2c6833b0-77e9-4a38-a9e6-8875b1bef33d diHITT - Notícias Sou Maluca Sim!: 2014
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014 2 comentários

TALVEZ




Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,

E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos…
E por amor
Serei… Serás… Seremos…

PABLO NERUDA
0 comentários

GUERREAR É PRECISO?



A TV mostra quarteirões transformados em ruínas por bombas e foguetes. 
Que sentido tem isso?

Diante das guerras que se travam hoje no mundo, sou obrigado a me perguntar por que, depois de séculos de massacres, o homem continua, como nos primórdios da civilização, a se armar e guerrear. Aliás, não apenas continua, torna-se mais capaz de matar, valendo-se de armas cada vez mais sofisticadas.

Logo me vem à mente a bomba atômica, que só não foi usada na escala que os belicistas pretendiam, porque, neste caso, quase ninguém sobreviveria. E os estadistas querem a guerra desde que ela não os atinja pessoalmente. Eles decidem por fazê-la, mas quem morre são os soldados e o povo em geral. Os chefões, quase nunca.

Costumo dizer que frequentemente me surpreendo com o óbvio, e isso acontece agora, quando a televisão me bombardeia diariamente com o número de mortos pelas bombas e foguetes na faixa de Gaza, na Síria, na Líbia, no Iraque, na Ucrânia.

Surpreendo-me com a quantidade de dinheiro que os países gastam com armamentos. E não só com armamentos, mas também com as forças armadas. Todos os países têm permanentemente centenas de milhares de soldados que constituem os efetivos militares. Eles fazem parte do Estado, como elemento fundamental dele, e constituem carreiras a que milhares e milhares de pessoas dedicam suas vidas.

Com isso, gastam-se fortunas, com a finalidade de fazer guerra. Claro, se for preciso. Mas a verdade é que essas forças são formadas e mantidas com essa finalidade: a defesa da pátria pelas armas, se for o caso. E por que isso? Porque a guerra é uma possibilidade permanente para os Estados, todos, sem exceção.

Mas por quê? Que os povos selvagens vivessem se matando, dá para entender. Por exemplo, os índios do Brasil neolítico, que eram nômades, viviam do que colhiam na natureza, eram obrigados a se deslocar para outras regiões em busca de alimentos. Se houvesse outra tribo ali, a guerra entre as duas era inevitável. Mas e hoje, por que a guerra?

As razões são as mais diversas. Ou é um louco como Hitler, que sonhava dominar o mundo, ou é concepção religiosa que leva líderes a atacar seus vizinhos, ou disputa de mercado. Mas, depois de tanta guerra que já houve, por essas e outras razões, resultando na morte de milhões de pessoas, parece que muito pouco o homem aprendeu com isso.

É certo que uma boa parte dos países --particularmente aqueles que sofreram na carne as consequências das últimas guerras-- evita lançar mãos das armas para impor seus interesses, mas mesmo estes continuam a produzir armamentos, cada vez mais sofisticados e mais mortais. A cada dia surgem notícias de aviões de guerra invisíveis aos radares, foguetes com velocidade e alcance inimagináveis, armas essas que anulam qualquer possibilidade de defesa.

Que significa isso, senão que a guerra é possível a qualquer momento, embora não se saiba entre que países e por que razão? Para que aquelas armas sejam concebidas e produzidas, os governos investem em pesquisa tecnológica e na formação de cientistas que dedicarão sua inteligência, seus conhecimentos e sua vida a produzir instrumentos de destruição. Mas não só os governos, há também empresas privadas que investem em armamentos, que vendem para diferentes países e com isso ganham fortunas. Muitos desses países mal têm recursos para atender as necessidades básicas de seu povo mas, ainda assim, compram armas e mantêm exércitos prontos para a guerra.

Desse modo, a guerra, quer ocorra ou não, é fator importante da economia mundial. Mesmo o Brasil, que não se caracteriza como um país belicoso, produz e vende armas para outros países. Deve-se concluir, portanto que a hipotética eliminação da guerra, por tornar a produção de armas desnecessária, não conviria a esses países, mesmo porque conduziria a uma grave crise na economia em escala planetária.

Isso, portanto, está fora de cogitação. E a televisão, a cada momento, dia após dia, nos mostra populações em pânico, mulheres desesperadas tentando escapar com seus filhos, das bombas que explodem à sua volta. E mostra também quarteirões inteiros de cidades transformados em amontoados de ruínas por bombas e foguetes. Que sentido tem isso?

FERREIRA GULLAR 
0 comentários

AMOR É COMO NOS COMPORTAMOS COM OS OUTROS




Cada pessoa é como aqueles ambulantes que andam com uma placa de anuncio pelas ruas: na parte da frente estaria escrito: "Reconheça-me" e na de trás "Faça-me sentir importante". se você entender isso nas pessoas passará a ter autoridade sobre elas. isso mostra que podemos demonstrar bondade com as pessoas, independente dos nossos sentimentos. 

Amor não é como nos sentimos a respeito dos outros, mas como nos comportamos com os outros.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014 0 comentários

O NEGÓCIO É FAZER PARTE DO MEIO MESMO QUE ACORDE ASSADO


Sinto-me incomodada quando penso que todos os dias, o tempo todo somos torpedeados por propagandas e ideologias as quais nos forçam a algum convencimento de ideias que não são nossas. É a correnteza dos rios direcionada para um mesmo local, seja na faculdade, igreja, sindicato...não há fuga nem nas ilusórias publicações da internet.

É difícil para mim entender como mesmo pessoas que se dizem maduras, esclarecidas,muitas  vezes  ignorem essa realidade e as poucas que dão conta tem suas vozes  reprimidas.

Vejo o negro querer se fazer de "branco elite" e acreditar pertencer a esse grupo enquanto o que recebe é apenas esmola, e não percebendo ou fingindo não perceber o escarnio, o espólio sofrido.

O classe média fazendo o serviço sujo para um partido político para bancar de rico frente aos parentes. Porque o negócio é fazer parte do meio mesmo que acorde assado, afinal, desde o berço somos todos educados a ter o que o vizinho tem ou melhor (e não importa os meios para se chagar a isso).

 Mas quer saber, nada disso tem haver com falta de conhecimento ou oportunidade como alguns podem pensar; e sim com egoísmo e vontade de tirar vantagem e nesse caso a maior conquista social é a superioridade.

Para isso o fudido acaba sempre se vendendo barato. Vende a si e a os seus por qualquer status melhorzinho.

Tratando-se de governo, antes de tudo, somos induzidos a pensar que esse e alguns burocratas tem algum poder, e tomam todas as decisões, e não que esse "poder" é apenas um disfarce de neutralidade com discursos a favor da população quando o que está sendo defendido de fato é o interesse dos donos do capital

Fui muito Marxista agora?

Líderes de oposição são comprados ou construídos: resultando numa oposição direcionada para manter de pés e mãos atadas aqueles que por acaso tenham tendências extremistas. você pode se manisfestar sim, reivindicar sim, mas só até esse ponto,do contrário  estará fugindo da ideologia do grupo,estará  prejudicando o grupo... o que é mal, é feio, é rude.

E o tal líder do grupo (o vendido) é sempre convincente, pois irá pertencer a mesma classe social que você, a mesma categoria sindical, está na mesma faculdade ou associação, conhece suas revindicações, sabe bem como te manipular.

Entre iguais é sempre mais fácil o convencimento. Você já comprou  a ideia antes dele se quer abrir a boca, logo, você fará béééé junto com as outras ovelhinhas, mas só quando o líder mandar.

A dona de casa, cansada ao final do dia vai assistir a novela para distrair e lá está a anedota do pobre feliz e do rico infeliz, junto a um  monte de propagadas fúteis incentivando o consumo.

Somos  torpedeados, mas ainda assim, não compreendo a maioria das pessoas deixar passar desapercebida toda essa manipulação. De que modo muitas ainda se deixam levar por pensamentos como:

a sombra é para quem pode,
o trabalho enobrece homem,
dinheiro não traz felicidade,
vou por só a cabecinha...

Minha gente, estão nos  enganando!


Estudo, estudo, estudo e não vejo solução para o país, sou pessimista. Quer dizer: serei pessimista se aqueles a quem o governo representa  me permitirem ser, pois ser pessimista hoje no Brasil é o já  sitado - é mau, é feio é rude.

Feliz é quem tem no bolso a possibilidade cruzar o atlântico,conhecer outros mares. Enquanto mantemos nossas mentes apenas aqui, não temos conhecimento de nada, não sabemos sobre a piscina, a margarina, a Carolina.


Infelizmente aos trinta anos de idade ainda sou pobre e não dá  para viajar. Não me esforcei o suficiente para enriquecer ou não tive interesse em estudar? Nesse caso por eu ser incompetente, e para não ficar deprimida por aquilo que não sou capaz de fazer, me é dada alternativa de livros de autoajuda e ceitas religiosas, a programação da TV no dia de domingo.

O ópio perfeito.

Bem, agora é melhor que cale minha boca, pois sou irredutível e se eu fizer muito barulho cortam minha cabeça.

Jaqueline Ramiro
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014 0 comentários

ELA E A TAÇA DE VINHO




A dúvida, antes de tudo anatômica, revela uma profunda ignorância, sobretudo espiritual


Ela parecia ansiosa em meio àquelas pessoas, mas era apenas desejo. Bebera muitas taças de vinho. Sabe-se, há milênios, que a virtude de uma mulher depende do número de taças de vinho que bebe.

Aliás, segundo relatos genealógicos, os antigos praticavam um ritual bastante comum e que, segundo alguns especialistas, ainda é praticado hoje em dia. O ritual, apesar de pouco sabermos de seus detalhes, implicava no uso da mulher como taça de vinho.

As mulheres quando tomam muitas taças de vinhos (não todas, como pessoa que sabe se comportar à mesa, sei que nem todas são iguais, algumas são diferentes) sonham em ser elas mesmas usadas como taça de vinho.

Alguns homens, pouco informados, se perguntam, afinal, como uma mulher poderia ser usada como uma taça de vinho. A dúvida, antes de tudo anatômica, revela uma profunda ignorância, antes de tudo, espiritual.

Perguntas assim são como aquelas que, normalmente, homens chatos fazem no final da noite, e que exigiriam respostas semelhantes a explicar a razão de Deus ter criado o universo, sendo Ele todo poderoso e vivendo Ele muito bem em Sua solidão perfeita.

