domingo, 2 de fevereiro de 2014
comunicação,
internet,
jornal,
redes sociais,
rolezinho
2
comentários
REDES ANTISSOCIAIS
A publicação de jornais e revistas on-line abriu um importante canal de comunicação com os leitores. Assim que leem um artigo ou reportagem, eles podem enviar seu comentário sobre o texto ou o assunto de que este trata. Publicado ao pé da matéria, o dito comentário desperta a opinião de outros leitores e, em poucos minutos, está criado um fórum de discussão entre pessoas que nunca se viram, nunca se verão e podem estar a milhares de quilômetros umas das outras.
Ainda bem. Pelo teor de alguns desses comentários, é bom mesmo que não se encontrem. Se um leitor discorda enfaticamente do que leu, pode atrair a resposta raivosa de um terceiro, o repique quase hidrófobo de um quarto e um bombardeio de opiniões homicidas na sequência. Lá pelo décimo comentário, o texto original já terá sido esquecido e as pessoas estarão brigando on-line entre si.
O anonimato desses comentários estimula a que elas se sintam livres para passar da opinião aos insultos e até às ameaças. Na verdade, são um fórum de bravatas, já que seus autores sabem que nunca se verão frente a frente com os alvos de seus maus bofes.
Já com as "redes sociais" é diferente. Elas também podem ser um festival de indiscrições, fofocas, agressões, conspirações e, mais grave, denúncias sem fundamento. E, como acolhem e garantem a impunidade de todo tipo de violência verbal, induzem a que as pessoas levem esse comportamento para as ruas. Será por acaso a crescente incidência, nos últimos anos, de quebra-quebras em manifestações, brigas em estádios, arrastões em praias e, última contribuição das galeras, os "rolezinhos" nos shoppings?
São algumas das atividades que as turbas combinam pelas "redes sociais" --expressão que, desde sempre, preferi escrever entre aspas, por enxergar nelas um componente intrinsecamente antissocial.
RUY CASTRO
Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir
Pra você guardei o amor
Que sempre quis mostrar
O amor que vive em mim vem visitar
Sorrir, vem colorir solar
Vem esquentar
E permitir
Quem acolher o que ele tem e traz
Quem entender o que ele diz
No giz do gesto o jeito pronto
Do piscar dos cílios
Que o convite do silêncio
Exibe em cada olhar
Guardei
Sem ter porquê
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar
Achei
Vendo em você
E explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar
Pra você guardei o amor
Que aprendi vendo os meus pais
O amor que tive e recebi
E hoje posso dar livre e feliz
Céu cheiro e ar na cor que arco-íris
Risca ao levitar
Vou nascer de novo
Lápis, edifício, tevere, ponte
Desenhar no seu quadril
Meus lábios beijam signos feito sinos
Trilho a infância, terço o berço
Do seu lar
Guardei
Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar
Achei
Vendo em você
E explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar
Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir
Quem acolher o que ele tem e traz
Quem entender o que ele diz
No giz do gesto o jeito pronto
Do piscar dos cílios
Que o convite do silêncio
Exibe em cada olhar
Guardei
Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar
Achei
Vendo em você
E explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar
O conceito de refutabilidade ou falseabilidade, proposto por Karl Popper nos anos 1930, é a chave por trás do ceticismo científico e fundamenta-se na necessidade de que toda a hipótese científica quando formulada tenha embutida em seu enunciado um “mecanismo de previsão de erros”, ou seja, que ela ofereça a possibilidade de ser refutada ou falseada.
Se for considerada hipótese científica, deve admitir logicamente duas possibilidades: a de ser verdadeira ou a de ser falsa.
Repetindo: isso deve ser previsto em seu enunciado.
Por exemplo, quando formulamos depois de detidas observações da natureza a seguinte proposição:
“Todo o animal que possui bico é uma ave”.
Como hipótese científica deve admitir duas possibilidades: verdadeira ou falsa.
O cientista pode ter observado milhares de animais com bico e todas foram classificadas como ave, por isso considerou inicialmente verdadeira sua hipótese.
Porém, ela possibilita em seu enunciado a refutação. Pois basta aparecer um animal que tenha bico e que não seja ave que a hipótese será refutada.
