2c6833b0-77e9-4a38-a9e6-8875b1bef33d diHITT - Notícias Sou Maluca Sim!: dezembro 2011
sábado, 31 de dezembro de 2011 0 comentários

Receita de Ano Novo


Para você ganhar um belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser, novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


(CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011 0 comentários

CAETANO VELOSO - AMANHÃ - VOZ E VIOLÃO

Estejamos preparados para um novo ano!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011 0 comentários

ARTHUR SCHOPENHAUER - A INTUIÇÃO É MAIS FORTE QUE A RAZÃO


Devemos sempre dominar a nossa impressão perante o que é presente e intuitivo. Tal impressão, comparada ao mero pensamento e ao mero conhecimento, é incomparavelmente mais forte; não devido à sua matéria e ao seu conteúdo, amiúde bastante limitados, mas à sua forma, ou seja, à sua clareza e ao seu imediatismo, que penetram na mente e perturbam a sua tranquilidade ou atrapalham os seus propósitos. Pois o que é presente e intuitivo, enquanto facilmente apreensível pelo olhar, faz efeito sempre de um só golpe e com todo o seu vigor.

Ao contrário, pensamentos e razões requerem tempo e tranquilidade para serem meditados parte por parte, logo, não se pode tê-los a todo o momento e integralmente diante de nós. Em virtude disso, deve-se notar que a visão de uma coisa agradável, à qual renunciamos pela ponderação, ainda nos atrai. Do mesmo modo, somos feridos por um juízo cuja inteira incompetência conhecemos; somos irritados por uma ofensa de carácter reconhecidamente desprezível; e, do mesmo modo, dez razões contra a existência de um perigo caem por terra perante a falsa aparência da sua presença real, e assim por diante.
Em tudo se faz valer a irracionalidade originária do nosso ser.

(Arthur Schopenhauer)
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011 0 comentários

A MENINA DE 12 ANOS QUE CALOU O MUNDO POR 6 MINUTOS -Legendado

Uma grande e simples lição passada por alguém ainda tão jovem.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011 0 comentários

ARTHUR SCHOPENHAUER - A INTUIÇÃO É MAIS FORTE QUE A RAZÃO



Devemos sempre dominar a nossa impressão perante o que é presente e intuitivo. Tal impressão, comparada ao mero pensamento e ao mero conhecimento, é incomparavelmente mais forte; não devido à sua matéria e ao seu conteúdo, amiúde bastante limitados, mas à sua forma, ou seja, à sua clareza e ao seu imediatismo, que penetram na mente e perturbam a sua tranquilidade ou atrapalham os seus propósitos. Pois o que é presente e intuitivo, enquanto facilmente apreensível pelo olhar, faz efeito sempre de um só golpe e com todo o seu vigor.
Ao contrário, pensamentos e razões requerem tempo e tranquilidade para serem meditados parte por parte, logo, não se pode tê-los a todo o momento e integralmente diante de nós. Em virtude disso, deve-se notar que a visão de uma coisa agradável, à qual renunciamos pela ponderação, ainda nos atrai. Do mesmo modo, somos feridos por um juízo cuja inteira incompetência conhecemos; somos irritados por uma ofensa de carácter reconhecidamente desprezível; e, do mesmo modo, dez razões contra a existência de um perigo caem por terra perante a falsa aparência da sua presença real, e assim por diante.
Em tudo se faz valer a irracionalidade originária do nosso ser.
(Arthur Schopenhauer)
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011 0 comentários

ALBERTO GOLDIN - 18/12/2007


“Tenho 35 anos, sou casada há oito e tenho um filha de 4. Há três anos, apaixonei-me por Roberto, um colega de trabalho. Tivemos um breve relacionamento, mas nos afastamos. Não queria me separar com um filha pequena. Há poucos meses, este sentimento voltou, e estamos muito envolvidos. Tenho medo da separação, mas não sou feliz nos casamento. Meu marido não me escuta, não brigamos, ele evita conflitos. O problema sou eu: não sou feliz, quero um companheiro, receber um abraço quando chego em casa, ouvir eu te amo, ter vontade de fazer sexo, coisa que vai de mal a pior. Em Roberto encontrei amor, erotismo  diálogos intermináveis, compreensão e vontade de ter uma vida comum. Ele é casado, também não é feliz, e em pouco tempo, será livre. Moro num bairro nobre e separada não terei o mesmo padrão. Mas não aguento mais ser infeliz. Corremos contra o tempo, a vida passa rápido. Me sinto uma panela prestes a explodir!
Pâmela

