2c6833b0-77e9-4a38-a9e6-8875b1bef33d diHITT - Notícias Sou Maluca Sim!: março 2015
terça-feira, 17 de março de 2015 0 comentários

Á QUEIMA- ROUPA



É inverno no Rio de Janeiro. A estação traz um ar civilizado à cidade, uma calma que não se encontra nos meses tórridos. O ano de 2014 nos brindou com um julho perfeito, de chuvas passageiras, atmosfera limpa e sol ameno.

Foi num dia assim que eu soube da morte de Tintim, a dona do Guimas, assassinada à queima-roupa com um tiro na cabeça. Vítima da saidinha de banco, Maria Cristina Mascarenhas morreu no bairro que ajudou a transformar, perto de uma banca de flores; cenário bucólico, como o tempo frio.

A violência não escolhe o dia.

Há cerca de um mês, numa tarde bonita dessas, eu voltava de São Conrado com os meus. Entardecia e o engarrafamento se estendia por toda a Lagoa-Barra. Lentamente, vencemos a boca do túnel. Logo após a entrada, uma moto emparelhou conosco do lado esquerdo.

Não estranhei até meu filho berrar para sairmos dali. Sentada no banco do carona, vi dois homens pela janela do motorista. Eles vestiam casaco de malha escuro com um capuz que só deixa a boca e o nariz de fora. Nervosos, exigiam os celulares. Na mão direita do garupa havia um objeto metálico apontado na nossa direção. Era um revólver.

Meu companheiro bateu no vidro com os dedos e forçou a leitura labial, evidenciando as sílabas para que entendessem. “É blindado”,  ele disse. A lembrança me deu coragem de encarar a pistola, uma automática prateada mirada para mim. Eu me ative ao buraco negro de onde partiria o tiro, o orifício escuro, a morte. Lembrei de uma amiga que sobrevivera a cinco disparos na cara, graças ao reforço extra do carro. Não tive pânico, só um leve temor de que o vidro não resistisse ao confronto.

Irritado, o motoqueiro chutou o retrovisor e me tirou do estado letárgico. Meti a mão na buzina. Forçamos a passagem pelo meio dos carros, acelerando sem olhar para trás. Os gatunos devem ter tomado o primeiro retorno pela galeria e escapado para a outra pista. Não os vimos mais.

Longe do perigo, fui parabenizada por ter justificado o gasto com a blindagem, feito ao longo da vida. Agradeci a Deus pelo custoso seguro.

Nós continuamos abrindo caminho até avistar uma patrulha da guarda civil presa no trânsito do Zuzu Angel. Dado o aviso, a guarda teve uma atitude lógica: ligou a sirene e saiu batido. Era a única direção possível, mas a cena pareceu mais uma debandada. A guarda civil não tem porte de arma.

Sempre considerei absurdo, quase obsceno, passear por aí num blindado. Eu me rendi ao costume durante um período belicoso da Rocinha. Fui pegar meu filho na escola e dei com um caveirão atravessado no alto da Marquês de São Vicente.

Três soldados trocavam um pneu furado, enquanto dez homens tensos, de escopeta e colete, faziam a escolta. Eram mundos paralelos, o meu e o do pelotão, convivendo apertados na ladeira que leva ao morro. Mandei blindar.

Não me orgulho, mas não me arrependo. Hoje, talvez, eu não estivesse aqui para contar a história.

FERNANDA TORRES

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PAI DE FIM DE SEMANA



Quem disse que é fácil ser Pai de Fim de Semana?
Só, que às vezes, é o que resta...

Abro a porta, e o silêncio da casa me invade. Teus vestígios ainda estão por todos os lados. As almofadas reviradas na sala tem o seu jeitinho. A boneca e os papéis de chiclete no tapete, são pura arte. Arte de ser feliz. Entro na casa, e tua ausência me recebe em todos os cômodos. Dói.