Já elas, nascem sabendo. Mas, muitas vezes, esse "saber" (como dizem os afetados teóricos pós-modernos pra se referirem ao conhecimento) é mesmo da ordem inconsciente, não do inconsciente da mente, mas da pele. Esse "saber" é aquele que torna úmido o coração entre as pernas.

Outra forma de perceber esse desejo avassalador de ser usada como taça de vinho é pelo olfato. Ela, seguramente, em meio a todas as palavras ditas ao vento, como é comum em ambientes sociais cheios de gente inteligente, exala o odor típico de quando se quer misturar pele, saliva e vinho.

Certa feita, quando eu disse que a virtude de uma mulher dependia do número de taças de vinho que ela bebia, um desses jovens trêmulos e muito magros, que gostam de pensar que superaram o machismo por alguma forma de desejo inofensivo (ela sempre sabe que todo desejo que importa é ofensivo de alguma forma), me acusou de ser niilista.

Por quê? Simples. Porque eu negava a existência da virtude "em si" já que eu a reduzia, segundo ele, ao efeito da presença ou ausência da quantidade de álcool no sangue.

Claro, poderia ter dito a ele que desde a filosofia grega cética, caras como Enesidemo (nascido em Creta no século 1º antes de Cristo) ou Sexto Empírico (médico e filósofo grego que viveu entre Atenas, Alexandria e Roma entre os séculos 2 e 3 depois de Cristo) afirmavam que o comportamento de alguém nunca pode ser tomado como "verdadeiro" porque se ele (ou ela) bebeu algo, o comportamento fica diferente.

A dúvida cética aplicada a ela seria assim: afinal, quem é ela? A jovem e muito compenetrada intelectual ou a deliciosa bêbada que sonha em ser usada como taça de vinho? Quem é "seu verdadeiro ser"?

Óbvio que nada disse ao jovem trêmulo porque, na verdade, ele provavelmente nada entenderia uma vez que tendo ele já suposto que se pode desejar uma mulher "com respeito", isso significa que ele não conhece esse recôndito recanto da alma feminina e sua irresistível vocação para fundamentar sua virtude no número de taças de vinho que bebe numa noite.

Mas, a verdadeira crítica do jovem trêmulo à minha afirmação era que eu estaria duvidando da capacidade feminina de ser honesta "em si". Meu Deus, quanta cegueira num corpo tão magro.

As meninas à nossa volta, todas já tendo tomado algumas taças de vinho, imersas em pura misericórdia, sorriam pra mim pedindo que fosse piedoso.

Escravo como sou da virtude feminina máxima, sua beleza, cedi imediatamente ao impulso de me defender de tamanha absurda acusação de duvidar da honestidade feminina "em si".

A verdade, aquela altura da noite, é que eu estava de fato fazendo uma ode a mais pura honestidade feminina em si: a honestidade que vem diluída no número de taças de vinho que ela bebe.

A prova máxima, e que no passado os homens aprendiam desde jovens (hoje eles aprendem a ter medo das mulheres que os desejam), é que quando ela quer mentir, ela não bebe nada.

LUIZ FELIPE PONDÉ
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014 0 comentários

YEMOJA ADOTA OBALUAIÊ



Iya Sare Loni... Eru Iya, Eru Iya o...


Nanã era esposa de Osala, e apos muito tempo juntos ela engravidou do seu primeiro filho. Quando o Bebê nasceu ela estava doente, havia chagas em sua pele e isto lhe dava uma aparência horrível. Ela então decidiu que seria melhor não levar a diante esse Bebê, e o abandonou em uma praia. 
Yemoja ao ouvir o choro de uma criança foi até a praia ver quem era, e então ela viu o bebê sendo atacado por caranguejos.
Yemoja pegou o bebê e o adotou, o criou como seu filho. Curou suas chagas e lhe deu parte de seu reino, as perolas são dele que dela recebeu o título de Jeholú (senhor das perolas).
O menino doente se transformou em um rei, Obaluaie o dono da terra.

Nanã se arrependeu do que fez. Mas Obaluaiê recebeu tanto amor de Yemoja que nao criou mágoas.

Yemoja e a grande mãe.
Ela ama e ama e não pede nada em Troca.

Eruya!
Bendito coração que bate no peito de Yemoja...
terça-feira, 9 de dezembro de 2014 1 comentários

LENDA DA OXUM E IEMANJÁ



Iemanjá sentia um imenso amor por sua irmã Oxum
Nesta lenda Oxum a mais bela das Yabás,era uma rainha muito rica que se orgulhava por ser uma figura esplêndida e por possuir jóias, ricos vestidos, e também do seu enorme e sedoso cabelo.

Passava muitas horas olhando se no espelho e vendo refletir seu rosto.
Seu reino foi alvo de guerras sangrentas e a Oxum não restou outra alternativa senão fugir e abandonar tudo.

A partir daí passou por momentos de privação e trabalho duro.
Das suas vestes só lhe restou um vestido desbotado e estragado de tanto lavar no rio,teve que vender suas jóias para comer e devido ao seu sofrimento perdeu seu cabelo.

Oxum estava pobre ,escrava e só. Oxum chorou na beira -do-rio e como todos os rios desembocam no mar, as suas lágrimas chegaram até o fundo do mar, onde vive Iemanjá sua irmã mais velha. Então na verdade Oxum não estava sozinha.

Dona de todas as riquezas do mundo e pessoa que mais amava Oxum sobre a Terra, Iemanjá decidiu ajudar a sua irmã.
Iemanjá foi ao encontro da sua irmã que estava destruída material e espiritualmente. E disse a Oxum:

“Não chore mais Oxum, tuas lágrimas se cravam em meu coração. Rainha foi e rainha voltará a ser por graça de Olofin. De hoje em diante, te pertencerá todo ouro, que se encontra nas entranhas da terra, todos os corais que se encontram no fundo-do-mar, serão seus para que se enfeite com eles. 

Não voltará a trabalhar como escrava irá sentar-se em um trono dourado ,como corresponde as rainhas. Terás um abano de pavão real que és meu e passará a ser seu. E para que não fique mais atormentada porque perdeu seus cabelos, olhe ,vê os meus cabelos? Recordas que és meu orgulho, assim como o seu era para ti? Toma e faça uma peruca com eles até que os seus cabelos voltem a crescer.”

Dita estas palavras Oxum com sacrifício e lágrimas nos olhos cortou um pedaço do cabelo de Iemanjá.

Desde esse dia Oxum defende sempre as filhas de Iemanjá e vice-versa. Essa é a causa pela qual as filhas de Oxum e Iemanjá devem evitar cortar muito os cabelos.

Odoyá ♡
Ora yê yêo
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014 1 comentários

A ANATOMIA DAS EMOÇÕES



Uma pequena estrutura do cérebro, a ínsula, está
surpreendendo os cientistas, que ali descobrem
a sede de diversos sentimentos humanos



Numa das regiões mais recônditas do cérebro, os neurocientistas encontraram uma nova peça para um dos mais instigantes quebra-cabeças da medicina é o mapeamento das emoções humanas. Do tamanho de uma ameixa seca, a ínsula trabalha em parceria com outras duas estruturas cerebrais, o córtex pré-frontal e a amígdala (estes, sim, velhos conhecidos dos estudiosos no controle de diversas emoções). A ínsula funciona como uma espécie de intérprete do cérebro ao traduzir sons, cheiros ou sabores em emoções e sentimentos como nojo, desejo, orgulho, arrependimento, culpa ou empatia. "Ela dá colorido psíquico às experiências sensoriais", diz o neurocirurgião Arthur Cukiert. Ou, como definiu o psiquiatra americano Martin Paulus, professor da Universidade da Califórnia, é na ínsula que o corpo e a mente se encontram.

Descrita pela primeira vez no fim do século XVIII, pelo anatomista e fisiologista alemão Johann Christian Reil, a ínsula sempre foi negligenciada pelos pesquisadores. A dificuldade de acesso impedia estudos mais minuciosos sobre sua fisiologia. Nos últimos dez anos, graças ao aperfeiçoamento dos exames de imagens, como a ressonância magnética funcional, a ínsula despertou a atenção dos neurocientistas. Flagrada em pleno funcionamento, já se viu que ela é ativada toda vez que alguém ri de uma piada, ouve música, reconhece expressões de tristeza no rosto de outra pessoa, quer se vingar ou decide não fazer uma compra (veja o quadro) "Os estudos já mostraram também que a superativação da ínsula está relacionada a diversos distúrbios psiquiátricos, sobretudo as fobias e o transtorno obsessivo-compulsivo", diz o neurologista Mauro Muszkat, da Universidade Federal de São Paulo. Imagens do cérebro indicam que lesões na ínsula podem levar à apatia, à perda de libido, a alterações na memória de curto prazo e à incapacidade de alguém distinguir pelo cheiro um alimento fresco de outro estragado.

O trabalho mais fascinante sobre a ínsula foi divulgado recentemente pela revista científica Science. Tudo começou com a história do senhor N., de 38 anos. Tabagista compulsivo, ele fumava cerca de quarenta cigarros por dia. Um derrame, no entanto, fez com que ele instantaneamente abandonasse o vício e "esquecesse a vontade de fumar", como descreveu aos pesquisadores das universidades de Iowa e do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. Com o derrame, a ínsula do senhor N. havia sido lesionada. Outros pacientes, também fumantes e com danos na mesma região cerebral, foram avaliados. A maioria deles perdeu a vontade de fumar. Esse estudo foi o primeiro a relacionar uma área específica do cérebro ao vício. "O tabagismo não pode ser explicado apenas pela ação da nicotina no cérebro", diz Nasir Naqvi, um dos autores da pesquisa. "O vício deflagra uma série de mudanças comportamentais e fisiológicas e o aumento dos batimentos cardíacos, a elevação da pressão, a alteração do paladar e a sensação da fumaça entrando nos pulmões, entre outras." Todas essas informações são processadas na ínsula e traduzidas na ânsia de acender mais um cigarro. Trabalhos como esse abrem o caminho para o desenvolvimento de novos tratamentos contra o tabagismo e outros vícios, como a dependência de drogas e o alcoolismo.