SOB NOVA DIREÇÃO
Era m bom filme, contava uma história verossímil, com excelente fotografia e músicas que acentuavam as emoções. A tristeza em tom escuro dramático, e a alegria clara, luminosa, quase eufórica.
A carta de Pâmela também é um bom filme, ou melhor, são dois, com argumentos diferentes: quando se refere a Roberto, seu amante, os refletores se acendem, a música toca alegre e juvenil, como nas belas historias de amor. Já quando o personagem é seu marido, ocorre o oposto, são planos escuros, acordes graves e opacos, um relato em preto e branco, Até aqui é compreensível. A mulher que ama projeta filmes otimistas e , quando deixa de amar, acentua o desgaste de m relação que a prende com pesadas correntes de silêncio e escuridão. O s dois filmes se alternam em sessão continua, porem, não refletem o passado nem descrevem o presente. Invente o futuro que, como todo futuro, é apenas uma hipótese sujeita a confirmação. Pâmela está em conflito, Deve-se se separar na esperança de uma nova vida, ou permanecer vegetando num casamento sem amor? A resposta é tão óbvia que desconfiamos. Se fosse simples e claro, não haveria conflito, nem carta para o jornal.
De nossa parte, sabemos que não devemos intervir na sua decisão. Cabe a ela fazer isso e assumir as conseqüências, felizes ou não.
Ainda assim, nos sentimos autorizados a fazer alguns comentários. São dois filmes, dois caminhos, duas historias simultânea e com sentidos opostos. Um casamento silencioso e desvitalizado e ma relação onde não faltam palavras, atenções, sexo e sentimento. Será que antes do encontro com Roberto o mesmo casamento era mais tolerável, ou foi a paixão clandestina que dividiu as emoções, idealizando um e esvaziando o outro?
De fato, são historias complementares, alimentadas pela mesma fonte, e é por isso que cada virtude do amante corresponde um defeito do marido, porque, como é sabido, todas paixão exagera virtudes e acentua defeitos.
Pâmela tem pressa em resolve seu conflito, mas acreditamos que por enquanto precisa esperar um tempo até qe os dois filmes sejam condensados num só. Além disso, se Roberto permanece na sua casa e no seu casamento porque Pâmela deveria sair imediatamente? A hora de fazer isso será quando conseguir perceber os defeitos de Roberto e as virtudes do seu marido.. Nessa hora, estará mais madura e seu novo (e único) filme será um documentário, nau um romance , nem uma comedia, e , muito menos , uma tragédia.
Admito que é difícil esperar, porém, posso lhe garantir que a urgência nunca é prudente e se alimenta de dúvidas e medos de errar. As melhores decisões são as mais realistas, as que aceleram o processo de descoberta: como será o amaaaaantes perfeito quando virar marido? Quando O motel se transforma em residência própria? E, o mais importante, como será a Pâmela sob nova direção? Estas são as verdadeiras incógnitas que tomarão o lugar das certeza atuais. Os bons amores sobrevivem a alguns meses de espera. Quando não sobrevivem é porque, infelizmente, não são tão bons amores.

(O Globo)

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SOMOS TODOS FOFOQUEIROS - 1992


A fofoca é uma instituição universal da qual ninguém escapa. Até hoje ainda não conheci uma única pessoa que não fosse fofoqueira. Em qualquer grupinho social a fofoca rola solta. Até nas Sociedades Psicanalíticas é um tal de conversa no pé do ouvido que não acaba mais. Nos partidos políticos reina o disse-me-disse. As especulações de todo tipo ocupam grande parte das atividades: fulano rompeu com fulano, beltrano bandeou-se, cuidado com seu falso apoio...

E a Imprensa? Não fosse a fofoca, de que viveriam as colunas políticas e sociais? Acontece que a Imprensa resolveu tornar elegante essa coisa e mudou o nome de fofoca para "boato". Assim, o fofoqueiro profissional se exime de culpa, pois o "boato" é a fofoca passada adiante. O fofoqueiro fica apenas sendo aquele que deu a partida (as famosas fontes oficiosas).
Contra a fofoca não se pode fazer nada. É que a vida de todo mundo é dura, difícil, cheia de frustrações, de sonhos desfeitos, de ilusões derrubadas por amargas realidades. E quando uma pessoa está sofrendo, é terrível constatar que tem outra se dando bem, pois isso agrava o sofrimento. Portanto, para quem está sofrendo, é melhor achar que todo mundo também está na pior. Mal de muitos, consolo é, já dizia minha vó.

Por que a gente gosta tanto de ler jornal? É que quando nos mostra toda essa violência que está por aí, frente à tamanha truculência, o leitor, que leva uma vida duríssima, respira até aliviado: "Puxa, podia ser pior. Pelo menos eu estou vivo e não matei ninguém".

Portanto, a tentação da fofoca é humana, normal e compreensível. O problema é que essa tentação pode tomar proporções assustadoras, impedindo que a pessoa tenha um olhar generoso, uma emoção forte, uma compreensão oceânica, um desprendimento amazônico.

O ser humano só se renova quando troca sua seiva com alguém. É de nossa própria natureza a necessidade do compartilhamento. Sem isso, caímos numa imensa solidão ou nossa alma começa a ficar numa carência medonha, faminta de energias alheias. Nada é mais importante que o diálogo cotidiano, o bate-papo de cada dia. O ser humano precisa disso como o ar para respirar.

E, às vezes, pensando que está falando a gente pede pra passar a sopa, picha, malha, faz fofoca e não fala nada. Ou seja, pra falar sobre as nossas profundas emoções, ânsias e sentimentos, a gente se vê de rédea curta.

