escrevo com a mão. Anoto em cinco, seis cadernos que perco, e depois escrevo no computador. O caos faz parte de mim.

Luís Antônio Giron – Que conselhos o senhor daria a um escritor jovem ou iniciante?

Couto – Meu conselho é que ele não fique intimidado pelo desejo de escrever bem. O escritor não é aquele que escreve bem só. Estiver bem escrevem muitos. É que ele procure a história, aquilo que é único, que ele deixe se surpreender com a permanência da infância nele. Não ter medo da infância.

Luís Antônio Giron – Experimentar a linguagem não está fora de moda?

Couto – Eu mesmo não me contento mais com isso. Estou buscando uma via, quero me surpreender, quero ousar. Por via da poesia quero manter uma relação de surpresa com a linguagem. Mas a busca da palavra transgredida estou abandonando. Há uma diferença em relação a isso com o tempo. Minha literatura ficou mais contida.

Luís Antônio Giron – O senhor enxerga alguma coisa boa na literatura de entretenimento?

Couto – Eu não gosto disso. Livros de aeroporto eu raramente compro. Eles são anunciados como os mais vendidos. Não é um estigma, mas eu procuro aquilo que é mais experimental e feito com um propósito que não seja de venda.

Luís Antônio Giron – É difícil ser escritor sem marketing, seja o pessoal, seja os das agências literárias e editoras. É possível viver sem isso?

Couto – A negocia ação que você pode fazer com o mercado é no sentido de não alterar o território impoluto da produção artística. Há um território que tem que ser preservado. No meu caso, tenho sido capaz de manter isso. Não faço por cálculo nem administro o que eu sou ou o que eu faço que não seja pelo trabalho artístico.

Luís Antônio Giron – As mudanças tecnológicas – como internet, e-books e tablets – estão alterando a forma de fazer literatura – e seu estilo?

Couto – Não sou muito capaz de entrar nesse mundo. Mas entrei o suficiente para que ele me ajudam. As tecnologias são escravas, ferramentas que eu uso, mas mantenho o meu universo interior.

Luís Antônio Giron – Os blogs provocaram uma renovação literária significativa ou repetem chavões?

Couto – Sim, a literatura se tornou mais acessível, aberta e imediata. Democratizar os autores é um universo completamente novo.

Luís Antônio Giron – Qual o futuro da ficção num mundo cada vez mais fascinado por produtos de alta tecnologia? A leitura não está prejudicada? A atenção não se dispersa?

Couto – A tecnologia não é ameaça. O pior é a incapacidade dos jovens de produzir histórias. Ele precisam ser capazes de ser autores das próprias histórias. Meu medo é que os jovens passem a ser grandes consumidores e não autores de um narrativa das suas próprias fantasias.  E isso começa na linguagem funcional e utilitária. Aquilo que está na língua e é fonte de enorme prazer e invenção da pessoa, essa parte está muito esquecida.

Entrevista - MIA COUTO:
segunda-feira, 24 de abril de 2017 0 comentários

IDIOTAS DA RAZÃO


IDIOTAS DA RAZÃO


 (gente que nada entende de filosofia, mas acha que sabe de
alguma coisa porque é “interessado” ou viu um programa na TV sobre Sócrates)


sábado, 22 de abril de 2017 0 comentários

A INTELIGÊNCIA É AFRODISÍACA



O termo “afrodisíaco” remonta à deusa grega Afrodite, divindade atrelada ao amor como um todo, sendo atribuído a quaisquer substâncias tidas como estimulantes sexuais. Não existe comprovação científica de que haja relação entre o consumo delas e o aumento do apetite sexual, porém, o termo já se incorporou ao vocabulário popular, uma vez que é usado para caracterizar alimentos, produtos e características pessoais que incitam a libido das pessoas.

Inteligência conectada ao amor

Não dá para explicar direito o que nos atrai, o que realmente nas pessoas nos chama a atenção, mexendo conosco, com nossas emoções. Após termos uma certa convivência com alguém, muitas vezes acabamos sentindo algo a mais, sendo atraídos para além de mera amizade. Outras vezes, já na primeira vez que conversamos com uma pessoa, nós nos sentimos atraídos, sem conseguirmos explicar o motivo de fato.

Embora também possamos ser atraídos apenas visualmente, só de ver alguém que nos chame a atenção, mesmo de longe, ainda que nem tenhamos ouvido a sua voz, os sentimentos mais intensos, que nos embaralharão os sentidos, ocorrerão quando estivermos diante de alguém com quem possuímos certa convivência. Mesmo que apenas nos esbarremos com a pessoa pelos corredores da empresa e conversemos futilidades, a atração não se explica racionalmente.

Sem que precisemos recorrer a dados de pesquisa ou a argumentos científicos, certo é que a inteligência é um poderoso afrodisíaco, ou seja, pessoas inteligentes, intelectuais, escritores, acabam por se tornar atraentes para muitas pessoas. Alguém que transmita sabedoria e cultura, ainda que não possua atributos físicos, irá atrair muitos olhares, irá derreter corações por onde passar, simplesmente porque conteúdo não acaba, conhecimento ninguém nos tira – conhecimento atiça a libido.

Inteligência constrói o amor

Assim, a inteligência se nos apresenta como uma força inerente, que não envelhece, como se fosse algo que vem junto com a pessoa e ali ficará para sempre.

É algo líquido e certo, pois transmite segurança, proteção e, portanto, atrai. Pessoas inteligentes conseguem buscar soluções, resolver problemas, rir de si mesmas, o que faz toda a diferença em qualquer tipo de relacionamento. Pessoas inteligentes assim permanecem com a passagem do tempo, que não lhes rouba o que possuem de mais precioso.

Enfim, a inteligência é algo com o que sabemos que poderemos contar, sem data de validade, algo permanente e imutável, algo que somente se amplia. E apenas quem é inteligente o bastante se coloca no lugar do outro, entendendo o que o compromisso afetivo requer, o que fere o semelhante, o que alimenta o amor verdadeiramente compartilhado, para além dos lençóis e das aparências vãs.