Como se trata de uma área de pesquisa relativamente nova, a ciência ainda não conseguiu esmiuçar todas as funções da ínsula. As diferentes partes do cérebro não agem isoladamente, mas por meio de circuitos múltiplos, que interagem entre si e o que torna o estudo do cérebro extremamente complexo. De qualquer forma, as descobertas recentes sobre a ínsula são uma fonte preciosa de informações sobre a anatomia das emoções. Um dos grandes estudiosos do tema é o neurocientista português António Damásio. Ele busca em seus estudos a base biológica das emoções e da consciência humanas. "Os sentimentos não são nem inatingíveis nem ilusórios. São o resultado de uma curiosa organização fisiológica que transformou o cérebro no público cativo das emoções teatrais do corpo", escreveu Damásio no livro O Erro de Descartes.


A ponte entre o corpo e a mente


ONDE FICA 

Do tamanho de uma ameixa seca, a ínsula está localizada numa das áreas mais profundas do cérebro, na face interna do lobo temporal, um dos sistemas envolvidos no processamento da memória, do pensamento e da linguagem


O QUE SE SABIA SOBRE A ÍNSULA... 

Até dez anos atrás, a ínsula era caracterizada como uma das áreas mais primitivas do cérebro, envolvida em atividades básicas como alimentar-se e fazer sexo

  
...E O QUE REVELAM AS DESCOBERTAS MAIS RECENTES 

• Na porção frontal da ínsula, experiências sensoriais são transformadas em emoções e sentimentos como nojo, desejo, decepção, culpa, ressentimento, orgulho, humilhação, arrependimento, compaixão e empatia

• Ela prepara o organismo para situações que ainda estão por vir. Quando, por exemplo, alguém tem de sair de casa e lá fora faz frio, a ínsula é ativada de modo a ajustar o metabolismo para enfrentar a situação

• A ínsula modula a resposta do organismo a estímulos dolorosos

• Em pacientes vítimas de fobias e de transtorno obsessivo-compulsivo, a ínsula registra atividade intensa

 Anna Paula Buchalla

Fontes: Mauro Muszkat, neurologista, e revista Science



sexta-feira, 5 de dezembro de 2014 2 comentários

QUEM AMA O FEIO, BONITO LHE PARECE



Se você é jovem, um desses que ainda frequenta escola ou faculdade, deixo por conselho que namore os feios, pois o bonitinho de hoje pode ser o feio de amanhã, daí já imaginou a sua decepção? Mais o contrário também pode acontecer, do feio se transformar em príncipe, nesse caso namorar o feio é um investimento para o futuro.

Por esses dias estava num desses poucos momentos em que assisto TV e es que no comercial tive uma aparição: era um ex namoradinho passando no comercial. Pelo o amor de Jimi Hendrix, a surpresa não foi por ele está na TV, mas em razão da sua aparência. Quando namorávamos ele era alto, elegante. As moças curvavam o pescoço para vê-lo passar, as amigas me invejavam por estar com ele, mas agora o carinha é a visão do Jason sabe, aquele dos filmes de terror com uma máscara de hóquei. E o pior: é um Jason obeso. 
Será que os buracos na cara do meu ex são marcas de inúmeras espinhas ou ele teve uma catapora violenta? Não sei.  


Rubens Alves no documentário professor de espantos diz que quando gostamos muito de um lugar, passado muitos anos, melhor não visita-lo, pois dificilmente ele será agradável como você se recorda. Acho que isso vale para pessoas também. 
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014 1 comentários

BANCO DA VIDA



Imagina se um banco deposita todos os dias R$ 86 400 e que você deveria gastar no longo no dia, pois no final do dia tudo seria zerado e no dia seguinte mais R$ 86 400  seria depositado.


Todos nós somos clientes desse banco e esse banco se chama TEMPO. 

Deus no dá 86 400 minutos para ser vivido da melhor maneira possível, amando, aprendendo, ensinando, caindo, levantando...VIVENDO. 

Que pra você saber o valor de um ano, você pergunta para um garoto que repetiu de ano.

Para saber de um mês, você pergunta para uma mulher que teve seu filho prematuro,

De uma semana, pergunte ao editor de um jornal semanal,

Pra saber um valor de uma hora pergunte para os apaixonados que não veem a hora de se encontrarem, 

Pra saber o valor de um minuto pra quem perdeu um avião, de um segundo pra quem conseguiu evitar um acidente de trânsito, pra saber o valor de um milésimo de segundo pergunte a um atleta que ganhou uma medalha de prata nas olimpíadas....

Por isso não desperdice seu tempo, ele é o seu bem mais precioso e com ele que você vai compartilhar com as pessoas que você mais ama, seus filhos, sua esposa, marido, amigos, avós, e a gente só se dá conta quando a gente perde...

“Eu tinha tanto beijo pra dar, tanto abraço”... A gente tem que viver o AGORA, o ontem é história, o amanhã um mistério, e o hoje é uma dádiva. 
Por isto se chama presente.



0 comentários

RESPOSTA AO FUNK OSTENTAÇÃO



"Você ostenta o que não tem
Pra tentar parecer mais feliz
Mas não sabe que pra ser alguém
Tem que agir ao contrário do que você diz"



domingo, 30 de novembro de 2014 1 comentários

AS MENTIRAS QUE A GENTE CONTA E OUVE



Mentira é tudo igual? Não, mentira é como o vinho.
Há as suaves e as rascantes.
Há mentiras quase piedosas. Os cabelos de sua amiga, que antes eram louros, agora surgem mais negros do que as asas da graúna. Ficou horrível. Para bruxa, só falta a vassoura. Quando ela pergunta se você gostou – e oferece o endereço do salão – você diz o quê?

Sua mais nova paixão vai estar em determinado lugar. Você dá um jeito de aparecer, fingindo coincidência. Mentira desse tipo pode? Veja bem: mal não fez…
Algumas mentiras funcionam quase como um silicone entre você e o outro. Uma camada protetora no contato. Evita maiores atritos e possíveis queimaduras doloridas. Nesse caso, mentiras silicone são pecado?

Chove muito. Você está de pijama, em casa, vendo O filme. Aquele que você esperou meses para ver na televisão. Pipoca, refri, cobertor. Nada faria você largar o feliz aconchego do seu lar.
Mas… o celular toca. Seu amigo – que briga dia sim, dia não com a namorada – quer desabafar. Hoje é o dia sim. Justo hoje.
Seu filme rolando, amigo falando. Você repete pela milésima vez os mesmos conselhos de sempre.

Não há novidade no caso, é crônico.
E seu filme no ápice. Vão matar o mocinho, o que você faz? Mente para o amigo, que no dia seguinte estará certamente de novo feliz ao lado da mesma namorada? Prioriza o filme, afinal, o mocinho está lá sofrendo tanto, também merece sua atenção. Mentir para o amigo pode? É pecado? Escolha sua opção.

Se falar a verdade, vamos combinar, vai melar a situação. Não se dispor a escutar um amigo na hora do sofrimento? Que feio! Que amigo é você? Uma mentira silicone pode ser salvadora em horas de agonia.

E omissão? Vale como mentira também? Já encontrei mais pessoas do que gostaria em condições bem embaraçosas. É constrangedor! Eu finjo que nada vi, olho para o outro lado, saio de fininho. Nunca toco no assunto com nenhuma das partes interessadas. Sou falsa, eu? Nem vi nada.
O que fazer com a mentira?  Questiona, imprensa, vai a fundo e tira a limpo? Ou faz cara de paisagem, deixa passar com um ar de quem nem percebeu, dá um sorrisinho, finge que acreditou, engole esse sapo e deixa seguir o barco?

Muitas mentiras ferem não por serem mentiras em si. Mas pelo que trazem de significação quando são decifradas.
O sujeito aparece online na rede social. Você, apaixonada, chega a ter palpitação. Dedos aflitos para dizer oi. Mas, para você, ele só envia mensagem três horas depois. Ou seja, quando todo mundo já foi dormir e você foi a única que sobrou. Dói? Muito. Você digita pedindo explicação? Ele pode alegar sinal ruim, fora da área de cobertura, qualquer coisa do tipo.

O importante não é o que ele justifica. O que dói é perceber que, em termos de lista de prioridade, o seu nome não vem entre os 100 primeiros. Vale aceitar a mentira e continuar investindo?
Vale o que você resolver. Em termos de amores, vale o que cada um consegue resolver e bancar.
No geral, enfrentamentos são gastos desnecessários de energia. Dizer para um mentiroso que é mentira o que ele diz é enxugar gelo. Se ele sabe que mentiu e você sabe que é mentira, esse assunto já não está resolvido?

Meias verdades também valem como mentira? Claro que não estamos falando de situações graves de dolo, de pessoas sendo prejudicadas, tripudiadas ou humilhadas. Numa comparação grosseira, não estamos pensando em casos de casos de grandes cortes, sangue, sutura. Mas, de arranhões onde um simples band aid resolve.

Só tome cuidado com uma coisa: não trate como pão fresquinho quem te trata como migalha dormida, raspas e restos. Porque, às vezes, no vazio da carência, as pessoas se encolhem, fazem uma promoção afetiva, tipo saldão de balanço, para não ficar sozinhas. E o risco é acabarem achando que só valem aquilo mesmo, que não merecem ou não conseguem nada melhor. Um grande perigo. As pessoas acabam valendo o preço que acham que tem.

Mônica El Bayeh


1 comentários

OTTO LARA RESENDE - Frases




Sou exatamente o menino que aos nove anos foi declamar um verso de Antero de Quental e se perdeu.

Tenho para mim que sei, como todos os brasileiros, os três primeiros minutos de qualquer assunto.

O único erro humano que merece a pena de morte é o de revisão.

Abraço e punhalada a gente só dá em quem está perto.

A tocaia é a grande contribuição de Minas à cultura universal.

O mineiro só é solidário no câncer.

Minas está onde sempre esteve. (Ao definir a posição do governador Magalhães Pinto, em 1961, na crise da renúncia de Jânio).

Para mim, domingo sem missa não é domingo.

O homem é um animal gratuito.

Não quero tripudiar sobre ninguém. Junto a isto um insanável sentimento de simpatia, que me domina, por todos os decaídos.

Quem me garante que Jesus Cristo não estaria hoje na estatística da mortalidade infantil?
Escrevemos, escrevemos, escrevemos. Clamamos no deserto. O clube do poder tem as portas lacradas e calafetadas.