Vocês já repararam? Quantas vezes duas pessoas se encontram e se dispõem a falar sobre a verdade de seus sentimentos e descambam para críticas, conselhos que não têm nada a ver, ou simples fofoca?
Eduardo Mascarenhas - Psicanalista
(Rio de Janeiro, 06/07 1942 / 29/04/1997)


EDUARDO MASCARENHAS
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011 0 comentários

SUAVIDADE


                                                                   
SUAVIDADE

Pousa a tua cabeça dolorida
Tão cheia de quimeras, de ideal,
Sobre o regaço brando e maternal
Da tua doce Irmã compadecida.

Hás-de contar-me nessa voz tão querida
A tua dor que julgas sem igual,
E eu, pra te consolar, direi o mal
Que à minha alma profunda fez a Vida.

E hás-de adormecer nos meus joelhos...
E os meus dedos enrugados, velhos,
Hão-de fazer-se leves e suaves...

Hão-de pousar-se num fervor de crente,
Rosas brancas tombando docemente,
Sobre o teu rosto, como penas de aves...

FLORBELA ESPANCA
terça-feira, 20 de dezembro de 2011 0 comentários

A BAILARINA


A DANÇA DA VIDA

Ela chegou de novo, de repente, de longe, de sempre.
Mas nossas vidas sempre foram assim, feitas de surpresas impossíveis.
Desde o dia em que,aos 16 anos, antes de estarmos presos a tudo, resolvemos simplesmente que iríamos nos amar pra sempre. Do nosso jeito. Maior que tudo. Como só duas crianças podem sonhar. Pra sempre.
Sempre não é aqui, não é agora, mas até pode ser, porque sempre não tem hora, é sempre.
E nosso tempo sempre foi bem diferente.
De repente, presente, assim não mais que de repente. Quando era necessário, sem que nenhum dos dois soubesse que éramos necessários ao outro naquele momento.
Ela é uma verdadeira bailarina. Ela não escolheu, foi escolhida. Sua alma nascera com um propósito determinado e maior que ela: dançar.
Me parece que toda mulher escolhe a dança, mas a dança escolhe poucas.
Ela rodou o mundo, os grandes palcos, as maiores cidades, realizou tudo que os mais impossíveis sonhos poderiam imaginar. E, a minha bailarina, chegou de novo, quando eu mais precisava da sua dança. Agora.
Não fazia tanto tempo que não nos víamos, mas fazia muito tempo que eu não precisava tanto daquele abraço. Daquele colo. Daquela dança. Seus olhos se conectaram aos meus e imediatamente lacrimejaram, como os meus. Por uma dor que era só minha. Isso é a conexão maior que uma alma pode fazer com outra. O silêncio de quem conhece os sentimentos do outro pelo jeito de olhar.
Ela sabia que a minha tristeza nem minhas lágrimas tinham a ver com ela nem com aquele encontro. Mas sabia que tinha a ver com a minha vida. E isso era o que importava pra ela. Era só o que importava. E isso era tudo que eu precisava ouvir, que ela se importava com o que eu sentia. Mas, antes que tudo pudesse ir por outro caminho , ela começou a dançar pelo quarto, uma música imaginária. Sua dança clássica, elegante, perfeita, possível apenas para um corpo que vive diariamente para aquele propósito,e por isso, perfeito em cada detalhe tanto nos movimentos quanto na nudez de uma pele de veludo. Perguntei se ela queria que ligasse alguma música, ela se aproximou, me abraçou, começou a dançar sobre meu corpo, e respondeu, iluminando meu coração como um milagre:
- Minha música é você.
E mais uma vez a mágica entrou na minha vida da forma mais real, bonita e necessária que poderia existir. Mais uma vez ela me fez renascer.
(Luka SC)
domingo, 18 de dezembro de 2011 0 comentários