A bagunça que nossa alegria deixou eu não vou arrumar, ela é marca da tua presença. Tua dança, ainda dança, num balé cheio de graça, alegria e, agora, saudade. Tua voz, teus gritinhos, tua inocência e teus risos ecoam como a mais doce música, e preenchem o silêncio do resto de domingo sem solução. No banheiro, a toalha e a marca dos teus pezinhos no chão ainda úmido. E, por toda a casa, as cores dos teus brinquedos e da tua voz. Teu perfume de anjo está por todos os cantos da casa e da minha alma. Tua presença é tão forte que ainda posso sentir teus bracinhos em volta do meu pescoço, apertando, e, essa sensação é que não me deixa sufocar de saudade. Dói.

Senti vontade de chorar, mas tomei água e passou, você não é tristeza, é alegria. Tua chupeta em cima do telefone. O copo em que bebeste água. A jujuba embaixo do sofá. O desenho na parede, os papéis picados. Nossas brincadeiras, tuas mãozinhas fazendo carinho na minha cabeça de uma forma única no universo, que só você sabe, e a batata frita no chão da cozinha.

Trocar tua roupinha, calçar teus sapatos, pentear teus cabelos, assoar teu nariz. Ouvir tua voz me chamando de papai. Teus olhinhos puxados, teu sorriso sapeca. Tuas perguntas me ensinando a aprender cada vez mais a beleza e a força da vida.

Não sou teu pai só no fim de semana, o sou a cada segundo de todos os minutos, de todos os dias de minha vida. Cada sorriso meu, traz a presença da tua alegria. Sou um poço sem fundo, que só será preenchido com a tua felicidade. Te quero livre, forte e segura. Quero ser teu porto seguro, teu amigo, teu pai. O que mais desejo é que sintas a mesma felicidade que me proporcionas. Sou feliz a cada sorriso teu. E teu sorriso é tão poderoso que irá me fazer feliz o resto da semana sem você.

No dia seguinte, a casa já estará toda arrumada, mas tua presença permanecerá intacta, eterna e inesquecível.

E esperaremos, eu e nossa casa, por toda a semana, ansiosos por tua bagunça, tuas cores e tua alegria.

Mais de vinte anos depois de ter escrito essas linhas, posso dizer com o maior orgulho que um pai pode ter: minha filha é, hoje, uma pessoa do bem, independente, uma profissional e artista altamente competente e, principalmente, minha melhor e grande amiga.

Edmir Silveira 
segunda-feira, 16 de março de 2015 0 comentários

CADA UM DE NÓS...

Cada um de nós é como um homem que vê as coisas em um sonho e acredita conhecê-las perfeitamente, e então desperta para descobrir que não sabe nada. 


(Platão, político)
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PARIDADE



As pessoas  tem medo de expor suas ideias, vontades e delírios. 
Mantenho profunda adimiração por aqueles que quebram essas barreiras,
os que ao menos tentam dizer verdadeiramente o que acreditam sentir. 

É bom ao conhecer alguém saber que o que sai de sua boca encontra paridade com o que nos diz seus olhos.Penas esses especiais tonarem- se cada dia mais raros. 
domingo, 15 de março de 2015 0 comentários

ODEIO DAR ENTREVISTAS


Detesto a sensação de ter uma câmera direcionada para a minha cara capitando continuamente todas as minhas expressões. É terrível está frente a um entrevistador que ergue intimidadoramente o microfone, enquanto faz perguntas estapafúrdia, da quais não deseja respostas sinceras e tão pouco respostas inteligentes. Pretende apena respostas redundantes e curtas, que confirmem uma outra opinião já emitida, e essa se repetirá imbecilmente quase como nos sãos transmitidos os ditos populares.


A resposta que ele precisa não é a resposta eu desejo dar, no entanto, se não respondo com meu espirito, então não sou eu. Mas se respondo, os olhos questionadores da câmera podem ser milhares - aterrorizante. Qual jugo farão de mim? 
 
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