Por essa razão tal assertiva é científica (embora não seja verdadeira, pois o ornitorrinco, por exemplo, possui bico e não é ave).
Agora, se a proposição de trabalho fosse essa:
“O tomate é vermelho ou não é vermelho”.
Mesmo sendo uma verdade, tal proposição não é considerada como científica, posto que em qualquer cenário ela nunca será falseada.
Para ser considerada científica, a proposição deve embutir em seu enunciado a possibilidade de ser refutada. E nesse caso não é oferecida tal possibilidade.
Vamos a outro exemplo:
“O íbis é um animal sagrado.”
Não existe nessa premissa possibilidade de falseá-la, pois não há experimento laboratorial ou mental que se possa imaginar para contestar o conceito de sagrado do íbis. Além do mais, esse é um argumento de autoridade(aquele que não pode ser refutado) pois um deus de nome Thot deixou escrito que íbis é um animal sagrado (e de acordo com essa sociedade não há autoridade maior que a de um deus). Logo, essa não é uma premissa científica, pois não pode ser falseada ou refutada.
De fato é uma premissa religiosa proveniente do Antigo Egito.
Em tempo:
Quero deixar claro que não estou questionando aqui a veracidade da premissa se o íbis – é ou não é – um animal sagrado. Estou apenas apontando o fato de que tal premissa não é científica, pois não atende ao princípio da falseabilidade.
Mais um exemplo:
Lavoisier, depois de um meticuloso estudo científico, afirmou que cada molécula de água é constituída por dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio.
Tal afirmativa pode ser testada em laboratório e consequentemente pode ser refutada se os resultados não forem os previstos.
Logo, essa é uma premissa científica.
Karl Popper ao enunciar esse princípio, quis preservar a ciência de que premissas tidas como científicas perpetuassem erros seculares geralmente criados por argumento de autoridade (que não admite contestação) ou pelo problema da indução (questão um tanto mais delicada que detalharemos nos próximos artigos).
Evidentemente tudo depende do entendimento correto do que é uma hipótese científica.
Hipótese Científica
O termo hipótese pode ser conceituado como sendo uma proposição a partir do qual se pode deduzir, pelas regras da lógica, um conjunto secundário de proposições, que têm por objetivo elucidar o mecanismo associado às evidências e dados experimentais a se explicar.
E é claro se a hipótese foi formulada corretamente, dentro do método científico, ela pode ser confirmada ou refutada por meio de experimentos, inferências lógico-matemáticas, confrontações com dados colhidos de observações, etc.
Literalmente pode ser compreendida como uma suposição ou proposição na forma de pergunta ou questionamento, uma conjetura que objetive orientar uma investigação, seja por antecipar características prováveis do investigado, seja pela confirmação ou não por meio de deduções lógicas dessas características.
Muitas vezes o confronto com os resultados obtidos, confirma ou refuta a hipótese inicial e aponta novos caminhos de investigação que podem então gerar novas hipóteses e novos experimentos, e assim por diante.
Geralmente essa cadeia de eventos desde uma hipótese inicial até o desenvolvimento de um novo paradigma (que muitas vezes geram aplicações práticas, ou seja, tecnologia) segue outro atributo medular da ciência, que é o do acúmulo histórico do conhecimento científico, no qual um pesquisador apoia-se no conhecimento conquistado por seus antecessores, ao mesmo tempo, que testa esse conhecimento exaustivamente procurando brechas e inverdades que possam estar inclusas em seus enunciados.
Veja o exemplo que segue.
Uma breve história da Aspirina
Textos médicos assírios (Século VIII a.C) descreviam que o pó ácido da casca do salgueiro aliviava dores (propriedade analgésica) e diminuía a febre (propriedade antipirética).
Hipócrates (Século V a.C) confirmou em seus escritos essas propriedades analgésicas e antipiréticas da casca do salgueiro como resultado de sua prática e de seus discípulos.
Edmundo Stone (1763) confirmou o proposto por Hipócrates e produziu extratos onde isolou o princípio ativo: ácido salicílico (experimentos em laboratório e práticas de campo).
Henri Leroux, e Raffaele Piria (1828) Confirmaram o princípio ativo da casca de salgueiro descoberto por Edmundo Stone (ácido salicílico) e o isolaram na forma cristalina (experimentos em laboratório).