A DANÇA DA MAÇÃ


Antônio chegou na hora marcada. Ainda tinha a chave do apartamento, mas preferiu bater. Luiza abriu a porta. Os dois se cumprimentaram secamente.
― Oi.
― Oi.
Antônio fez um gesto indicando os dois homens que estavam com ele.
Um senhor e um mais moço.
― Este é o seu Molina e este...
Como é seu nome mesmo?
― Arlei disse o mais moço.
― Arlei.
Eles vieram me ajudar com a mudança.
― Bom dia
― disse Luiza. ― Já está tudo mais ou menos separado. Algumas caixas de papelão e sacolas de plástico, uma lâmpada articulada de mesade desenho, a mesa de desenho desmontada, uma taça de metal. Tudo junto perto da porta.
― Eu resolvi levar a poltrona ― disse Antônio.
― Tudo bem ― disse Luiza.
― É isso aí, pessoal ― disse Antônio, abrindo os braços para mostrar o que seria levado. Isto, e aquela poltrona ali.
Seu Molina estava examinando a taça.
― É para o casal ― disse.
A inscrição na taça era "Campeões do Declaton dos Casais, Hotel das Flores, 1992― Antônio e Luiza". O Declaton dos Casais incluía corrida do saco, corrida de pedalinho nolago do hotel e a dança da maçã. Uma maçã era colocada entre os joelhos do casal e elestinham de fazê-la chegar à boca sem usar as mãos.
― Eu não quero a taça ― disse Luiza.
― Eu também não ― disse Antônio.
― 1992... disse o seu Molina.
― Era a lua-de-mel?
Luiza e Antônio se entreolharam, mas só por um segundo.
― Mais ou menos ― disse Antônio.
― Quem diria, não é? ― disse o seu Molina.
― O quê?― Em 1992. Que ia acabar assim.
Antônio não podia dizer para o seu Molina não se meter na vida deles. Afinal, era um senhor. Pediu para o Arlei:
― Vamos começar?
Mas o Arlei estava mostrando um álbum que tirara de uma das sacolas de plástico.
― Álbum de fotografia. Vai também?
― Vai ― disse Luiza.
Tudo que está nas sacolas vai embora. Arlei estava olhando o álbum. Mostrou para o seu Molina:― Olha os dois na praia.
E fez um aceno de cabeça para Luiza, com as pontas da boca puxadas para baixo,querendo dizer "Sim senhora, hein?", e que a Luiza de biquíni não era de se jogar fora. Mas o seu Molina estava sério, olhando para Luiza.
― Você não quer ficar com o álbum?
Luiza perdeu a paciência.― Não quero ficar com nada disto, entende? O que está nas caixas e nos sacos, é para ir embora. São dele.
― Podemos começar? ― pediu Antônio.
Arlei estava examinando os CDs dentro de outra sacola.
― A divisão dos CDs... ― disse.
― Foi de comum acordo ou...
― Eu fiquei só com os que já eram meus.― Você não quer examinar? A pergunta de Arlei era para Antônio.
― Não. Isso tudo já estava combinado ― respondeu Antônio. E, pegando uma dassacolas do chão para dar o exemplo, pediu.
- Vamos começar a levar para o caminhão?
Mas Arlei continuava a examinar os CDs e seu Molina continuava com a taça nas mãos.
― E a taça? ― perguntou o seu Molina.
― O senhor quer ficar com ela? Pode ficar.
― Foi vocês que ganharam ― disse o seu Molina. E depois:
― O que era o Declaton dos Casais?
― Tinha de tudo. Corrida de saco, corrida de pedalinhos, dança da maçã...
Seu Molina e Arlei, um uníssono:― Dança da maçã?
― É. Colocaram uma maçã entre as pernas de cada casal, na altura dos joelhos, eganhava quem conseguisse que a maçã chegasse na boca, para ser mordida, sem usar as mãos. Lembra, Lu?
Luiza então estava sorrindo com a lembrança.
― É. A gente tinha de se contorcer toda, para fazer a maçã andar. Quem deixasse cair no chão, perdia.
― E vocês conseguiram morder a maçã?
― Conseguimos. Não foi fácil, mas conseguimos.― Lembra do casal cearense, Lu?
― Lembro! Ela foi ajudar com o joelho e acabou acertando o marido bem no...Bem ali.
― E ele saiu pulando e gritando "Mulher, não maltrate o que é seu!"
Os dois deram risadas, depois Antônio ficou sério e disse:
― Bom, mas chega de lembranças. Vamos fazer essa mudança. Se o senhor quiser pode ficar com a taça, seu Molina.
― Eu não. Uma lembrança destas, de um tempo tão alegre... Nenhum de vocês quer ficar com ela, mesmo?
― Está bem, eu fico.
Antônio e Luiza tinham falado ao mesmo tempo. E se corrigiram ao mesmo tempo:
― Fica você.
― Fica você.
Seu Molina perguntou:
― Vocês têm certeza que não querem pensar mais um pouquinho sobre isto?
― Sobre a taça?― Sobre a separação. Só mais alguns dias. Depois nos chamem para fazer amudança. Ou não nos chamem. Arlei sacudiu a sacola com os CDs e acrescentou:― Assim vocês têm mais tempo para pensar na divisão dos CDs. Na minha experiência, a divisão dos CDs é sempre o que dá mais problemas, depois. Luiza e Antônio estavam se olhando.
― O que você acha? ― perguntou Luiza.
― Não sei... ― disse Antônio.
Seu Molina e Arlei saíram e fecharam a porta em silêncio e deixaram os dois conversando....
Naquela noite, depois do amor, Luiza perguntou a Antônio de onde tinha saído aqueles dois, Arlei e seu Molina, e Antônio respondeu que os escolhera ao acaso, na rua. Eles tinham um caminhão com uma placa do lado: "Mudanças, carreto e etc."
― Bendito etcetera ― disse Luiza, puxando o Antônio de novo.

(LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO)
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011 0 comentários

Tempo, memória, cortesia: vitimas da informação? Em 23.07.2009



*Obs: Prestem atenção na data em que foi escrito. Hoje, está muito pior...