Todo mundo que cruzou comigo, sem precisar parar, está incorporado ao meu destino.

Política é a arte de enfiar a mão na merda. Os delicados (vide Milton Campos) pedem desculpas, têm dor de cabeça e se retiram.

Intelectual na política é quase sempre errado. É sempre errado. A práxis não deixa espaço para pensar; pensar é muito sutil, enrascado, complexo, multiplica as alternativas.

Deus é humorista.

Há um lado pobre-diabo em mim. Os pobres-diabos logo farejam e se irmanizam, me perseguem, não me largam.

Sou jornalista, especialista em idéias gerais. Sei alguns minutos de muitos assuntos. E não sei nada.

Aproximei-me do espetáculo político pelo que há nele de fascínio humano. A política talvez seja uma forma de tentar driblar a morte.

A ação política é cruel, baseia-se numa competição animal, é preciso derrotar, esmagar, matar, aniquilar o inimigo.

Ultimamente, passaram-se muitos anos.

Devo ter sido o único mineiro que deixou de ser diretor de banco.

Sou um sobrevivente sob os escombros de valores mortos.

Devemos a Graham Bell o fato de estarmos em qualquer lugar do mundo e alguém poder nos chatear pelo telefone.

Texto de jornal é estação de trem depois que o trem passou. Deixou de ter interesse.

É a morte que nos leva a desejar a imortalidade impossível. (Ao aceitar concorrer a uma vaga na ABL).

Patrão de esquerda só é bom até o dia do pagamento.

Hoje eu reúno duas condições que em princípio se excluem: sou careca e grisalho. (Ao fazer 60 anos).

Consegui ser avô de minha filha e pai de minha neta, eliminando a intermediação antipática do genro. (Por ocasião do nascimento da filha temporã, Heleninha).

Leio muito à noite. Só não sou inteiramente uma besta porque sofro de insônia.

Sou autor de muitos originais e de nenhuma originalidade.

Não sou alegre. Sou triste e sofro muito. Dentro de mim há um porão cheio de ratos, baratas, aranhas, morcegos, escuro, melancolia, solidão.

O humor é a grande expressão, o melhor canal para dar notícia da vida, da nossa tragédia interior e exterior.

O mineiro seria um cara que não dá passo em falso, é cauteloso. Em Minas Gerais não se diz cautela, se diz pré-cautela...

Eu escrevo todo dia, por compulsão. Mas agora, aos 70 anos, uma das perguntas que mais me intrigam é o que eu vou ser quando crescer.
Há em mim um velho que não sou eu.

A morte é, de tudo na vida, a única coisa absolutamente insubornável.


quarta-feira, 26 de novembro de 2014 0 comentários

A ARTE DE SUPRIMIR



Estava lendo uma longa entrevista com o escritor argentino Julio Cortázar e deparei com sua inspirada declaração sobre “literatura com franjas”, que é aquela cheia de rococós desnecessários. Segundo ele, escritor bom é escritor que se dedica a limpar o texto até chegar a uma estrutura medular. Por isso é tão importante não se dar por satisfeito e reescrever quantas vezes for preciso (para mim, atualmente, tem sido a melhor parte do ofício).

É quando temos aquele monte de palavras na nossa frente e começamos a depurar, polir, retirar tudo o que não agrega, tudo o que não serve. Não raro, é um processo dolorido, pois costumamos nos apegar a uma determinada frase ou a alguma gracinha, mas não devemos mantê-la apenas por capricho: ela pode distrair o leitor e interromper o ritmo da leitura.

É preciso severidade consigo próprio, desapegar daquilo que, mesmo que nos apaixone, compromete o resultado final. Diz Cortázar, e eu humildemente endosso: “Quando corrijo, só uma vez em 100 acrescento algo. Nas outras 99, corrigir consiste em suprimir.

Leia todas as colunas de Martha Medeiros

Qualquer um que veja um rascunho meu pode comprovar isso: muito poucos acréscimos e enormes supressões”.Faxinar é uma arte. Vale para textos, armários, gavetas, e também para manias, lembranças, rancores.

A maturidade tem muitas vantagens, entre elas a de deixarmos de ser tão sentimentais com nosso passado e promovermos um arrastão em tudo o que é excessivo. Não há mais tempo para delongas: uma vez conhecendo melhor a nós mesmos, hora de priorizar
a essência – a nossa e a de tudo.

O que não impede que pessoas mais jovens comecem a se habituar desde cedo a não colecionar inutilidades, como amigos falsos, preconceitos e dramalhões. Hoje, considera-se rico aquele que tem 1 milhão de seguidores no Twitter e curtidas no Face, ou aquele que acredita que um sem-número de sapatos, bolsas e tênis acalmará sua ansiedade, afugentando o vazio.

Será mesmo preciso gastar metade da vida até perder essa ilusão? O que nos dignifica não é um guarda-roupa abarrotado ou uma cabeça lotada de neuras. Simplificar, ao contrário do que se pensa, nunca foi provinciano, e sim um luxo que poucos conseguem bancar.

Acumular é que é provinciano. Nem mesmo quando relaciono esse verbo a afeto e dinheiro consigo dar a ele algum crédito, pois acúmulo nada tem a ver com suficiência. Se temos afeto e dinheiro suficientes para viver bem, com paz, conforto e alegria, para que correr atrás de mais e mais? O excesso pode conspirar contra, nos exigindo um esforço extra para manter a roda girando. O suficiente faz a roda girar sozinha.

Tempo esgotado, hora de enviar o texto para o jornal. Desconfio que ele segue com algumas franjas, mas prometo apará-las numa próxima versão.

MARTHA MEDEIROS
0 comentários

PEQUENO MANUAL DA VIDA MAL RESOVIDA




Eu estou em crise. Assim como a economia europeia, a Síria ou a política de combate a enchentes no Rio. Em épocas assim, as pessoas perguntam o que está acontecendo, como tudo começou, qual a perspectiva de melhora.

Contando a mesma história para muita gente e passando a vida a limpo, numa espécie de sessão de terapia contínua, o resultado pode ser bastante confuso: não percebi o que estava acontecendo? Errei? Não me controlei? Não sou madura o suficiente?

De todo esse período, venho sistematizando algumas ideias, que vão contra a corrente dos livros de autoajuda, mas que me parecem mais atadas à minha realidade do que pregam os gurus do autocontrole e da “vida bem resolvida” (e aqui crio uma rima pobre por falta de sinônimo melhor para a expressão). Eu não espero que você, caro leitor, concorde com todas – nem mesmo com uma delas. O objetivo deste texto, assim como todos os outros deste blog, acredito, é compartilhar pensamentos e propor reflexões. Certo ou errado não são os tópicos aqui.

“É preciso ser forte”: como disse uma amiga minha, eu quero é ser fraca. Chorar, sofrer, desabafar fazem parte das rotinas humanas e não é vergonha nenhuma dizer que a dor está muito forte e que está difícil de segurar. Deixar lágrimas escorrerem em público, querer passar um dia triste, sentir que está sem chão naquele momento não fazem de você uma pessoa frágil e que não agradece pelos inúmeros momentos de felicidade que vive.

Do mesmo jeito que o corpo dá sinais de alerta, com dores, para nos dizer que há algo errado, nossa mente e nossas emoções mostram que há pontos complicados na vida. E, assim como o físico, não há cura para tudo – mas também há sempre algo que ajuda a diminuir o peso. Em todos os casos, buscar tratamento – e ser firme nele, até os últimos recursos – também é sempre possível.

“Viver não é complicado. Somos nós que complicamos a vida”: mentira deslavada (ou sem-vergonha, que é um sinônimo mais saboroso, mas muito menos conhecido da palavra). Viver é complicado, sim. Amar alguém, e ser amado por ela, não torna as relações fáceis. Escolher uma profissão e gostar do que faz não evita que queiramos jogar a toalha às vezes. Amar os filhos não anula erros na criação. Amar os pais não impede que possamos ofendê-los quando queremos que eles se cuidem. Ver avós morrendo, seguindo a trajetória natural da vida, não torna a separação menos sofrida. Somos bichos complicados, inseguros, com medo de fazer escolhas erradas, traumatizados pelos eventos do passado. Isso implica que vamos errar, ferir, ofender, distorcer, recuar, mudar, tantas vezes quantas forem necessárias no meio do caminho.

Pedir desculpas não vai adiantar, mas também mal não irá fazer. Dizer que aquilo serviu de aprendizado para não fazer de novo é meia verdade, porque sempre podemos errar novamente – mas, como meia verdade, isso também tem, obviamente, seu lado genuíno.

“Seja firme nas suas decisões”: não sei se acontece com todos, mas às vezes eu passo longos minutos olhando o cardápio, penso seriamente em que prato pedir, faço a escolha confiante e, quando chega a refeição, percebi que me enganei: o molho não era o que eu pensava. Seria ótimo se longos momentos de reflexão garantissem a decisão mais acertada, mas, se isso não é assim nem com a comida, que dirá com as emoções, com as relações, com os gostos.

Eu detecto em minha vida algumas certezas: amo algumas pessoas, aprecio fazer determinadas coisas, quero cumprir certos objetivos (de vida profissional e de mudança ou evolução de personalidade). São pontos que não têm mudado com o tempo, mas, para continuarem assim, elas precisam ser cultivadas a cada novo dia. Então, eu não sou firme com as minhas decisões: eu as repito todo dia. Entende a diferença?

“Mantenha o autocontrole”: adoraria ser capaz disso, o tempo todo. Se algum leitor consegue, por favor, avise. Eu busco evoluir, e nesse período crítico passei por várias situações em que gostaria de ter tido a esperteza de me enfiar em um buraco e esperar a raiva e o desespero passarem antes de fazer alguma coisa. Estou cotidianamente buscando melhorar nesse sentido, mas confesso que retrocedo várias vezes ou cometo o mesmo erro outras tantas, ainda que eu reflita, ore, faça terapia, escreva sobre isso…

Se houver algum ser humano que consiga nunca dar uma resposta mais seca; nunca dizer algo desnecessário e que machuque; ou mesmo nunca hesitar em dizer o que tem de ser dito no momento, por favor, me ensine o caminho.

Se houver um modo mais fácil de ser humano, imperfeito, emotivo, confuso e inseguro, serei a primeira a segui-lo. No momento, apenas sigo sendo humana, ciente do que é sê-lo, mas sem a certeza de que conheço tudo da minha própria humanidade.