Felix Hoffmann e/ou Arthur Eichengrun (1897) Confirmaram o princípio ativo que foi isolado em 1828 e produziram um derivado menos agressivo ao sistema digestório: o ácido acetil-salicílico (experimentos em laboratório).
Laboratórios Bayer (1899) – produziram e comercializaram o ácido acetil-salicílico com o nome fantasia “aspirina” (experimentos em laboratório e testes e práticas de campo).
John Vane (1971) – elucidou o mecanismo de ação do ácido salicílico o que lhe valeu o prêmio Nobel de Medicina de 1982 (experimentos em laboratório e testes e práticas de campo).
Peço ao leitor fã de História da Ciência que me perdoe por esse sobrevoo histórico tão superficial, porém o objetivo aqui é o de ilustrar o conceito de hipótese e falseabilidade.
Assim temos:
- Hipótese inicial: extratos ácidos da casca do salgueiro possuem
princípios analgésicos e antipiréticos – cânones assírios, provavelmente
fundamentados na tradição oral e práticas médicas rudimentares dos
povos mesopotâmios.
- Hipótese confirmada por Hipócrates e Edmundo Stone por experimentos
de campo
- Nova hipótese: o princípio ativo é o ácido salicílico – Edmundo Stone
(experimentos em laboratório e testes de campo)
- Hipótese confirmada por Hoffman (laboratórios Baeyer) e Eichengrun
(segundo alguns peritos).
- Nova hipótese criada por Hoffman e Eichengrun: o ácido acetil-salicílico
oferece melhores resultados que o salicílico (experimentos em
laboratório).
E assim por diante.
Em cada um dos momentos históricos, novos paradigmas foram apresentados, caracterizando aí a invenção de um medicamento sintético que custou para a humanidade a bagatela estimada em dez mil anos de sua história!
E é assim na maioria das conquistas científicas que originam tecnologia. Muitas vezes custa o esforço de toda uma geração, ou de centenas.
Lembre-se disso quando tomar um analgésico!
Mentira x Convicção
Porém, muitos detratores da ciência continuarão em sua ingenuidade achando que o tal princípio da falseabilidade e o ceticismo científico que dele advém é na maioria das vezes inócuo, pois existem muitos campos da ciência moderna (cuja comprovação é muito complicada ou talvez impossível) que obrigam que as pessoas acreditem nos argumentos dos cientistas assim como acreditam em algum tipo de guru. Simples assim.
Aí é que se encontra a confusão.
O funcionamento da ciência e da tecnologia não depende da fé nos cientistas.
Pelo contrário!
É duvidando deles que a ciência evolui e se torna paulatinamente mais confiável.
Pois o cientista (como ser humano que é) pode errar e também pode mentir e enganar.
O cientista pode usar de seu conhecimento para abusar da boa fé do semelhante, extorquir-lhe dinheiro, e transformá-lo em um fantoche – por exemplo – exatamente como poderia fazer e faz qualquer outro ser humano que não siga preceitos éticos que visem o bem comum. Seja ele um cientista ou não.
Porém a ciência como algo que se arroga de historicamente responsável procura prevenir-se contra esses heterogêneos, investindo no ceticismo de todos os seus praticantes, com o principal objetivo de não permitir que se perpetuem inverdades seja elas intencionais ou não.
Por isso, se não existir possibilidade de duvidar – não é ciência!
Para concluir, algumas palavras de Nietzsche:
“A convicção é uma inimiga mais perigosa da verdade do que a mentira.”
Será?
Por Mustafá Ali Kanso
Facebook,
mostrar,
perfil,
redes sociais,
RUTH DE AQUINO
2
comentários
O QUE VOCÊ REVELA SOBRE VOCÊ NO FACEBOOK
Coloquei o apartamento do meu pai para alugar no carnaval do Rio. Um rapaz respondeu. Simpático, educado. Achou o preço ótimo. Pelo que me falou sobre ele, eu disse OK, vou reservar para você.
Perguntei quais eram as idades do grupo. Ele respondeu que faria o depósito do sinal. Insisti perguntando as idades do grupo. Respondeu que mandaria logo e me pediu o contrato de temporada para assinar rapidamente e fechar negócio. Pedi de novo os nomes e as idades dos interessados. Tudo por email.