– Estou impressionada com as pessoas, — disse a amiga que mora parte do tempo no Rio, outra em Nova York e o que sobra pelo resto do mundo. — Aqui no Brasil ninguém responde mais a email, a convite formal, a nada! Não sei se é falta de educação, falta de tempo ou se as coisas agora são assim mesmo…


Se eu não tivesse ligado exatamente para responder a um convite, poderia ter pensado que estava diante de uma indireta: é que a carapuça parecia feita sob medida. Ainda que saiba que não responder aos amigos (e não agradecer aos livros que enviam) é imperdoável, ainda que comece praticamente todos os dias com a consciência culpada por causa dos emails que deixei de responder na véspera e já agoniada com os que não responderei ao longo das próximas horas, o fato é que, por mais que tente, não encontro tempo ou concentração para me manter em dia com o que a civilidade exige.
Este é um tema recorrente nas minhas colunas da “Revista Digital”, até porque atribuo boa parte da culpa dessa desatenção ao mundo hi-tech e à vida-ponto-com em que ando mergulhada há tantos anos. Cada carta manuscrita se transformou em centenas de emails, cada fonte de informação multiplicou-se ao infinito e está a um clique de distância. Resultado: de pessoa cortês que enviava flores em datas significativas e cartões bonitinhos escritos com letra até legível, virei um bípede sem dúvida bem informado, mas sempre em falta com suas obrigações elementares.
Há uns tempos, em desespero de causa, escrevi isso no Facebook (e na Revista): “Cora Rónai está com o trabalho todo atrasado!”. Era só parcialmente verdade. Para variar, tudo estava atrasado na minha vida.
“A sobrecarga de informação acertou o passo comigo, me ultrapassou e periga me jogar fora da estrada,” disse então. “Como todo mundo, eu também precisaria de um dia de 48 horas para ficar minimamente em dia com o que me cerca. Recebo e compro mais livros do que consigo ler, tenho mais DVDs do que posso assistir pelos próximos dez anos, CDs e revistas se amontoam ao meu redor, há mensagens por responder na secretária eletrônica, no celular e na mailbox.”
De lá para cá, nada melhorou; pelo contrário. Tudo está ao nosso alcance ao mesmo tempo, um link puxa outro, os torpedos e o Twitter piam insistentemente no celular e no notebook. Olho para os gatos enroscados no tapete e invejo sua vidinha singela. A quantidade de informação que um gato administra está perfeitamente de acordo com o seu tempo físico e com a capacidade do seu cérebro: onde ficam os potes de água e ração, quem são os bípedes e quadrúpedes com quem convive, o que significam os vários ruídos da casa, o que é bom para brincar e o que é melhor deixar quieto. É um universo descomplicado, que permanece inalterado desde que os gatos são gatos. A mesma coisa acontece com os cães e com quase todas as espécies do planeta. Até a lagartixinha pálida que vive no lavabo não tem preocupações muito diferentes daquelas que passavam pela cabeça dos seus avôs dinossauros.
Já a complexidade da vida dos humanos, depois de alguns milênios em banho-maria, vem se acelerando a uma velocidade assustadora. Nosso cérebro continua igual ao dos nossos antepassados que viviam em aldeias de umas poucas almas, mas o tempo encolhe progressivamente, pois tem que ser dividido em fatias cada vez menores. Nas pequenas aldeias, a vida seguia o ritmo do sol, todos se conheciam desde sempre e, tirando as atribuições básicas da vida cotidiana, por árduas que fossem, não havia muito o que fazer. Dependendo da capacidade de imaginação de cada um, havia ainda menos em que pensar. As notícias que chegavam de fora vinham com anos de atraso e jeito de lenda; o que importava saber, de verdade, se restringia à vizinhança imediata, ao espaço conhecido.
O próprio mundo em que Andy Warhol previu quinze minutos de fama para cada um — ainda ontem! — era um mundo razoavelmente controlável, pré-internet, em que a sobrecarga de informação (information overload) não existia nem como expressão. Na época, o peso maior da equação estava na fama, uma figura de retórica distante e ilusória; hoje está no tempo, real. Quinze minutos no vertiginoso ano de 2009 são uma eternidade, uma abundância de segundos de que ninguém mais dispõe.
O ser humano é, por definição, um animal multi-tarefa, mas há um limite para a sua capacidade de processamento de dados. Se já não a ultrapassamos, estamos perto disso, como provam os esquecimentos constantes e a falta de memória que não poupam ninguém, numa espécie de gripe suína dos neurônios.
Quem tem lembrança de um pai ou avô que sabia longos poemas de cor fica pasmado: como era possível?! A conclusão quase inevitável é que não se fazem mais pessoas como antigamente. Mas talvez não seja bem assim. A capacidade de armazenagem do cérebro dos nossos antepassados não era diferente da nossa; apenas estava ocupada de outra forma. Entre outras infinitas coisas, eles não precisavam administrar centenas de contatos no Orkut nem seguir milhares de pessoas no Twitter.