JULIANA DORETTO
terça-feira, 25 de novembro de 2014 0 comentários

Você odeia quando ouve sua voz gravada? A ciência explica por quê



A culpa é da sua cabeça: ouvidos captam a voz de quem fala de dois modos, ‘por fora’ e
 ‘por dentro’, e por isso o som dela fica mais grave do que realmente é.

Registre sua voz em um gravador, e você vai achar que o som está agudo demais, talvez até estridente. Acostume-se com isso. Não importa quão avançada será a tecnologia no futuro, não haverá equipamento que faça você ouvir a voz que imagina ter. Por uma razão simples: ela é do jeito que autofalantes emitem, e não como seus ouvidos captam enquanto você fala.

Voltemos um pouco às aulas de ciência dos tempos de escola. Quando uma caixa de som funciona, ela joga no ar vibrações que são captadas pelos ouvidos. Há dentro dele três pequenos ossos chamados martelo, bigorna e estribo – chamados assim porque se parecem com os objetos. Eles recebem as vibrações e as mandam para uma estrutura espiral cheia de fluido chamada cóclea, que por sua vez as transforma em sinais nervosos e os envia para o cérebro. É assim que sua cabeça distingue cada um dos sons e barulhos do ambiente.

O que acontece é que, quando você fala, seus ouvidos captam vibrações de duas maneiras diferentes. Em uma, elas saem pela boca e entram nos ouvidos. Por fora. Na outra, as vibrações das cordas vocais atravessam os ossos do crânio e chegam aos ouvidos. Por dentro.Aí está o “defeito” da sua cabeça. Quando vibrações atravessam ossos, elas perdem frequência e dão a impressão de ficar mais graves. Por isso a voz emitida por um gravador parece ser mais aguda do que aquela que você ouve enquanto fala. Se você odeia como sua voz soa quando a ouve em áudio ou vídeo, melhor desistir e se conformar. Ela é daquele jeito mesmo.
sábado, 22 de novembro de 2014 0 comentários

5 MANEIRAS DE FAZER O TEMPO PARAR DE VOAR



Desacelerar a percepção do tempo é possível
 
Sua vida parece estar passando num piscar de olhos? A psicologia explica o fenômeno e pode te ajudar a aproveitar mais o tempo
 
Está impressionado sobre como metade do ano já passou? Não entende porquê seu aniversário parece chegar cada vez mais rápido com o tempo? E o Natal então, que bruxaria é essa que passa a impressão de que, quando estamos no dia 25, a última ceia em família aconteceu apenas um mês atrás? Tudo isso tem a ver com a nossa percepção do tempo: segundo teorias psicológicas recentes, a grande responsável pela aceleração de nossas vidas tem um nome – rotina.

Novas experiências ficam gravadas na memória e desaceleram o tempo
O armazenamento da memória humana não funciona como um disco rígido de computador, que salva cada informação, bit por bit. No nosso caso, a memória é socialmente construída, nem tudo é guardado e, mesmo as coisas que mantemos, frequentemente não são fáceis de serem acessadas. Na maioria das vezes, o que fica gravado de um jeito mais forte nas nossas lembranças são as primeiras experiências que temos de alguma situação, aqueles momentos marcantes, intensos, inusitados e novos que parecem fazer com que a hora passe mais devagar.

E é justamente por isso que a rotina faz o tempo voar: quando a vida se resume  a uma interminável repetição das mesmas experiências, não temos porquê guardar estas memórias de uma forma especial, e tudo parece passar por nós como um borrão. A mesma lógica explica o motivo pelo qual a infância segue o caminho oposto – o mundo era inteiro feito de novidades, por isso o ritmo das coisas era bem mais vagaroso.

Confira estas dicas simples para ajudar a desacelerar sua percepção do tempo e aproveitar melhor seu dia a dia:

1. Experimente coisas novas


Não há como negar que a rotina tenha um apelo forte e transmita uma sensação de conforto. No entanto, pequenas mudanças já podem fazer uma grande diferença na forma como apreendemos nosso cotidiano: por que não tentar um trajeto diferente para casa ou para o trabalho? Que tal jantar em um restaurante diferente, ou viajar para um lugar novo? Começar pelos detalhes pode ser um bom caminho.

2. Tente inovar no trabalho


Por ocupar tantas horas do dia, o trabalho merece uma atenção especial. É fácil deixar que a torrente de obrigações te deixe levar, e fazer tudo da mesma forma pode parecer uma boa opção para garantir os resultados esperados. Mesmo que seja difícil, correr riscos é importante: uma postura mais inovadora pode criar situações gratificantes e estimular o envolvimento com seu emprego, além de aumentar o sentimento de auto-satisfação.

3. Conheça pessoas novas


Sabe aquela pessoa que você vê todos os dias, mas com quem nunca trocou sequer uma palavra? Ela poderia se tornar uma grande amiga ou, quem sabe, até mesmo um grande amor. Conhecer histórias de vida e estabelecer novos vínculos possui um grande potencial de gerar momentos estimulantes.


4. Aproveite melhor cada momento


Aqui cabe citar o velho Carpe Diem: focar no momento presente e aproveitá-lo da melhor maneira possível é a chave para extrair o máximo de suas experiências e aprender com elas. Mesmo para as coisas que compõem claramente uma rotina, há uma saída – tente vê-las de um outro ângulo. Prestar mais atenção ao seu redor, tanto no novo quanto no velho, é uma ótima forma de incentivar insights e intensificar seus momentos.


5. Foque no lado bom das coisas



Vale tanto para o passado, quanto para o presente, como para o futuro: valorize mais as boas lembranças vividas, atenha-se ao que te faz sentir mais estimulado, e espere o melhor do seu futuro. Aposte sempre na espontaneidade – nada como atitudes inesperadas para quebrar a rotina.

André Jorge de Oliveira
0 comentários

O PROFESOR E A MADAME



A lista de negações dela é bem maior e mais grave do que a dele, como o consequente desastre.


A negação é mecanismo de defesa essencial para que não enlouqueçamos (a morte só deve ser lembrada às vezes). Porém, como qualquer remédio, seu excesso é um veneno capaz de levar-nos ao desastre, ou à morte (quando se negam sintomas de uma doença e as providências não são tomadas).

O Professor acha que a seleção fez um bom trabalho, exceto nos seis minutos de apagão. Pensa que um passado de glórias põe a mão na Copa, junto a palestras motivacionais, dispensados a disciplina e o dever de casa. Some-se arrogância e não reconhecimento de erros, e terminamos nos 7x1 (e nos 3x0, em que não houve apagão).

Madame é semelhante, porém a coisa é mais séria, sua lista de negações é bem maior e mais grave, como o consequente desastre.

A saber: ela, seu Inventor e seu partido negam o passado, o Brasil começou em 2003. Antes havia a herança maldita. Palocci, com seus "métodos rudimentares", quase foi crucificado por elogiar Pedro Malan.

Cesare Batisti não é terrorista e merece asilo político. Pugilistas cubanos não queriam asilo, por isso foram rapidamente reenviados para Cuba.

Qual o problema de mudar a língua portuguesa? E não é para fins populistas que ela é presidente, gerente e pretendente à reeleição. O mensalão (que não houve) não foi substituído por loteamento de ministérios, em número "nunca antes neste país". Aparelhamento do estado? Substituição de cargos técnicos por políticos cúmplices? Nunca! Redução populista da taxa de energia elétrica empurrando a conta para 2015? Absurdo! Gastos máximos com a máquina e investimentos mínimos? Jamais! Controle da imprensa? Como? Madame tem reiterado a importância da mídia livre. O decreto de criação dos sovietes (perdão, em português é "Conselhos populares") não é golpe na democracia, ao contrário. Pegou em armas, não para implantar a ditadura do proletariado, mas "para defender a democracia".

Não tem inflação represada por preço artificialmente controlado, nem contabilidade criativa. Madame não dá moleza para a inflação. Não há insegurança jurídica e o país continua atraindo investimentos. Não, a balança comercial negativa não é pela importação de combustível caro para ser vendido barato, é pelas "zelite branca que viaja", por isso, imposto neles. E não se privatiza nada, fazem-se "concessões".

Tudo o que o ministro capacho diz tem credibilidade junto ao mercado, ele não insulta a inteligência de ninguém. Fazer um porto em Cuba é muito bom para o Brasil. Os caríssimos estádios de Manaus e Cuiabá não se tornarão elefantes brancos. O caos de transporte urbano durante a Copa não foi evitado pelos feriados que derrubaram o comércio. E qual o problema de Abreu e Lima custar 15 Pasadenas? São ambas bons negócios.

Dividir o país e estimular a luta entre elites brancas e povo pobre? Jamais! Isso seria atiçar ódio racial, e racismo é crime hediondo, ela governa para todos.

Pelo menos o trem-bala TAMBÉM não foi feito. É, entre tantas, sua maior não obra.

Depois disso tudo, o leitor pode tirar suas próprias conclusões sobre como votar.

FRANCISCO DAUDT 
quarta-feira, 19 de novembro de 2014 0 comentários

O SILÊNCIO DOS INOCENTES

                            Uma cultura pode morrer de sua própria covardia
                              em defender as ideias que ela inventa e promove


O movimento Estado Islâmico (EI) controla uma parte consistente do território que pertencia previamente à Síria e ao Iraque (sei que "consistente" é vago, mas as cidades passam de mão em mão a cada dia). Nesse vasto território, o EI proclamou um califado, e seu líder, em 11 de julho, ordenou a mutilação genital de todas as mulheres entre 11 e 46 anos.

A mutilação genital consiste na ablação do clítoris e, em algumas tradições, de parte dos lábios da vagina. A operação geralmente é feita sem anestesia e sem condições de assepsia. Essa tortura com consequências potencialmente mortais garantiria que as mulheres não sintam (mais) prazer sexual, ou seja, como noticiaram as agências de imprensa, evitaria "a expansão da libertinagem e da imoralidade" no sexo feminino.

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), a medida do califado pode atingir 4 milhões de mulheres.

Será como em julho de 1994, quando assistimos de longe, indignados e resignados, ao massacre de mais de meio milhão de pessoas da etnia tutsi, em Ruanda?