 Marcel Camargo
sexta-feira, 21 de abril de 2017 0 comentários

OXITOCINA: COMO AGE O HORMÔNIO DOS ABRAÇOS



Com certeza você já ouviu falar da oxitocina, um hormônio associado a muitos dos nossos gestos de carinho, como os abraços. Sua fama é bem merecida. Trata-se de um achado científico muito valioso, que confirma uma coisa que todos sempre soubemos: os abraços confortam, curam e tornam a vida mais feliz.

Há algumas décadas descobriram que quando as mulheres dão à luz, secretam grandes quantidades de oxitocina. Este hormônio atenua a dor do parto e facilita que apareça um sentimento intenso de afeto pelo recém-nascido. Ele se traduz em desejos de abraçar, de dar beijos, de acariciar.

A melhor coisa veio depois. Com diferentes experiências que foram realizadas no mundo todo, foi possível comprovar que havia muitas outras situações onde a produção desse hormônio é ativado. Foi descoberto, por exemplo, que um abraço de 5 segundos a estimula; mas um de 20 segundos a ativa e equivale a um mês de terapia. Maravilhoso, não é mesmo? Mas a coisa não pára por ai. Os beijos que são percebidos como uma manifestação de amor também liberam oxitocina.

“Abraço você e as mexericas correm; beijo você e todas as uvas liberam o vinho oculto do seu coração sobre a minha boca.”
–Gioconda Belli–

O bem-estar emocional não é a única consequência positiva da liberação desse hormônio. Ele também incide decisivamente no bem-estar físico. Ajuda a adoecer menos e faz com que você se cure mais rápido, caso alguma coisa o afete. Fortalece o sistema imunológico e melhora o funcionamento do seu coração. É um pequeno prodígio químico que enriquece as nossas vidas.


Como ativar a oxitocina?


A oxitocina é um hormônio que é principalmente ativado através do contato físico. É facilmente liberado através dos abraços e dos beijos, mas também responde a outros estímulos, como uma palavra afetuosa ou mesmo um simples tapinha no ombro.

Todos temos na pele receptores chamados de corpúsculos de Meissner. Esses componentes nos permitem perceber a temperatura, a textura das coisas, as carícias, os beliscões, etc. Assim que recebem o estímulo, enviam um sinal para o seu córtex cerebral que interpreta qual o tipo de estímulo. Pois bem, temos mais destes corpúsculos nas mãos e nos lábios.

Em uma experiência realizada na Universidade da Califórnia, o funcionamento do cérebro de um grupo de voluntários foi monitorado através de ressonâncias magnéticas funcionais. Então foi possível comprovar que um abraço estimula notavelmente a produção de oxitocina. No grupo analisado, o abraço deveria ser de uma pessoa pela qual o indivíduo não tivesse atração sexual, ou paixão. Esta pesquisa também provou que quanto mais oxitocina, menos cortisol, que é o hormônio do estresse.

Dados que você não conhece sobre o hormônio dos abraços


Para compreender melhor o funcionamento do hormônio dos abraços, compartilhamos a seguir alguns dados que talvez você não conheça e que permitirão entender por que a oxitocina se transformou no foco de interesse de muitas pesquisas.

O hormônio dos abraços é produzido na glândula pituitária. É controlado pelas células do hipotálamo, que por sua vez controlam todas as glândulas do organismo. Em resumo: tem a ver com o corpo todo.

Quando a oxitocina é liberada, ela aparece no sangue. Se isso acontece, a amígdala desencadeia uma série de reações que se traduzem em um comportamento mais generoso e tranquilo.
Em 1998 descobriu-se que as crianças autistas têm níveis menores de oxitocina. Em 2003 foi feita uma experiência onde recebiam este hormônio por via intravenosa e se observou uma diminuição nas condutas automatizadas dessas crianças.

A oxitocina é um excelente antídoto contra os medos e as fobias sociais. Em outras palavras, se você está em uma situação social que lhe provoca temor, provavelmente um abraço de alguém que esteja próximo será reconfortante.

Os abraços contribuem para diminuir a tristeza e para regular a pressão arterial. Por outro lado, os beijos têm um efeito semelhante ao de um analgésico, mas além disso contribuem para queimar calorias e diminuir as rugas.

O hormônio dos abraços também contribui para a produção de mais serotonina e dopamina. Em palavras mais simples, reduz o estresse e ajuda a ter uma atitude mais positiva diante da vida.

A indústria farmacêutica permite que possamos aumentar nossos níveis de oxitocina através de fármacos. Mas, por que se privar dos abraços e dos beijos? Você não precisa procurá-los em nenhuma farmácia, são gratuitos, e além disso ajudam a quebrar as barreiras da solidão. Barreiras que muitas vezes são as causadoras das suas angústias.

Fonte: A mente é maravihosa
quinta-feira, 20 de abril de 2017 0 comentários

QUEM PENSA, RI



Quem raciocina com intensidade e violência tem que expressar com descongestionamento. Rir não é não ter razão. Não há relação entre a solenidade e a verdade. Deixemos a seriedade aos que têm ideais em que perdem tempo e jeito. Pensemos, e acabemos de pensar com uma gargalhada.

A dor do mundo é grande? Talvez seja. Como não há metro para ela, não sabemos. Mas, ainda que seja grande, curar-se-á aumentando-a com a nossa?

Pensa a sério mas não com sério. Pensa profundamente, mas não às escuras. Quer fortemente, mas não com as sobrancelhas.
Sinceros? Quantos gramas de verdade é que a vossa sinceridade pesa?

Quem pensa, ri; só não ri quem só faz cara que pensa.
Ri, bruto!

 Fernando Pessoa
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A MELHOR COMPANHIA



Considero saudável estar só na maior parte do tempo. Estar acompanhado, mesmo pelos melhores, cedo se torna enfadonho e dispersivo. Adoro estar só. Nunca encontrei um companheiro tão sociável como a solidão.

Estamos geralmente mais sós quando viajamos com outros homens do que quando permanecemos nos nossos aposentos. Um homem quando pensa ou trabalha está sempre só, deixai-o pois estar onde ele deseja.

A solidão não é medida pelas milhas de espaço que separam um homem e os seus congéneres.

O estudante verdadeiramente diligente de um dos enxames da Universidade de Cambridge está tão solitário como um derviche no deserto.