(CORA RÓNAI)
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A Existência precede a essência


Quando pensamos num Deus criador, identificamo-no quase sempre como superior; e qualquer que seja a doutrina que consideremos, admitimos sempre que Deus sabe perfeitamente o que cria.

Assim, o conceito do homem, no espírito de Deus, é assimilável ao conceito de um corta-papel no espírito do industrial; e Deus produz o homem segundo técnicas e uma concepção, exatamente como o artífice fabrica um corta-papel segundo uma definição e uma técnica. Assim, o homem individual realiza um certo conceito que está na inteligência divina.

No século XVIII, para o ateísmo dos filósofos, suprime-se a noção de Deus, mas não a ideia de que a essência precede a existência. O homem possui uma natureza humana; esta natureza, que é o conceito humano, encontra-se em todos os homens, o que significa que cada homem é um exemplo particular de um conceito universal – o homem; para Kant resulta de universalidade que o homem da selva, o homem primitivo, como o burguês, estão adstritos à mesma definição e possuem as mesmas qualidades de base. Assim, pois, ainda aí, a essência do homem precede essa existência histórica que encontramos na natureza. (…)

O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente. Declara ele que, se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a realidade humana.

Que significará aqui o dizer-se que a existência precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para concebê-la.

O homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele faz. Tal é o primeiro princípio do existencialismo. É também a isso que se chama a subjetividade, e o que nos censuram sob este mesmo nome. Mas que queremos dizer nós com isso, senão que o homem tem uma dignidade maior do que uma pedra ou uma mesa? Porque o que nós queremos dizer é que o homem primeiro existe, ou seja, que o homem, antes de mais nada, é o que se lança para um futuro, e o que é consciente de se projetar no futuro. (…)

Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E, quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens.

(JEAN PAUL SARTRE)

Links indicados: A Existência precede a essência

Carta de Jean-Paul Sartre recusando o Prêmio Nobel de Literatura

EXISTENCIALISMO DE SARTRE
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A PERGUNTA


Há gente que fica paralisada diante de perguntas que perseguem a Humanidade desde sempre. Como “o que é a vida?”. Há quem consulte filósofos, leia tratados, pesquise no Google para não ficar mudo quando ouve alguma indagação metafísica como “de onde viemos?”, “para onde vamos?”.
Não sou desses. Nem por isso deixo de ficar mudo diante de algumas questões. Uma delas me persegue ultimamente. É mais prática, mais concreta, menos filosófica. Quase sempre ela me ataca no supermercado. Diante da caixa. Logo após entregar meu cartão para pagar as compras. É quando a moça, invariavelmente, me pergunta com ar displicente:
— Débito ou crédito?
Nunca sei o que responder de imediato. É claro que eu sei a diferença entre crédito e débito. Mas ali, naquela hora, diante da urgência da atendente, eu fico confuso, na dúvida, inseguro e, consequentemente, mudo. Crédito ou débito? Será esta a grande questão do universo?
Nem tenho cartão de débito. Portanto, a minha resposta, quando enfim eu consigo dar alguma reposta, é sempre a mesma. Mas antes de pronunciá-la, preciso de alguns segundos, talvez minutos, para me decidir. O que é mesmo crédito? O que é mesmo débito? Para que serve mesmo este cartão? Por que eu não consigo responder a uma pergunta tão simples?
Só há uma explicação: sofro de STB (não confundir com SBT, que me faz sofrer muito também), a Síndrome de Trocar as Bolas. É simples assim. Troco as bolas. Troco os conceitos de débito e crédito.
No domingo, em mais uma crônica genial, Verissimo, ciente que há gente que troca as bolas como eu, ensinou a diferença entre Calvin Klein e Kevin Kline, Billy Wilder e William Wyler, Von Sternberg e Von Stroheim. O texto me serviu de grande ajuda. Fiquei mais seguro em relação a uma ou outra dúvida, embora deva confessar que, em relação a Von Sternberg e Von Stroheim, eu continuo confuso, mesmo depois das explicações de Verissimo. Pois foi lendo a crônica de Verissimo que me dei conta de não estar sozinho no mundo.
Eu confundo a Siqueira Campos com a Constante Ramos, sabe Deus por quê, a Dias Ferreira com a Domingos Ferreira, a Guilhermina Guinle com a Rainha Guilhermina. A primeira confusão não me traz muitos problemas, já que as ruas estão separadas por alguns poucos quarteirões. Mas as outras realmente dão trabalho. Muitas vezes quero ir ao Leblon e me vejo em Copacabana. Ou, a caminho de Botafogo, vou parar no Leblon.
Eu confundo Hugh Grant com Hugh Jackman. Confundo Kirsten Dunst com Kristen Stewart. Os personagens de “Senhor dos Aneis” com os de “Harry Potter”. Eu confundo.
Mas a pergunta que realmente me atormenta, aquela que eu não quero ouvir e que me persegue com a fidelidade de um cão encontrado rua é uma só:
— Débito ou crédito?
(ARTUR XEXÉO)
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011 0 comentários

A noite vermelha O incêndio da Praia do Pinto no Leblon


Lembro-me que naquela noite acordei sem motivo algum. Acordei, simplesmente, sem saber por quê. No instante exato do acordar, não houve susto. O sobressalto veio depois. Olhei para a parede do meu quarto e vi que estava tomada por uma sombra incomum. Uma sombra vermelha, cor de fogo. Sempre achei que todas as sombras eram iguais, cinzentas, negras. Jamais imaginei que pudesse haver uma sombra cor de fogo. Intrigada, com uma ponta de medo, levantei da cama e fui até a janela. E então fui atraída pela luz.