Será como em 1995 (de novo, em julho), quando assistimos ao massacre de Srebrenica, na Bósnia? Neste caso, um mês depois, o bombardeio dos sérvios-bósnios pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) colocou um fim à guerra da Bósnia. Foi tarde para os 8.000 de Srebrenica, mas foi ao menos isso.

Meus furores intervencionistas são raramente abstratos. Há intervenções impossíveis porque é dificílimo tomar partido, e outras que custariam mais vidas do que salvariam. Também me envergonha, na hora de me indignar, o fato de que os que se armariam e arriscariam sua vida seriam outros, mais jovens do que eu.

Mesmo assim, penso que o genocídio em Ruanda, em 1994, poderia ter sido evitado e que o bombardeio das posições dos sérvios-bósnios em 1995 poderia ter acontecido antes, evitando o massacre de Srebrenica.

No caso de Ruanda, foi dito mil vezes que o Ocidente deixou o horror acontecer porque o coração da África está longe, geográfica e culturalmente. Da mesma forma, foi dito que a Otan interveio na Bósnia por se tratar de um horror "em casa", na Europa.

Mas a intervenção na Bósnia tornou-se possível e "necessária" também por uma outra razão, um pouco mais complexa.

Na guerra da Bósnia, as grandes vítimas eram os bósnios muçulmanos, ameaçados de extermínio pelos sérvios-bósnios (ortodoxos). Atrás de qualquer consideração geopolítica, os membros europeus da Otan (sobretudo Alemanha, França e Inglaterra) podiam enxergar, no ódio dos sérvios-bósnios, uma caricatura do preconceito de suas populações contra os muçulmanos imigrantes.

Ou seja, talvez a gente seja especialmente motivado a intervir contra quem pratica horrores dos quais nós mesmos receamos ser capazes. É policiando os outros que a gente luta contra nossos próprios demônios.

Se a ordem do califado me indigna tanto é porque reconheço a sua estupidez: ela é a mesma que, apenas 200 anos atrás, levava psiquiatras europeus a cauterizar com ferro quente o clítoris de meninas que se masturbavam com uma frequência que pais e padres achavam excessiva.

Houve uma época (recente --e nem sei se acabou) em que o desejo feminino nos fazia horror, e a gente estava disposto a qualquer coisa para silenciá-lo. É esse passado que nos daria o direito de intervir.

Não se trata de querer abolir uma diversidade cultural. Certamente há mulheres, no califado, dispostas a ser mutiladas para continuar pertencendo plenamente à cultura na qual elas vivem. Mas o que acontecerá conosco se escutarmos os gritos das que não concordam e deixarmos que se esgotem, até que reine o silêncio dos inocentes sacrificados?

Em Veneza, no Teatro La Fenice, três semanas atrás, assisti a uma apresentação (única) de "Hotel Europa", de Bernard-Henri Lévy (publicado pela editora Marsilio numa edição bilíngue, com textos em italiano e francês). É o monólogo de um intelectual que, num hotel de Sarajevo, prepara uma conferência impossível sobre a Europa e seus valores. Lévy foi marcado pela sua presença na Bósnia durante os anos da guerra e acredita na necessidade moral de intervir nos horrores da casa dos outros.

Concordo ou não, tanto faz; de qualquer forma, saí da peça com a convicção de que uma cultura pode
morrer de sua própria covardia em defender as ideias que ela inventa e promove. E nossa cultura é ameaçada por esse destino: ela tem, ao mesmo tempo, um repertório fantástico de ideias e uma grande timidez na hora defendê-las --até porque uma dessas ideias é que cada um deve ser livre de pensar como quer.

CONTARDO CALLIGARIS
0 comentários

PARA QUE SERVEM AS MULHERES


Pra que elas sevem? Foi a segunda pergunta que o moleque fez, quando começou a lista de perguntas essenciais sobre o sentido da vida. A primeira? Pra que serve esta bola?


O primeiro indício de que ele não as entendia nasceu da constatação de que a maioria não devolvia as bolas atiradas contra elas. Começava aí o dilema da divisão de papéis. Não entendia por que meninas conversavam com seres inanimados, designados "bonecas", que nomeavam, vestiam, penteavam, alimentavam com comida de mentira, agasalhavam e colocavam para dormir. Não entendia por que meninas reclamavam quando ele arrancava as cabeças de plástico com cílios e cabelos de náilon para ver o que tinha dentro. Não entendia a obsessão delas por cores cítricas e por pôsteres de meninos que cantam em bandas só deles. Não entendia o funcionamento de presilhas para prender cabelos, nem o sentido de esmaltar as unhas. Como não as entendia, passou a ignorá-las.

Até ser matriculado numa escola. Descobriu que uma mulher pilotava muito bem a van, outra, a lanchonete, outra, a classe barulhenta, outra, a própria escola. Aprendeu a ler livrinhos escritos por mulheres e ouvir musiquinhas compostas por elas. Ouviu dizer que países eram governados por elas. Descobriu que apenas as da sua idade eram desinteressantes.

Mas chegou a adolescência. Começou a desconfiar que garotas tinham alguma atribuição na composição social. Especialmente as que tinham irmãs mais velhas. Ele passou a ter uma ideia fixa quando organizaram o campeonato de vôlei feminino no colegial. E contrataram a nova professora de matemática.

Vítima de uma explosão hormonal que o deixou por anos monotemático, descobriu enfim que as mulheres escondiam uma coisa que ele queria muito. Então, descobriu que, entre o objetivo e a conquista, existia planejamento, método, projeto, a corte, algo que faz parte da espécie como o fogo e a flecha, e que os fins justificam os meios.

Passou a amá-las, idealizá-las, compará-las, desejá-las mais que tudo. A trocar jogos com bolas por fantasias solitárias. A sofrer de amor, escrever poemas, cantar, dançar, oferecer mimos, declarar, xavecar.

O xaveco é milenar. O humano conhecido popularmente como Homo sapiens, do grego homem sábio, achou por bem decorar o cantinho de cavernas com pinturas rupestres, exagerar seus feitos em caçadas, oferecer enfeites à base de marfim de mamute, saias de pele de onça e colares com dentes de sabre manipulados para convencer uma pretendente a visitar o escurinho sobre o qual Platão tanto se dedicou e criou um mito. Até o aperfeiçoamento da fala e a invenção da lira, gastou-se muita mímica para simular que o macho não pensava só naquilo, apesar de só pensar naquilo, e que iria mandar um dente decorativo no dia seguinte de algum animal ainda não extinto por ele mesmo.

Pirâmides foram construídas para impressionar amadas. Guerras foram proclamadas, monumentos com colunas, com abóbadas, com ou sem sentido, foram erguidos. Navios enfrentaram tormentas em busca de um amor pleno. Muito papiro, muita tinta, muito blá-blá-blá foi gasto para se conquistar uma mulher.

O moleque namorou, noivou, assinou um pacto e se casou. Descobriu também pra que elas servem na linha evolutiva, ao observar seu grande amor engravidar. Descobriu enfim que, por trás de tanto desejo, admiração, vontade de compartilhar a rotina, existe o corpo de uma mamífera que dá sentido ao tempo perdido em busca da resposta do pra que elas servem: elas procriam!

A cintura arredondada de uma mulher não é apenas para servir de suporte a um biquíni asa delta. Existe ali espaço para caber mais um. E produzir colo. Os peitinhos aumentam, são na verdade mamas. Olha lá, é um design milimetricamente perfeito para alimentar um, até dois, herdeiros. A protuberância chama a embocadura. A aréola circunda o bico para proteger a maciez e criar a ilusão de ótica de que um bebê que enxerga mal precisa. E, surpresa. De dentro, sai alimento na temperatura ideal. É uma pequena fábrica caseira de laticínio mais rico em nutrientes do que tudo que existe.

O ventre é o receptáculo para o acolhimento de genes. Para receber as qualidades do macho alfa, mais forte e capaz. Tem maciez, lubrificação. Para enfiarmos o veículo testado como num túnel de vento da NASA, que transporta informações genéticas que serão selecionadas dentro e escolhidas. Em bilhões, aceitarão um! Que será armazenado, alimentado e protegido com a placenta quimicamente balanceada, num reservatório com tubo personalizado e individual de alimentação, com isolamento acústico e calefação.

Mas o sujeito se pergunta se as mulheres são então apenas umas chocadeiras? Não! A evolução foi brilhante. Como sempre. Deu o quê? Um clitóris. Uma glande em forma de botão com 8 mil terminações nervosas, o dobro da mangueirinha pendurada aí. Que serve para o quê? Para apenas uma coisa. Dar prazer! Não é para "tirar água do joelho", expelir genes, se gabar. É para apenas e tão somente dar prazer, fazê-las gozar, e não uma vez, como um urro, uhhhh, mas muitas vezes, múltiplos. O homem tem uma espingarda de um tiro, um bacamarte, que sai chumbo pra todos os lados. Elas, um rifle de repetição, uma metralhadora, pá-pá-pá!

Elas têm no corpo um órgão que é só para o prazer. Que, se a evolução não nos tivesse dado, talvez elas nunca visitassem o escurinho da caverna que intrigou Platão. Se não fosse o mágico e hipersensível sininho, não haveria procriação, não haveria espécie humana, não haveria Quéops, Troia, Capela Sistina. Nem o sujeito da primeira pergunta, a bola. Nem perguntas haveria.

MARCELO RUBENS PAIVA 
0 comentários

MEMÓRIAS DO FUTURO



Estou na clínica especial do Nada aqui neste ano remoto do futuro. Futuro de quê? Futuro de um futuro que o Brasil esperava havia vários séculos. Essas clínicas são chamadas hoje de “zonas de esquecimento”; viraram “hype” há mais de um século e hoje abundam. Os sujeitos entram para perder todos os sentidos. Fica apenas a memória, que, aos poucos, sem ajuda de tato, gosto, cheiro, visão e audição, vai se transformando numa leve fonte de murmúrios, em lapsos de visões, em tênue brilho de lembranças, e depois, o silêncio do nada. Muitas clínicas são arapucas, e as mais baratas apenas jogam os pacientes numas salas vazias e deixam-nos na mistura de restos de comida e excrementos. Ninguém reclama. Mas eu vivo na melhor: “Le Néant”, que as famílias visitam para verificar o tratamento – é impecável no trato dos corpos sorridentes, murchos e mudos.