O agricultor pode trabalhar sozinho no campo ou nos bosques durante todo o dia, mondando ou podando, e não se sentir solitário porque está ocupado; mas quando chega a casa, à noite, não consegue sentar-se numa sala sozinho, à mercê dos seus pensamentos. Tem que ir onde possa «estar com as pessoas», distrair-se e ser compensado pela solidão do seu dia; e, assim, interroga-se como pode o estudante estar só em casa durante toda a noite e grande parte do dia sem se aborrecer ou sentir-se deprimido.

Mas ele não entende que o estudante, se bem que em casa, ainda está a trabalhar no seu campo, a podar os seus bosques, tal como o agricultor o faz nos seus e que, por seu turno, procura a mesma diversão e companhia que este, embora eventualmente de uma forma mais condensada.

Ouvi falar de um homem perdido na floresta e a morrer de fome e de exaustão ao pé de uma árvore e cuja solidão era aliviada pelas visões grotescas com que, devido à fraqueza física, a sua imaginação doente o rodeava, e que ele acreditava serem reais.

Assim também, graças à saúde e à força física e mental, podemos sentir-nos continuamente animados por uma companhia semelhante, se bem que mais normal e natural, e chegarmos à conclusão de que nunca estamos sós.

Henry David Thoreau in 'Walden'
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CIÊNCIA EXPLICA POR QUE RECLAMAR ALTERA NEGATIVAMENTE O CÉREBRO



Ouvir alguém reclamar, mesmo que seja você mesmo, nunca fez bem. Algumas pessoas dizem que reclamar pode agir como uma catarse, uma maneira de descarregar emoções e experiências negativas. Mas olhar com mais atenção ao que o ato de reclamar realmente faz para o cérebro nos dá motivos reais para lutar por um estado de espírito mais positivo e eliminar o mimimi de nossas vidas.

O cérebro é um órgão complexo que, de alguma forma, funciona em conjunto com a consciência para criar a personalidade de um ser humano, sempre aprendendo, sempre recriando e se regenerando. É ao mesmo tempo o produto da realidade e o criador da realidade, e a ciência está finalmente começando a entender como o cérebro cria a realidade.

Autor, cientista da computação e filósofo, Steven Parton examinou como as emoções negativas na forma de reclamações, tanto expressas por você mesmo ou vindas de outros, afetam o cérebro e o corpo, nos ajudando a entender por que algumas pessoas parecem não conseguir sair de um estado negativo.

Sua teoria sugere que a negatividade e a reclamação realmente alteram fisicamente a estrutura e função da mente e do corpo.

"Sinapses que disparam juntas, se mantém juntas”, diz Donald Hebb, que é uma maneira concisa de compreender a essência da neuroplasticidade, a ciência de como o cérebro constrói suas conexões com base em tudo a que é repetidamente exposto.

Negatividade e reclamações irão reproduzir mais do mesmo, como essa teoria destaca.

Donald Hebb explica ainda:

O princípio é simples: em todo o seu cérebro há uma coleção de sinapses (responsáveis por transmitir as informações de uma célula para outra) separadas por espaços vazios chamados de fenda sináptica. Sempre que você tem um pensamento, uma sinapse dispara uma reação química através da fenda para outra sinapse, construindo assim uma ponte por onde um sinal elétrico pode atravessar, carregando a informação relevante do seu pensamento durante a descarga.

… toda vez que essa descarga elétrica é acionada, as sinapses se aproximam mais, a fim de diminuir a distância que a descarga elétrica precisa percorrer (…). O cérebro irá refazer seus próprios circuitos, alterando-se fisicamente para facilitar que as sinapses adequadas compartilhem a reação química e tornando mais fácil para o pensamento se propagar.”

Além disso, a compreensão desse processo inclui a ideia de que as ligações elétricas mais utilizadas pelo cérebro se tornarão mais curtas, portanto, escolhidas mais frequentemente pelo cérebro. Isso explica como a personalidade é alterada.

No entanto, como seres conscientes, temos o poder de modificar esse processo, simplesmente ao nos tornarmos conscientes de como o jogo universal da dualidade atua no momento em que surgem os pensamentos. Nós temos o poder de escolher criar pensamentos conscientes de amor e harmonia, garantindo, assim, que o cérebro e a personalidade sejam positivamente alterados.

A empatia e o efeito em grupo
Vamos além do efeito que a reclamação tem sobre o próprio indivíduo. Essa linha de raciocínio científico se estende até a dinâmica entre duas pessoas, explicando cientificamente como a reclamação joga outras pessoas para baixo.

Assim, quando alguém derrama um caminhão de fofocas, de negatividade e drama em cima de você, você pode ter certeza que está sendo afetado bioquimicamente, diminuindo as suas chances ser feliz. A exposição a esse tipo de explosão emocional realmente provoca estresse. E já sabemos que o estresse mata. Portanto, reclamação e negatividade podem contribuir seriamente para a sua morte precoce.

Parton refere-se a essa perspectiva como “a ciência da felicidade”, e este comportamento de reclamação contínua oferece um estudo propício para a ligação entre o poder do pensamento e a capacidade de controle que uma pessoa pode ter sobre a criação de sua realidade tridimensional.

“… Se você está sempre reclamando e menospreza o seu próprio poder sobre a realidade, você não pensa que tem o poder de mudar. E assim, você nunca vai mudar. “

Science Of Us
quarta-feira, 19 de abril de 2017 0 comentários

SE VOCÊ MUDA, TUDO MUDA



Nossos pensamentos em grande medida criam nossas experiências, já que em um nível inconsciente tendemos a realizar o que esperamos que aconteça.

Acostumados a acompanhar as mudanças do mundo pelas notícias, podemos até acreditar que as coisas que acontecem são totalmente alheias a nós, e que a única coisa a fazer é aceitar as circunstâncias. Se são adversas, então só cabe esperar que mudem. Esta espera de tempos melhores evidencia um fato relevante: cada pessoa, com seus pensamentos e atos, tem um poder notável para configurar a própria realidade.