Parece o início de um conto de terror – e, de certa forma, é. Foi assim que me senti naquela madrugada distante em que vi a Favela da Praia do Pinto pegar Incêndio na Praia do Pinto

fogo. As chamas eram tão tremendas que projetavam sobre a parede do meu quarto um reflexo avermelhado, um pôr-do-sol no meio da noite. Todo o terreno hoje ocupado pela Selva de Pedra estava pegando fogo. Não havia um só ponto onde não brilhassem as labaredas, projetando-se para o alto, devorando o céu, em meio ao tiroteio dos bujões de gás que explodiam.

Ao ver a cena, meu coração se contraiu. Adolescente ainda, tive a noção exata do que significava aquele espetáculo terrível, pensando, angustiada, nas pessoas que com certeza tentavam escapar do fogo. Horas depois, quando o dia raiasse, outro espetáculo me espantaria. A multidão compacta enchendo as ruas em torno da favela destruída, carregando nas costas seus móveis, seus pertences, num movimento febril que era a perfeita reconstituição de um gigantesco formigueiro.

Ao fim de tudo, manhã já alta, quando olhei o imenso quadrado cinzento que restara no lugar da favela, senti uma estranha sensação de vazio. Mas ela veio acompanhada de uma lembrança boa. A recordação de outro espaço, grande como aquele, já então desaparecido: o terreno baldio onde armavam o circo, quando eu era criança. Ficava no quarteirão entre o Jardim de Alá e a Almirante Pereira Guimarães, em plena Ataulfo de Paiva, que eu atravessava de mãos dadas com a babá, rumo ao mundo encantado e assustador que a lona escondia. Por um segundo, cheguei a pensar no circo pousando outra vez no Leblon, no imenso terreno deixado vago pela favela calcinada. Mas logo dei de ombros, sorrindo. Bobagem. Eu não era mais criança.

Mas é engraçado. Desde então, essas duas lembranças tão díspares – do fogo e do circo – andam sempre juntas dentro de mim. Dois terrenos vazios que, como retalhos quadrados numa colcha, ajudam a compor o cenário desse Leblon de onde nunca saí.

(Heloisa Seixas)
terça-feira, 13 de dezembro de 2011 0 comentários

OS FILHOS

Uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos."
E ele falou:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.

(KAHLIL GIBRAN)
domingo, 11 de dezembro de 2011 0 comentários

O QUE ACONTECE NO MEIO


No meio, a gente descobre que precisa guardar a senha não apenas do banco, mas a que nos revela a nós mesmos.

Vida é o que existe entre o nascimento e a morte. O que acontece no meio é o que importa.

No meio, a gente descobre que sexo sem amor também vale a pena, mas é ginástica, não tem transcendência nenhuma. Que tudo o que faz você voltar pra casa de mãos abanando (sem uma emoção, um conhecimento, uma surpresa, uma paz, uma ideia) foi perda de tempo.

Que a primeira metade da vida é muito boa, mas da metade pro fim pode ser ainda melhor, se a gente aprendeu alguma coisa com os tropeços lá do início. Que o pensamento é uma aventura sem igual. Que é preciso abrir a nossa caixa preta de vez em quando, apesar do medo do que vamos encontrar lá dentro. Que maduro é aquele que mata no peito as vertigens e os espantos.

No meio, a gente descobre que sofremos mais com as coisas que imaginamos que estejam acontecendo do que com as que acontecem de fato. Que amar é lapidação, e não destruição. Que certos riscos compensam – o difícil é saber previamente quais. Que subir na vida é algo para se fazer sem pressa.

Que é preciso dar uma colher de chá para o acaso. Que tudo que é muito rápido pode ser bem frustrante. Que Veneza, Mykonos, Bali e Patagônia são lugares excitantes, mas que incrível mesmo é se sentir feliz dentro da própria casa. Que a vontade é quase sempre mais forte que a razão. Quase? Ora, é sempre mais forte.

No meio, a gente descobre que reconhecer um problema é o primeiro passo para resolvê-lo. Que é muito narcisista ficar se consumindo consigo próprio. Que todas as escolhas geram dúvida, todas. Que depois de lutar pelo direito de ser diferente, chega a bendita hora de se permitir a indiferença.

Que adultos se divertem muito mais do que os adolescentes. Que uma perda, qualquer perda, é um aperitivo da morte – mas não é a morte, que essa só acontece no fim, e ainda estamos falando do meio.