Hoje, inexplicavelmente, me encontro na rua com sol batendo em meus olhos, e volta a mim uma enxurrada de memórias que eu sempre evitara. Como saí? Em que ano estou? Minha lembrança mais antiga jaz no deserto, quando o Califado Islâmico tomou conta do Oriente Médio, chegando até as bordas de Israel-Palestina, já considerada “área insolúvel” e que virou parque temático.

Muitas terras viraram temáticas também: a desolação de Nueva Iork, depois das nuvens de “antrax” na Broadway, o Buraco Iraque, depois da bomba do ex-Paquistão – hoje Talibânia –, e o deserto de Tokyorama, província da China...

Mas vou me ater às memórias do Brasil.

Sei que há muitos anos o futuro do país se delineou. Foi logo depois da reeleição de uma mulher...

Esqueço-lhe o nome... Sei que, depois, o famoso Lula sucedeu-lhe em 2018, continuando em 2022, criando uma dinastia de si mesmo, reeleito em vários mandatos, até 2034, quando ele já não falava mais e tinha sido mumificado num carro móvel de vidro que desfilava entre a multidão de fiéis ajoelhados. A maioria do povo semianalfabeto celebrava a realização do projeto do seu partido, uma espécie de populismo pós-moderno (como chamavam) feito de pedaços de getulismo, chavismo e outras religiões. Quando se iniciou a decomposição, seu corpo foi entronizado no Museu Bolívar, um palácio de mármore vermelho desenhado por Oscar Niemeyer, tendo como curador Gilberto Carvalho, 108.

Nesta época, o velho Brasil tinha renascido como rabo de lagarto. Voltara a correção monetária sob uma inflação de 2.200%, um flashback do período Collor, agora representado por seu neto na grande aliança ainda presidida por Sarney, 117, que visava unir partidos no programa nacional de “decrescimento”, já que a democracia se revelara um antigo sonho grego impossível. Todo o projeto do “lulismo” tinha dado frutos depois de tantos anos no poder. “Podres poderes!” – rosnavam alguns poucos inimigos, urubus complexados. Tinha-se atingido o sonho glorioso de socialismo “puro”, onde só havia o Estado sem sociedade em volta. Era assim.

O MST tinha finalmente desmontado a maldita agroindústria, as manifestações de junho viraram uma data popular, como festas juninas animadas por black blocks, considerados agora “guarda revolucionária”; a imprensa tinha acabado, graças à proibição de papel, enquanto ex-jornalistas gritavam nas ruas e distribuíam panfletos mimeografados.

Foi nessa fase que houve o Segundo Crash da Bolsa de Nueva Iork, entre nuvens de suicidas e filas de desempregados.

Aqui foi uma surpresa. O Brasil quebrou, e nada aconteceu. Houve, claro, legiões de famintos atacando os supermercados, mas logo ficou claro que a miséria é autorregulável. Muito simples: a fome diminui a população, dado benéfico para a incrível falta de comida, provocada pela decisão do governo de jamais cortar gastos fiscais. Nossos aviões e navios passaram a ser confiscados regularmente pelos países do Império Neoliberal, o que foi bom para desonerar gastos de manutenção.

Foi então que se começou a falar em um novo lema: “Ordem sem Progresso”, no seio de um novo movimento de salvação nacional: o “Recua Brasil!”. Entendêramos finalmente que o Brasil é um “acochambramento” secular e que isso não é um defeito, é nossa grandeza fabricada por séculos de escravismo, de burocracia e de corrupção endêmica.

A nova “república” proclamava: “Vamos assumir nosso atraso, chega de progresso!”. Foi outro grande alívio o fim da angústia de progresso que oprimia os brasileiros: a Paz é a desistência dos sonhos de felicidade.

Daí, veio o movimento “Desiste Brasil”, organizando o antigo caos em ilhas, em zonas de atraso. Um dos sucessos foi o PEP, “Plano de Extermínio de Periferias”. No início, alguns humanistas protestaram, mas, depois, se acostumaram com o fechamento das favelas com muros de concreto, como em Gaza-Auschwitz. Outro grande programa foi o PROCU (Projeto de Criminalidade Unificada), que mapeou as máfias todas, a evangélica, a ruralista, a hospitalar, a de traficantes, formando um arquipélago de áreas exclusivas com regras de matança mais controláveis. Sem falar em iniciativas de vanguarda moral como a COPUT (Cooperativa de Prostituição Infantil), que organizou as meninas de rua e incentivou o turismo sexual de que tanto dependemos.

Isso, além do PROCRACK e do PROMERD (cagadas genéricas) e a PROLIM (venda de liminares “a priori”). Criou-se o “Orçamento Espoliativo”, que os congressistas adoraram, com sete novos necrotérios em Alagoas e nove clínicas essenciais de cirurgia plástica no Piauí, de onde veio também a bela ideia da “Comunidade Sossegada”, que distribui Lexotans aos retirantes da seca.
Mas foi aí que comecei a tremer. Olhava os outros do meu canto: pareciam tão felizes...


Sim, mas de vez em quando eles entravam num choro meloso, um uivo desesperado como as sirenes que circulavam em Nueva Iork, no século XXI. Meu terror foi aumentando. Eu estava só, mas via o repulsivo Futuro brasileiro, preparado por séculos de atraso. Corri de volta à minha “zona de esquecimento”, a “Le Néant”, mergulhei no silêncio dos cinco sentidos e cego, surdo e mudo, pude finalmente descansar no nada.

ARNALDO JABOR
1 comentários

BURRICE E IGNORÂNCIA

A burrice é diferente da ignorância.
A ignorância é o desconhecimento dos fatos e das possibilidades.
A burrice é uma forca da natureza. 

(Nelson Rodrigues)


A ignorância quer aprender. A burrice acha que já sabe. A burrice, antes de tudo, é uma couraça. A burrice é um mecanismo de defesa. O burro detesta a dúvida e se fecha.

O ignorante se abre e o burro esperto aproveita. A ignorância do povo brasileiro foi planejada desde a Colônia. Até o século 19, era proibido publicar livros sem licença da Igreja ou do governo. A burrice tem avançado muito; a burrice ganhou status de sabedoria, porque, com o mundo muito complexo, os burros anseiam por um simplismo salvador. Os grandes burros têm uma confiança em si que os ignorantes não têm. Os ignorantes, coitados, são trêmulos, nervosos, humildemente obedecem a ordens, porque pensam que são burros, mas não são; se bem que os burros de carteirinha estimulam esse complexo de inferioridade.

A ignorância é muito lucrativa para os burros poderosos. Os burros são potentes, militantes, têm fé em si mesmos e têm a ousadia que os inteligentes não têm. Na porcentagem de cérebros, eles têm uma grande parcela na liderança do país. No caso da política, a ignorância forma um contingente imenso de eleitores, e sua ignorância é cultivada como flores preciosas pelos donos do poder. Quanto mais ignorantes melhor. Já pensaram se a ignorância diminuísse, se os ignorantes fossem educados? Que fariam os senhores feudais do Nordeste em cidades tomadas como Muricy ou o município rebatizado de Cidade Edson Lobão, antiga Ribeirinha? A ignorância do povo é um tesouro; lá, são recrutados os utilíssimos "laranjas" para a boa circulação das verbas tiradas dos fundos de pensão e empresas públicas.

Como é o "design" da burrice? A burrice é o bloqueio de qualquer dúvida de fora para dentro, é uma escuridão interna desejada, é o ódio a qualquer diferença, à qualquer luz que possa clarear a deliciosa sombra onde vivem. O burro é sempre igual a si mesmo, a burrice é eterna como a pedra da Gávea (Nelson Rodrigues). De certa forma, eu invejo os burros. Como é seu mundo? Seu mundo é doce e uno, é uma coisa só. O burro sofre menos, encastela-se numa só ideia e fica ali, no conforto, feliz com suas certezas. O burro é mais feliz.

A burrice não é democrática, porque a democracia tem vozes divergentes, instila dúvidas e o burro não tem ouvidos. O verdadeiro burro é surdo. E autoritário: quer enfiar burrices à força na cabeça dos ignorantes. O sujeito pode ser culto e burro. Quantos filósofos sabem tudo de Hegel ou Espinoza e são bestas quadradas? Seu mundo tem três ou quatro verdades que ele chupa como picolés. O burro dorme bem e não tem inveja do inteligente, porque ele "é" o inteligente.

Mesmo inconscientemente, aqui e lá fora, a sociedade está faminta de algum tipo de autoritarismo. A democracia é mais lenta que regimes autoritários. Sente-se um vazio com a democracia - ela decepciona um pouco as massas. Assim, apelos populistas, a invenção de "inimigos" do povo, divisão entre "bons" e "maus" surte efeito. Surge na política a restauração alegre da burrice. Isso é internacional. Bush se orgulhava de sua burrice. Uma vez, ele disse em Yale: "Eu sou a prova de que os maus estudantes podem ser presidentes dos USA". E aí, invadiu o Iraque e escangalhou o Ocidente. E está impune, quando deveria estar em cana perpétua. Aqui, também assistimos à vitória da testa curta, o triunfo das toupeiras.

O bom asno é sempre bem vindo, enquanto o "pernóstico" inteligente é olhado de esguelha. A burrice organiza o mundo: princípio, meio e fim. A burrice dá mais ibope, é mais fácil de entender. A burrice dá mais dinheiro; é mais "comercial".

Em nossa cultura, achamos que há algo de sagrado na ignorância dos pobres, uma "sabedoria" que pode desmascarar a mentira "inteligente" do mundo. Só os pobres de espírito verão a Deus, reza nossa tradição. Existe na base do populismo brasileiro uma crença lusitana, contrarreformistas, de que a pobreza é a moradia da verdade.

No Brasil, há uma grande fome de "regressismo", de voltar para a "taba" ou para o casebre com farinha, paçoca e violinha. E daí viriam a solidariedade, a paz, num doce rebanho político que deteria a marcha das coisas do mundo, do mercado voraz, das pestes e, claro, dos "canalhas" neoliberais. É a utopia de cabeça para baixo, o culto populista da marcha a ré.