Como reza uma lei do mítico Hermes Trimegisto, “se você muda, tudo muda”. Em nossas mãos está decidir nossas expectativas e o tipo de relação que estabelecemos com o mundo, o que acaba definindo em grande parte como será nossa vida. Em um nível inconsciente, nossa mente guia nossos atos para permitir que aquilo em que acreditamos que acontecerá possa se tornar realidade. Consequentemente, a pessoa que está convencida de que vai seduzir alguém ou realizar uma venda, para dar dois exemplos, tem uma probabilidade muito maior do que quem tem a expectativa oposta.

É o que o sociólogo Robert K. Merton chamou de profecia autorrealizável. Nossa conduta está condicionada pelo que prevemos que vai acontecer. Assim, tomando um dos exemplos anteriores, o vendedor que está seguro de poder fechar a venda age com uma serenidade e uma convicção que dão a confiança necessária ao cliente para aceitar o acordo, enquanto que quem se programa esperando o fracasso agirá de forma duvidosa e nervosa, transmitindo essa mesma mensagem ao comprador, que ficará na defensiva.

Em seu livro ¿Y tú qué crees?, Eva Sandoval explica deste modo como age nossa programação para o sucesso ou o fracasso: “Há muitas pessoas que não veem seus desejos satisfeitos, que vivem um projeto falido depois do outro, que, apesar de fazer terapia, ler livros e assistir seminários, sentem como se estivessem no início. Chegam a pensar que têm má sorte, que lhes falta algo que outros têm... No entanto, a sorte delas raramente mudará a menos que tomem consciência das crenças limitadoras que condicionam suas vidas”.

Algumas dessas crenças limitadoras, ocultas no inconsciente mas ativas, seriam:

- Não mereço que as coisas funcionem bem para mim.

- Há outras pessoas muito mais capacitadas do que eu para isso.

- Se eu conseguir, os outros terão inveja e não gostarão mais de mim.

Há inúmeras mensagens de autoboicote como estas que condicionam o que dizemos e fazemos e que, portanto, nos trazem resultados negativos. Apesar disso, se tomamos consciência delas, temos a oportunidade de mudá-las e, assim, dar uma virada em nosso destino.

Há duas maneiras básicas de compreender nossa existência: no âmbito das carências (o que nos falta) ou no âmbito das oportunidades (aquilo que nos é oferecido). Dependendo do ponto de vista, estaremos permitindo que aconteça um ou outro tipo de coisas.

Segundo o escritor e palestrante Brian Tracy, “uma pessoa não obtém na vida o que quer, mas o que espera. Nunca podemos nos colocar acima das expectativas que temos de nós mesmos. E a boa notícia é que podemos construir as nossas próprias expectativa. Uma atitude de expectativa positiva é a marca da personalidade superior”.

Um enfoque favorável sobre os acontecimentos implica não só em confiar em si mesmo, mas também na disposição dos demais para colaborar conosco e nos ajudar em nosso caminho.

Por trás de muitas experiências de fracasso está a profecia autorrealizada de que não encontraremos apoio para o que nos propusemos ou, pior ainda, que o resto do mundo fará o impossível para tentar nos deter. Mas antes que isso aconteça, a mente inconsciente já se encarrega de dinamitar o caminho no sentido da realização de nossa meta. Assim, podemos dizer a nós mesmos e aos outros: ‘Está vendo? Eu disse que isso ia acontecer’.”

Essa atitude de autoboicote é inconsciente, mas suficiente para nos darmos conta de que agimos por meio dela para contornar nossa programação. Como afirma Brian Tracy em seu livro Way to Wealth (a caminho da riqueza, sem edição em português), “como só você pode dominar seus pensamentos, está no controle total de sua vida. Se quiser mudá-la no plano exterior, só tem de se por a trabalhar para mudar seu interior. Segundo as leis universais da mente, à medida que seu mundo interior muda, o mundo exterior também mudará para se adaptar ao primeiro”.

Um relato tradicional comentado por Paulo Coelho conta que Caim e Abel chegaram a um grande lago e se aproximaram da margem para contemplar suas águas.

— Tem alguém aí dentro — comentou Abel ao irmão, sem se dar conta de que estava vendo o próprio reflexo.

“Quando abro meus olhos ao me levantar toda manhã, não estou frente ao mundo, mas diante de infinitas possibilidades de mundos.”
COLIN WILSON

Em alerta, pensando se tratar de uma criatura ameaçadora, Caim levantou seu bastão e se aproximou das águas. Ao ver que a imagem fazia o mesmo, permaneceu muito quieto esperando o golpe.

Ao seu lado, Abel olhava a própria imagem no lago, que lhe deu um sorriso. Isso provocou uma gargalhada, e o ser do lago fez o mesmo.

Ao afastarem-se dali, cada um dos irmãos saiu com uma experiência oposta. Caim se dizia: “Que violentos são os seres que vivem no lago!”

Já Abel pensava: “Que lugar agradável! No lago vivem seres amáveis e risonhos”.

Esta fábula ilustra de forma reveladora como nossas relações com os demais estão marcadas por nossas ideias preconcebidas. A pessoa que vê todo mundo como uma ameaça age com tal desconfiança e agressividade que provoca essas mesmas atitudes da parte dos demais. Por sua vez, se mostramos uma expectativa de bondade e colaboração, atrairemos pessoas do mesmo tipo.

Para transformar nossa existência em algo muito melhor não basta modelar apenas nossa mente, confiando tudo à lei da atração. Essa mudança fundamental não produzirá frutos se não a acompanhamos da criação de novas circunstâncias.

É como explicou Álex Rovira ao analisar as chaves de seu primeiro best-seller: “Se agora não temos boa sorte, talvez seja porque as circunstâncias são as mesmas de sempre. Para que apareça a boa sorte é conveniente criar novas circunstâncias e o melhor para isso é fixar-se nos erros. O erro é a base da mudança, e isso é importantíssimo. Charles Darwin, por exemplo, sempre carregava uma caderneta para anotar tudo aquilo com que não concordava. Sabia que, do contrário, o subconsciente faria com que esquecesse. Darwin entendeu que inspirando-se no erro poderia conseguir seu objetivo. Dessa caderneta saíram as ideias de seu livro A origem das espécies”.