No meio, a gente descobre que precisa guardar a senha não apenas do banco e da caixa postal, mas a senha que nos revela a nós mesmos. Que passar pela vida à toa é um desperdício imperdoável. Que as mesmas coisas que nos exibem também nos escondem (escrever, por exemplo).

Que tocar na dor do outro exige delicadeza. Que ser feliz pode ser uma decisão, não apenas uma contingência. Que não é preciso se estressar tanto em busca do orgasmo, há outras coisas que também levam ao clímax: um poema, um gol, um show, um beijo.

No meio, a gente descobre que fazer a coisa certa é sempre um ato revolucionário. Que é mais produtivo agir do que reagir. Que a vida não oferece opção: ou você segue, ou você segue. Que a pior maneira de avaliar a si mesmo é se comparando com os demais. Que a verdadeira paz é aquela que nasce da verdade. E que harmonizar o que pensamos, sentimos e fazemos é um desafio que leva uma vida toda, esse meio todo.

MARTHA MEDEIROS
sábado, 10 de dezembro de 2011 0 comentários

A Princípio ou A Felicidade Realista


De norte a sul, de leste a oeste, todo mundo quer ser feliz. Não é tarefa das mais fáceis. A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.

Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.

Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica, a bolsa Louis Vuitton e uma temporada num spa cinco estrelas.

E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando.
Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário,queremos ser felizes assim e não de outro jeito.

É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Por que só podemos ser felizes formando um par e não como pares? Ter um parceiro constante, não é sinônimo de felicidade, a não ser que seja a felicidade de estar correspondendo a expectativas da sociedade, mas isso é outro assunto. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com parceiros, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.

Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.

Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o
que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um game onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo.

MARTHA MEDEIROS
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011 0 comentários

4 DICAS PARA IDENTIFICAR UM MENTIROSO(A) ONLINE


Identificar um mentiroso(a) pessoalmente já não é a coisa mais simples do mundo. Descobrir quando estão mentindo pela internet, então, pode parecer impossível. Mas existem algumas técnicas que podem ajudar. Os professores de Comunicação da Universidade de Wisconsin-Madison e da Universidade Cornell fizeram um estudo para entender melhor a linguagem de 80 mentirosos na internet e chegaram a quatro características que podem denunciar um mentiroso online.
O estudo foi feito com base em perfis de sites de namoro, que estão sendo se tornando cada vez mais populares pelo mundo (não está fácil pra ninguém). Mas o resultado pode ajudar a identificar mentiras nos perfis de redes sociais como o Facebook também. Os pesquisadores entrevistaram pessoalmente 80 usuários desses sites, que classificaram a exatidão das autodescrições que eles fizeram em seu perfil. Também foi feita uma comparação da descrição que eles fizeram de seus atributos físicos (altura, peso etc.) com as medições reais colhidas em laboratório. Por fim, também foi analisado o quanto as fotos que eles haviam escolhido para colocar no site correspondiam à aparência verdadeira da pessoa.
Juntando todos esses dados, os pesquisadores usaram um programa de computador para comparar as palavras usadas nas descrições dos participantes e as informações reais e chegar a algo como o índice de mentira de cada pessoa. Assim, eles conseguiram chegar a quatro aspectos que podem ajudar caso queiramos descobrir quão sincera é uma pessoa na internet:


1.Mentirosos falam pouco
Quanto menos falarem sobre si mesmos, menos chances eles têm de serem flagrados. Preste atenção na quantidade de informações que a pessoa dá sobre si. Um perfil rico em descrições tem mais chances de ser verdadeiro, já que mostra que o seu dono não tem grandes temores de ser desmascarado. Além disso, os mentirosos tendem a evitar os temas sobre os quais mentiram em seus perfis. Se não falaram a verdade sobre seu peso, provavelmente vão evitar conversas relacionadas a alimentos. Se usaram fotos enganosas, eles vão escrever mais sobre o trabalho e outras realizações para desviar a atenção de sua aparência.



2. Stalkear um pouco é importante
Veja se o que a pessoa diz é consistente. Não se contente em dar uma lida rápida no que ela escreveu sobre si mesma. Procure evidências do que ela afirmou em outras partes do seu perfil para ver se as coisas se encaixam direitinho. Se estiver realmente interessado na pessoa, vale até dar um Google no seu nome.






3. Mentirosos evitam expressar emoções negativas
Quem mente procura passar uma imagem 100% positiva. Assim, eles evitam ao máximo falar sobre coisas que evidenciem defeitos ou emoções negativas. Por isso, desconfie. Se a coisa parece ser boa demais para ser verdade, é provavelmente isso mesmo: ela não é real










4. Mentirosos usam muito o pronome “nós”
Esse é um truque que o mentiroso usa para envolver a outra pessoa e fazer com que ela se sinta emocionalmente mais próxima dele. Ele deixa de usar o pronome “eu” e usa sempre “nós” para criar a ilusão de uma parceria precoce. Os dois mal se conhecem, mas já viraram, virtualmente, um casal.

(Ana Carolina Prado /Fonte: Psychology Today)




 
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