Nosso grande crítico literário Agripino Grieco tinha frases perfeitas sobre os burros. "A burrice é contagiosa; o talento, não" ou "Para os burros, o 'etc' é uma comodidade..." ou "Ele não tem ouvidos, tem orelhas e dava a impressão de tornar inteligente todos os que se avizinhavam dele", "Passou a vida correndo atrás de uma ideia, mas não conseguiu alcançá-la", "Ele é mais mentiroso que elogio de epitáfio", "No dia em que ele tiver uma ideia, morrerá de apoplexia fulminante".

Vi na TV um daqueles bispos de Jesus, de terno e gravata, clamando para uma multidão de fiéis: "Não tenham pensamentos livres; o Diabo é que os inventa!". Entendi que a liberdade é uma tortura para desamparados. Inteligência é chata; traz angústia com seus labirintos. Inteligência nos desorganiza; burrice consola. A burrice é a ignorância ativa, é a ignorância com fome de sentido.

Nosso futuro será pautado pelos burros espertos, manipulando os pobres ignorantes. Nosso futuro está sendo determinado pelos burros da elite intelectual numa fervorosa aliança com os analfabetos.

Como disse acima, a liberdade é chata, dá angústia. A burrice tem a "vantagem" de "explicar" o mundo. O diabo é que a burrice no poder chama-se "fascismo".

ARNALDO JABOR
terça-feira, 18 de novembro de 2014 0 comentários

COMO O CÉREBRO ORGANIZA O COMPORTAMENTO SEXUAL - Silvia Helena Cardoso, PhD



Os neurocientistas têm devotado grandes esforços para responder as questões básicas a respeito dos atos de comer, beber, respirar e se mover; também têm se esforçado para entender como nós percebemos, pensamos, dormimos e lembramos.

Mas e o sexo? Tabus em muitas culturas, censura moral e imaturidade das ciências fisiológicas e psicológicas neste campo têm impedido uma pesquisa a longo prazo referente ao comportamento sexual humano.

Foi somente com os estudos pioneiros dos sexologistas Havellock Ellis e Alfred Kinsey, na primeira metade do século, e posteriormente dos fisiologistas Masters e Virginia Johnshon, que um estudo objetivo da resposta sexual humana começou a se desenvolver.

Hoje, encontramos muitos estudos a respeito dos aspectos embriológicos, genéticos e biológicos do aparato reprodutor, como espermatozoides e óvulos, fertilização, desenvolvimento e nascimento, assim como sobre a anatomia dos órgãos sexuais em ambos os sexos. Também encontramos muitas informações a respeito de aspectos antropológicos, sociais e culturais do comportamento sexual.

Porém, a literatura apresenta poucos estudos sobre a fisiologia da sexualidade humana e de como o cérebro organiza o comportamento sexual. A sexualidade humana está fortemente relacionada ao comportamento reprodutivo, não somente em termos da propagação e sobrevivência das espécies, mas também aos seus mecanismos neurais e fisiológicos. Contudo, a sexualidade não resulta sempre em reprodução, uma vez que é motivada pelo comportamento. O sucesso de completar o ato sexual depende da excitação local e de estímulo físico. Outros comportamentos também são motivados, como o comportamento de alimentação. Entretanto, a diferença entre a motivação sexual e estes instintos primários é enfatizado quando a saciedade é considerada.

Quando um animal faminto ou sedento ingere uma quantidade suficiente de água ou comida, a restauração da energia ou do equilíbrio de fluidos do organismo retorna a um equilíbrio homeostático. A atividade sexual consome as reservas de energia do organismo; o instinto sexual é saciado somente quando a fadiga e a exaustão o superam, mas ele retorna assim que o organismo recupera as reservas energéticas.

Diferenças adicionais e importantes surgem por que a motivação sexual é obtida a partir da sugestão ambiental, enquanto a fome e a sede refletem mudanças internas que estimulam interoceptores.

O comportamento sexual, excitação e motivação ocorrem somente em situações ambientais especiais que providenciem tipos particulares de estimulação sensorial. Alguma quantidade de estimulação vai provocar a motivação sexual, a menos que o organismo esteja fisicamente preparado para a cópula.

A prontidão fisiológica para responder seletivamente a estímulos sexuais é providenciada por mudanças hormonais que afetam tanto mecanismos neurais e não-neurais por todo o corpo. A cópula, como a alimentação, acontece devido a uma combinação de controle nervoso e hormonal.


Muito deste controle é mediado por partes do sistema nervoso dentro do "cérebro visceral", que filogeneticamente é a parte mais antiga do cérebro humano. Ele é composto pelo hipotálamo, hipófise, sistema límbico, e regiões do mesencéfalo (cérebro central).

Apesar do fato do comportamento sexual humano ser controlado e dirigido por uma das partes mais primitivas do cérebro, ao mesmo tempo ele é fortemente influenciado e modulado pela experiência adquirida, assim como pelo meio social, étnico e cultural, fazendo dele uma mistura única das esferas fisiológica e psicológica. Ainda mais, o que é considerado "normal" e "anormal" no comportamento sexual humano é altamente variável entre culturas e ao longo do tempo.
0 comentários

CARIOCA ERA UM RIO


Para os desavisados, essa cidade maravilhosa aos pés dos maciços de granito e de frente para a vastidão do atlântico é, necessariamente, uma cidade criada e voltada para a vocação do mar. Ledo engano. essa (atro)cidade maravilhosa é fundada, cultivada e destruída a partir de um rio. Seu nome: carioca. Esse rio, que desce manso pelas paredes da floresta da tijuca, atravessa comunidades e mansões do Cosme Velho, corre pelo vale das laranjeiras e deságua na praia do flamengo, foi onde, ainda 1565, em meio a batalhas de portugueses, franceses e tamoios, fundou-se o que depois viria ser a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Após quase quatro séculos abastecendo o núcleo urbano da capital da colônia e, posteriormente, do império e da república, os inúmeros abusos feitos pela população e pelos governos destruíram o rio carioca a partir do seu uso como lixo e da invasão sistemática de suas margens. Durante o início do século XX, a ideia de progresso como o domínio transformador da cultura sobre a natureza fez com que a cidade resolvesse tampar o rio carioca em seu trecho que vai do Cosme Velho à Praia do Flamengo, privilegiando os bondes e, posteriormente, ônibus e automóveis.

Hoje, ele corre silencioso, sujo e inquieto abaixo dos pés da população que, largamente, ignora sua história. apenas durante as fortes chuvas que periodicamente atingem a cidade, lembramos que suas águas ainda circulam em sua cabeceira e a força de sua enxurrada alaga completamente a região. Apenas na sua revolta, lembramos do rio carioca. mas nunca questionamos sua destruição. O caso do rio carioca prova que o maior vândalo nesse país é o estado, e, desde 1500, o vandalismo de estado é o mais pernicioso, quando ele mesmo destrói, não educa, não atua como agente de preservação do patrimônio dos cidadãos. Um estado que vive a serviço dos interesses imobiliários, das máfias dos transportes, um estado gerente dos interesses privados, e não os da população.

Brasil, Washington, Londres. seja onde for, a história sempre se repete: o aumento desenfreado da população urbana, o crescimento das cidades e a falta de tratamento do esgoto contribuíram para a degradação dos rios. no entanto, iniciativas no mundo mostram que é possível a recuperação de rios e a humanização das cidades. Cheong gye cheon na coreia do sul, tâmisa em Londres, sena em Paris são rios vivos graças a projetos que além de resgatar a função biológica, também contemplam o resgate de suas identidades em relação às cidades. até nossos colonizadores financiaram um projeto de recuperação do rio tejo e deu certo.

A prefeitura de Seul desenvolveu um projeto orçado em us$ 380 milhões para recuperar o rio cheong gye cheon na coreia do sul. Enquanto isso, o custo dos estádios da copa do mundo já chega a r$ 8,9 bilhões. Esse valor atual supera em mais de três vezes a estimativa inicial, feita em outubro de 2007.
Carioca, tietê, pinheiros, iguaçu, paraíba do sul, doce, capibaribe....
 .... todos asfixiados pelo descaso estatal. e quantos rios cariocas não existem na cidade que podem ser recuperados para a população, seguindo exemplos do mundo inteiro? Abrir o que fechamos, renovar o que destruímos, se orgulhar de um mito de origem que envolveu povos, crenças, costumes, batalhas e visões de mundo, mas envolveu, principalmente, um rio.



0 comentários

ABUSO PSICOLÓGICO PODE CAUSAR TRAUMAS MAIS PROFUNDOS QUE AGRESSÃO FÍSICA OU SEXUAL




              Essa forma de violência está relacionada a maior propensão
                            à depressão, ansiedade e uso de substâncias


Violência psicológica contra crianças e adolescentes pode provocar danos mais graves do que a agressão física ou o abuso sexual, segundo estudo publicado na Psychological Trauma: Theory, Research, Practice, and Policy.

O psicólogo clínico Joseph Spinazzola e sua equipe do Centro de Trauma do Instituto de Recursos da Justiça, em Massachusetts, utilizaram informações da Rede Nacional de Traumas e Estresse Infantil (NCTSN, na sigla em inglês) para analisar dados de 5.616 crianças e adolescentes com histórico de abuso psicológico, físico e sexual.

Aproximadamente 62% tinham histórico de maus-tratos psicológicos; cerca de um quarto deles, 24%, sofreram exclusivamente esse tipo de violência, que abarca, de acordo com os pesquisadores, assédio moral por parte do cuidador, imposição de medo extremo, controle coercitivo, insultos graves, humilhações, ameaças, exigência extrema, rejeição e isolamento.

Os pesquisadores constataram que aqueles que passaram por esse tipo de experiência tendiam a sofrer de ansiedade, depressão, baixa autoestima, sintomas de estresse pós-traumático e a apresentar risco de suicídio em maior nível do que os que sofreram violência física ou sexual. Entre os três tipos de agressão, a psicológica foi a mais fortemente associada com transtorno depressivo, distúrbio de ansiedade social e generalizada, dificuldade de formar vínculos afetivos e abuso de substâncias.


Esse tipo de violência provoca danos emocionais tão graves quanto a agressão física e sexual juntas, alertam os pesquisadores. “Profissionais dos serviços de proteção podem levar mais tempo para reconhecer a negligência emocional porque ela não deixa marcas visíveis, além de não ser considerada socialmente tão grave”, aponta Spinazzola. “Precisamos de iniciativas de sensibilização para ajudar o público a entender os prejuízos psicológicos severos provocados por esse tipo de abuso.”
 
;