Além de optar por um enfoque positivo da realidade, estando atentos às oportunidades, se nos comunicamos e agimos melhor, estaremos criando novas circunstâncias que nos trarão resultados mais favoráveis.

Para aumentar a qualidade de nossa vida temos de começar mudando o cenário de nossos pensamentos e atos, em vez de perder tempo e energia escolhendo inimigos ou tentando mudar os outros.

 Francesc Miralles /Jornal El País - Espanha
terça-feira, 18 de abril de 2017 0 comentários

EMPATIA



As pessoas se preocupam em ser simpáticas, mas pouco se esforçam para serem empáticas, e algumas talvez nem saibam direito o que o termo significa. Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de compreendê-lo emocionalmente. Vai muito além da identificação. Podemos até não nos identificar com alguém, mas nada impede que entendamos as razões pelas quais ele se comporta de determinado jeito, o que o faz sofrer e os direitos que ele tem.
    Nada impede?

    Desculpe, foi força de expressão. O narcisismo, por exemplo, impede a empatia. A pessoa é tão autofocada que para ela só existem dois tipos de gente: os seus iguais e o resto, sendo que o resto não merece um segundo olhar. Narciso acha feio o que não é espelho. Ele se retroalimenta de aplausos, elogios e concordâncias, e assim vai erguendo uma parede que o blinda contra qualquer sentimento que não lhe diga respeito. Se pisam no seu pé, reclama e exige que os holofotes se voltem para essa agressão gravíssima. Se pisarem no pé do outro, é porque o outro fez por merecer. 

    Afora o narcisismo, existe outro impedimento para a empatia: a ignorância. Pessoas que não circulam, não têm amigos, não se informam, não leem, enfim, pessoas que não abrem seus horizontes tornam-se preconceituosas e mantêm-se na estreiteza da sua existência. Qualquer estranho que tenha hábitos diferentes dos seus será criticado em vez de aceito e considerado. Os ignorantes têm medo do desconhecido, e o evitam.

    E afora o narcisismo e a ignorância, há o mau-caratismo daqueles que, mesmo tendo o dever de pensar no
bem público, colocam seus próprios interesses acima de todos e trabalham só para si mesmos, e aí os
exemplos se empilham: políticos corruptos, empresários que só visam ao lucro sem respeitar a legislação,
pessoas que usam sua posição social para conseguir benefícios que deveriam ser conquistados pelos trâmites usuais, sem falar em atitudes prosaicas como furar fila, estacionar em vaga para deficientes, terminar namoros pelo Facebook, faltar a compromissos sem avisar antes, enfim, aquelas “coisinhas” que são feitas no automático sem pensar que há alguém do outro lado do balcão que irá se sentir prejudicado ou magoado.

     É um assunto recorrente: precisamos de mais gentileza etc. e tal. Só que, para muitos, ser gentil é puxar
uma cadeira para a moça sentar ou juntar um pacote que alguém deixou cair. Sim, todos gentis, mas colocar-se no lugar do outro vai muito além da polidez e é o que realmente pode melhorar o mundo em que vivemos. A cada pequeno gesto, a cada decisão que tomamos, estamos interferindo na vida alheia. Logo, sejamos mais empáticos do que simpáticos. Ninguém espera que você e eu passemos a agir como heróis, apenas que tenhamos consciência de que só desenvolvendo a empatia é que se cria uma corrente de acertos e de responsabilidade – colocar-se no lugar do outro não é uma gentileza que se faz, é a solução para sairmos dessa barbárie disfarçada e sermos uma sociedade civilizada de fato.

Martha Medeiros/REVISTA O GLOBO. 3 de fevereiro de 2013.
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48 FRASES GENIAIS



▪ Eu também não sou um homem livre. Mas muito poucos estiveram tão perto.

▪ O homem é um animal inviável.

▪ O comunismo é uma espécie de alfaiate que quando a roupa não fica boa faz alterações no cliente.

▪ Isso sim é um congresso eficiente! Ele mesmo rouba, ele mesmo investiga e ele mesmo absolve.

▪ O acaso é uma besteira de Deus.

▪ O otimista não sabe o que o espera.

▪ Às vezes você está discutindo com um imbecil… e ele também.

▪ Eu sei sempre do que é que estou falando. Tirando isso não sei mais nada.

▪ Toda lei é boa desde que seja usada legalmente.

▪ Beber é mal. Mas é muito bom.

▪ Nunca conheci ninguém podre de rico. Mas já vi milhares de pessoas podres de podre.

▪ O Brasil está dividido entre os abertamente cínicos e os que não conseguem se conter.

▪ Idade da razão é quando a gente faz as maiores besteiras sem ficar preocupado.

▪ Nesse ritmo de incompetência as civilizações tropicais vão acabar morrendo de frio.

▪ Canalhas melhoram com o passar do tempo (ficam mais canalhas.)

▪ O ovo frito de hoje anula o galeto de amanhã.

▪ O Brasil está cada vez mais cheio de ‘pobremas’.

▪ No Brasil o otimista dorme com medo de acordar pessimista.

▪ Brasil; um filme pornô com trilha de Bossa Nova.

▪ O Brasil é realmente muito amplo e luxuoso. O serviço é que é péssimo.

▪ E no oitavo dia Deus fez o Milagre Brasileiro: um país todo de jogadores e técnicos de futebol.

▪ A diferença fundamental entre Direita e Esquerda é que a Direita acredita cegamente em tudo que lhe ensinaram, e a Esquerda acredita cegamente em tudo que ensina.

▪ Essa gente que fala o tempo todo contra a corrupção está apenas cuspindo no prato em que não comeu.

▪ Mordomia é ter tudo que o dinheiro — do contribuinte — pode comprar.

▪ Além de corrupto sou cleptomaníaco.

▪ Eu não subi até aqui pra ser incorruptível.

▪ Todas as generalizações estão erradas menos esta.

▪ Não perdi a memória. Só não lembro onde botei.

▪ Chama-se de herói o cara que não teve tempo de fugir.

▪ As mulheres são mais irritáveis porque os homens são mais irritantes.

▪ Os pássaros voam porque não têm ideologia.

▪ A alma enruga antes da pele.

▪ Um homem é adulto no dia em que começa a gastar mais do que ganha.

▪ Pessoa Física é como se chama o homem comum quando é achacado pela Receita Federal.

▪ Antigamente os animais falavam. Hoje escrevem.

▪ O mal da cultura é que ela amplia gigantescamente a nossa ignorância.

▪ Quando começou a comprar almas, o diabo inventou a sociedade de consumo.

▪ Relógio — aparelho movido a infinito.

▪ Ainda está pra nascer o erudito que se contenha em saber só o que sabe.

▪ Não desespere, amigo, com isso tudo. A ciência prova: até piolho tem piolho.

▪ A verdade é que, nesse mundo cheio de feministas agressivas e gays reivindicantes, eu sou um mero homem.

▪ Não há pessoa mais chata do que você mesmo. Fuja da solidão.

▪ Calúnia na internet a gente tem que espalhar logo, porque sempre é mentira.

▪ De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência.

▪ Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor.

▪ Chama-se de criança precoce aquela que nasce antes dos pais casarem.

▪ Pileque foi um matemático grego que descobriu que a terra gira.

▪ Equidistância é você estar perto de todos os lugares ao mesmo tempo.

MILLÔR FERNANDES 
domingo, 16 de abril de 2017 0 comentários

A BASE DE UM CÉREBRO SAUDÁVEL É A BONDADE, E PODE-SE TREINAR ISSO



Richard Davidson, PhD em neuropsicologia e pesquisador na área de neurociência afetiva.

Nasci em Nova Iorque e moro em Madison, Wisconsin (EUA), onde sou professor de psicologia e psiquiatria na universidade. A política deve basear-se naquilo que nos une. Só assim poderemos reduzir o sofrimento no mundo. Acredito na gentileza, na ternura e na bondade, mas temos que nos treinar nisso.

Eu estava investigando os mecanismos cerebrais ligados à depressão e à ansiedade.

…E acabou fundando o Centro de Investigação de Mentes Saudáveis.

Quando eu estava no meu segundo ano na Universidade de Harvard, a meditação cruzou o meu caminho e fui para a Índia investigar como treinar a minha mente. Obviamente, meus professores disseram que eu estava ficando louco, mas aquela viagem marcou meu futuro.

…E assim que começam as grandes histórias.

Descobri que uma mente calma pode produzir bem-estar em qualquer tipo de situação. E quando me dediquei a investigar, por meio da neurociência, quais são as bases para as emoções, fiquei surpreso de ver como as estruturas do cérebro podem mudar em tão somente duas horas.

Em duas horas!

Hoje podemos medir com precisão. Levamos meditadores ao laboratório; e antes e depois da meditação, tiramos uma amostra de sangue deles para analisar a expressão dos genes.

E a expressão dos genes muda?

Sim. E vemos como as zonas com inflamação ou com tendência à inflamação tinham uma abrupta redução disso. Foram descobertas muito úteis para tratar a depressão. Contudo, em 1992, conheci o Dalai Lama e minha vida mudou.

Um homem muito encorajador.

“Admiro seu trabalho – ele me disse -, mas acho que você está muito centrado no estresse, na ansiedade e na depressão. Nunca pensou em focar suas pesquisas neurocientíficas na gentileza, na ternura e na compaixão?”.

Um enfoque sutil e radicalmente distinto.

Fiz a promessa ao Dalai Lama de que faria todo o possível para que a gentileza, a ternura e a compaixão estivessem no centro da pesquisa. Palavras jamais citadas em um estudo científico.

O que você descobriu?

Que há uma diferença substancial entre empatia e compaixão. A empatia é a capacidade de sentir o que sentem os demais. A compaixão é um estado superior. É ter o compromisso e as ferramentas para aliviar o sofrimento.

E o que isso tem a ver com o cérebro?

Os circuitos neurológicos que levam à empatia ou à compaixão são diferentes.

E a ternura?

Forma uma parte do circuito da compaixão. Umas das coisas mais importantes que descobri sobre a gentileza e a ternura é que se pode treiná-las em qualquer idade. Os estudos nos dizem que estimular a ternura em crianças e adolescentes, melhora os resultados acadêmicos, o bem-estar emocional e a saúde deles.

E como se treina isso?

Primeiro, levando a mente deles até uma pessoa próxima, que eles amam. Depois, pedimos que revivam um momento em que essa pessoa estava sofrendo e que cultivem o desejo de livrar essa pessoa do sofrimento. Logo, ampliamos o foco para pessoas não tão importantes e, por fim, para aquelas que os irritam. Estes exercícios reduzem substancialmente o bullying nas escolas.

Da meditação à ação há uma distância.

Umas das coisas mais interessantes que tenho visto nos circuitos neurais da compaixão é que a área motora do cérebro é ativada: a compaixão te capacita para agir, para aliviar o sofrimento.

Agora você pretende implementar no mundo o programa Healthy Minds (mentes saudáveis).

Esse foi outro desafio que o Dalai Lama me deu, e temos elaborado uma plataforma mundial para disseminá-lo. O programa tem quatro pilares: a atenção; o cuidado e a conexão com os outros; o contentamento de ser uma pessoa saudável (fechar-se nos próprios sentimentos e pensamentos é uma das causas da depressão)…

…É preciso estar aberto e exposto.

Sim. E, por último, ter um propósito na vida. Que é algo que está intrinsecamente relacionado ao bem-estar. Tenho visto que a base para um cérebro saudável é a bondade. E treinamos a bondade em um ambiente científico, algo que nunca tinha sido feito antes.

Como podemos aplicar esse treinamento em nível global?

Por meio de vários setores: educação, saúde, governo, empresas internacionais…

Por meio desses que têm potencializado este mundo de opressão em que vivemos?

Tem razão. Por isso, sou membro do conselho do Foro Econômico Mundial de Davos. Para convencer os líderes de que é preciso levar às pessoas o que a ciência sabe sobre o bem-estar.

E como convencê-los?

Por meio de provas científicas. Tenho mostrado a eles, por exemplo, o resultado de uma pesquisa que temos realizado em diversas culturas diferentes: se interagirmos com um bebê de seis meses usando fantoches, sendo que um deles se comporta de forma egoísta e o outro de forma amável e generosa, 99% dos bebês prefere o boneco que coopera.

Cooperação e amabilidade são inatas.

Sim, mas são frágeis. Se não são cultivadas, se perdem. Por isso, eu, que viajo muitíssimo (o que é uma fonte de estresse), aproveito os aeroportos para enviar mentalmente bons desejos a todos com quem cruzo no caminho, e isso muda a qualidade da experiência. O cérebro do outro percebe isso.

Em apensa um segundo, seguem o seu exemplo.

A vida é só uma sequência de momentos. Se encadearmos essas sequências, a vida muda.

Hoje, mindfulness (atenção plena) tornou-se um negócio.

Cultivar a gentileza é muito mais efetivo do que se centrar em si mesmo. São circuitos cerebrais distintos. A meditação em si não interessa para mim. O que me importa é como acessar os circuitos neurais para mudar o seu dia-a-dia, e sabemos como fazer isso.

Ciência e Gentileza

A pesquisa de Richard Davidson está centrada nas bases neuronais da emoção e nos métodos para promover, por meio da ciência, o florescimento humano, incluindo a meditação e as práticas contemplativas. Ele fundou e preside o Centro de Investigação de Mentes Saudáveis na Universidade de Wisconsin-Madison, onde são realizadas pesquisas interdisciplinares com rigor científico sobre as qualidades positivas da mente, como a gentileza e a compaixão. Richard Davidson já acumula prêmios importantes e é considerado uma das cem pessoas mais influentes do mundo, segundo a revista Time. É autor de uma quantidade imensa de pesquisas e tem vários livros publicados. Ele conduziu um seminário para estudos contemplativos em Barcelona.

*Traduzido de entrevista publicada no site do La Vanguardia-Ima Sanchís
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A VIDA MELHORA 100% QUANDO VOCÊ EXPRESSA SUAS VONTADES



“Não quero”. “Não gosto”. “Não enche”. “Fique aqui”. “Faço questão”. “Estou a fim”. “Fale direito comigo”. “Prefiro de outra forma”. “Isso não me agrada”. “Vou ligar, deu saudade”… existem milhões de frases curtas e palavras simples que insistimos em transformar em enormes nós na garganta. Optamos por engolir verdades, abafar afagos e cultivar novelos de mágoa no peito à medida que abrimos mão de verbalizar o que sentimos. Rendidos à teoria furada de que o silêncio é o melhor remédio, sufocamos a solução para boa parte das dores de cabeça que nos assolam: a comunicação.

Em algum momento perdemos a capacidade de dialogar. Instituiu-se a perigosa falácia de que ignorar é a resposta ideal e a consequência disso são mal-entendidos bobos minando relações preciosas. É aí que a piada infeliz que o colega de trabalho soltou, o presente que o marido se esqueceu de levar no aniversário de casamento e a ligação que você esperava do amigo e não recebeu são transformados em rosnadas e ressentimentos. A desconfortável sensação de que erraram conosco se converge em descontentamento prolongado pelo orgulho ferido. Tempos depois você descobre que um mero “ei, algo está me incomodando e preciso falar a respeito” economizaria dissabores e rupturas tolas.

Dizer o que se sente é colocar-se em primeiro lugar e conceder à vida adulta a maturidade que ela requer. É se dar o direito de expor, sem máscaras e jogos, vontades legítimas, que podem (e devem) ser postas na mesa. Não me refiro à verborragia sem freio que confunde falta de limites com liberdade de expressão. Refiro-me à libertadora possibilidade que temos de substituir as entrelinhas pela necessária e eficiente clareza de sentimentos. A vida melhora 100℅ quando a gente aprende que o subtendido é perda de tempo e elege o “preto no branco” como regra de conduta.

É dizer “não quero ir porque estou com preguiça” sem inventar que o carro pifou. É perguntar “qual o problema?” para quem desapareceu do nada. É falar “eu me preocupo e por isso quero estar perto” para quem é importante. É evidenciar para o seu funcionário o que espera dele, pedir para a tia mandona parar de se meter, externar para o companheiro que ele tem sido arrogante, solicitar sem constrangimento a folga de que precisa no trabalho. Combinar encontros, recusar propostas, propalar em alto e bom som desejos adormecidos.

No final das contas percebemos que tudo começa a fluir e que quem realmente se importa ouve, assimila e reconsidera posturas. Percebemos que a vaidade que o ego tem em se calar vale bem menos que as vantagens de soltar o que está reprimido. Entendemos que pagamos um preço alto pela inércia de esperar que o outro aja como gostaríamos sem que tenhamos manifestado o que queremos. No final das contas concluímos que nos estressamos com quem sequer imagina que agiu mal e que é insano esperar que adivinhem. Existe um mecanismo mais eficaz e viável do que bola de cristal — a boa, velha e indispensável conversa.

 Larissa Bittar
quinta-feira, 13 de abril de 2017 0 comentários

GENTE MADURA NÃO TEM FRESCURA



Maturidade não é sinônimo de seriedade, e sim responsabilidade. Chega muito cedo para uns poucos, e nunca para outros. Nos resguarda dos mi mi mis e blá blá blás, e traz significado ao que importa de fato.


Gente madura não vive correndo atrás de aprovação ou explicação. Tem noção para quem deve satisfação e é pra esses que abre seu coração. Não vive de suposições nem ilusões. Não cria mundos a partir de pensamentos vagos nem alimenta expectativas em cima de sentimentos rasos.

Gente madura sabe se absolver. Não se leva tão a sério, chuta o balde de tempos em tempos, desculpa suas incapacidades e aceita suas precariedades.

Gente madura não se cobra a perfeição nem exige tanto de si e dos outros em nome de uma imagem imaculada e um semblante engessado. Ao contrário, aprendeu a rir dos tombos que leva e a fazer limonada dos limões que a vida lhe dá.

Gente madura não tem frescura com a própria vida e por isso consegue se deixar em paz. Já caiu e levantou tantas vezes que aprendeu a não sofrer por pequenices e superficialidades. Perdoa o cabelo mal humorado, a pele ressecada, a gordurinha fora do lugar. Não se tortura com fios puxados na blusa de lã, pregos fixados com diferença de altura, unha do mindinho descascada. Não se patrulha por repetir a sobremesa no almoço ou o vinho no jantar. Sabe que um dia compensa o outro, e que o saldo final é ser feliz.

Gente madura sabe que é exaustivo tentar ser legal o tempo inteiro. Por isso impõe limites e cuida bem de si. Zela pelos que ama mas entende que não é possível agradar a todos o tempo todo.

Gente madura não tem medo de errar nem de viver. Experimenta

sabores novos, inova na frente do espelho, recomeça depois de uma fossa, assume que estava errado, pede perdão, se reconcilia com sua história.

Gente madura não faz drama. Enfrenta os dissabores com bravura e vive os dias comuns com gratidão e maravilhamento. Com isso, aprende a ser feliz. A não comparar a própria vida, a não querer chegar na frente, a não desejar subir no podium da ilusão. Gente madura ama a própria realidade e não cobiça o mundo alheio. Não se faz de vítima nem vive ressentida. Ama o que lhe cabe e não se fecha para a alegria.

Gente madura aceita bem as diferenças e convive bem com as divergências. Ouve, analisa e tira suas conclusões sem impor seus conceitos como verdade absoluta.

Gente madura não faz alarde da tristeza nem da felicidade. Curte seus momentos com serenidade e não mede sua vida pela popularidade.

Fabíola Simões
segunda-feira, 10 de abril de 2017 0 comentários

POR QUE A CULPA AUMENTA O PRAZER?



Alguns estudos em psicologia descobriram que a sensação de culpa que temos quando saímos da dieta ou escolhemos uma vida mais descontrolada não nos ajuda a ter uma vida saudável. Em vez de nos desviar das tentações, a culpa frequentemente nos leva a desenvolver vícios. Essa ironia parece ter vários motivos. Uma teoria é de que formas culpáveis de prazer estão tão enraizadas em nossa psique que os sentimentos de remorso detonam pensamentos de desejo em nosso cérebro. Ou seja, nossos vícios são tentadores em parte porque sabemos que eles nos fazem mal.

Para demonstrar a forma como nosso subconsciente realmente funciona de maneira masoquista, Kelly Goldsmith, da Northwestern University, em Illinois, mostrou alguns jogos de palavras a um grupo de voluntários. Eles primeiro tinham que reordenar algumas frases, algumas com palavras como “pecado”, “culpa” e “remorso”, e outras com termos mais neutros.

Na segunda parte do experimento, eles recebiam duas letras e tinham que completar as palavras. Aqueles que antes ordenaram as frases com as palavras condenadoras apresentaram muito mais tendência a criar palavras associadas com desejo. Ou seja, em vez de desviar os pensamentos do pecado, o subconsciente culpado começou a pensar de maneira mais luxuriosa.

Goldsmith descobriu ainda que esses sentimentos se traduziam em experiências realmente sensoriais. Os voluntários que foram incitados com ideias de culpa admitiram mais compulsão por doces ou ter mais prazer em olhar as fotos de um site de encontros.


O efeito “foda-se”

Mas a ironia da culpa não para por aqui. Além de aumentar a atração pelas tentações, o sentimento também pode lançar o chamado efeito “foda-se”.

Esse fenômeno psicológico tão bem estudado é o motivo pelo qual você não consegue parar de comer quando se comprometeu a comer “só uma” fatia de bolo – ao acharmos que fracassamos em algo, logo concluímos que é melhor se entregar completamente.

Roeline Kuijer e Jessica Boyce, da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia, recentemente estudaram os hábitos alimentares de um grupo de voluntários que tentava perder peso.

Elas perceberam que aqueles que logo associavam um bolo de chocolate a um sentimento de culpa acreditavam menos em seu autocontrole do que as pessoas que associavam o alimento com coisas mais positivas, como uma festa.

Nos meses que se seguiram, aquilo se tornou uma profecia auto-realizável: apesar das intenções serem as mesmas, as pessoas que se sentiam mais culpadas ao pensar em chocolate conseguiam perder menos peso em comparação àquelas que viam o chocolate com animação. O mesmo aconteceu com outro grupo que estava tentando manter um peso saudável. Em um período de 18 meses, aqueles que inocentemente desfrutavam de sua comida tinham menos tendência a engordar.


Utilidade pública

As descobertas podem evidenciar um problema que ocorre em algumas campanhas de saúde pública. “Quando você pega uma atividade que não era associada com a culpa e, de repente, a faz parecer imprópria, o prazer parece aumentar”, diz Goldsmith.

Sendo assim, um aviso de “É proibido fumar” pode aumentar a vontade dos fumantes. Kuijer e Boyce argumentam que não deve ser coincidência o fato de os Estados Unidos apresentarem uma maior taxa de obesidade que a França, apesar dos americanos se sentirem mais culpados do que os franceses em relação a sua alimentação.

Apesar de nenhuma campanha pública ter sido alterada para experimentar essas teorias, Goldsmith acredita que seria mais eficiente se concentrar nos aspectos positivos, por exemplo, enfatizando os benefícios de escolhas mais saudáveis. Outros estudos concluíram que a liberdade de sentir pequenos prazeres uma vez ou outra é essencial para manter a força de vontade em relação a objetivos de vida maiores.

“Quando usamos nosso auto-controle para resistir a uma tentação ou para continuar com uma tarefa pouco interessante, esgotamos a força desse ‘músculo'”, explica Leonard Reinecke, da Universidade de Mainz, na Alemanha. “Consequentemente, é mais difícil resistir a desejos em outras situações.”

O cientista descobriu que formas de entretenimento menos intelectuais são uma ótima maneira de dar um descanso ao que ele chama de “músculo da força de vontade” e de recarregar o auto-controle. Mas quem sucumbir a esse tipo de lazer não pode se sentir culpado por isso, senão não há benefícios. Até porque, não é para menos que boa parte das maiores empresas do mundo possuem um excelente local de recreação: o descanso é produtivo.

Pessoas cansadas, esgotadas e/ou entediadas produzem menos. Em outras palavras, perdoar-se por um pouco de diversão ou por se entregar a uma guloseima deve servir para recuperar uma atitude saudável mais rapidamente e, assim, direcionar a força de vontade a algo mais positivo no dia seguinte.

por Demasiado Humano
 
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