Quando eu percebi que havia uma certa enrolação, telefonei para o celular do candidato. O rapaz, engenheiro formado, paulistano, aparentemente rico e de boa família, tinha 26 anos. Dois eram amigos de 28 e 29 e havia uma trinca – “ou mais” – de 20 a 23 anos. “Primos”.
Bom, aí a coisa começou a emperrar.
Resolvi olhar os perfis nas redes sociais. Eram bonitos, fortes e saudáveis os dois mais “velhos”. O que me contatou tem, como foto principal, uma imagem sem camisa, músculos bem definidos, numa mesa de bar, rodeado por latas de cervejas.
Nada demais, um cara festeiro, curte a vida, não?
Outra foto o mostra no meio da Fiel do Corinthians. OK, um cara apaixonado por seu time, uma torcida “aguerrida”...quem não ama seu clube de futebol, né?
A outra foto o mostra rindo, de boné, com uma camiseta com os seguintes dizeres: SEX & PILLS & DRUGS & TATTOO & MUSIC & SEX = Rehab+iMode.
Nesse momento, eu agradeci o interesse e desejei boa sorte a todos.
Fico pensando.
Será que as moças e os rapazes que se despem física e emocionalmente nas redes sociais acham que “tudo bem”?
O meu candidato pode ser uma pessoa muito legal mesmo e as fotos talvez apenas traduzam a personalidade de um jovem popular, feliz, sedutor e cheio de vida.
Mas, na hora de entregar o apartamento dos pais a um grupo de inquilinos, ou na hora de se contratar alguém ou de chamar um profissional para uma empreitada, dificilmente a pessoa opta pelo risco.
A primeira coisa que se faz hoje é verificar o perfil do candidato na rede social.
Tem gente que faz essa “verificação” virtual até mesmo antes de correr o risco de se apaixonar...
E as fotos podem dizer mais do que mil palavras.
Menos, pessoal. Menos.
RUTH DE AQUINO
Eu tinha 13 anos, em Fortaleza, quando ouvi gritos de pavor.
Vinha da vizinhança, Bete, mocinha linda, que usava tranças.
Levei apenas uma hora para saber o motivo.
Bete fora acusada de não ser mais virgem e os dois irmãos a subjugavam em cima de sua estreita cama de solteira, para que o medico da família lhe enfiasse a mão enluvada entre as pernas e decretasse se tinha ou não o selo da honra.
Como o lacre continuava lá, os pais respiraram, mas a Bete nunca mais foi a mesma, nunca mais dançou nos bailes e acabou fugindo para o Piauí, ninguém sabe como, nem com quem.
Eu tinha apenas 14 anos, quando Maria Lúcia tentou escapar, saltando o muro alto do quintal da sua casa para se encontrar com o namorado.
Agarrada pelos cabelos e dominada, não conseguiu passar no exame ginecológico.
O laudo medico registrou vestígios himenais dilacerados, e os pais internaram a pecadora no reformatório Bom Pastor, para se esquecer do mundo.
Realmente esqueceu, morrendo tuberculosa.
Estes episódios marcaram para sempre a minha consciência e me fizeram perguntar que poder é esse que a família e os homens tem sobre o corpo das mulheres.
Ontem, para mutilar, amordaçar, silenciar.
Hoje, para manipular, moldar, escravizar aos estereótipos. Todos vimos, na televisão, modelos torturados por seguidas cirurgias plásticas.
Transformaram seus seios em alegorias para entrar na moda da peitaria robusta das norte-americanas.
Entupiram as nádegas de silicone para se tornarem rebolativas e sensuais, garantindo bom sucesso nas passarelas do samba.
Substituíram os narizes, desviaram costas, mudaram o traçado do dorso para se adaptarem à moda do momento e ficarem irresistíveis diante dos homens.
E, com isso, Barbies de fancaria, provocaram em muitas outras mulheres as baixinhas, as gordas, as de óculos - um sentimento de perda de auto-estima.
Isso exatamente no momento em que a maioria de estudantes universitários (56%) é composta de moças. Em que mulheres se afirmam na magistratura, na pesquisa cientifica, na política, no jornalismo.
E no momento em que as pioneiras do feminismo passam a defender a teoria de que é preciso feminilizar o mundo e torna-lo mais distante da barbárie mercantilista e mais próximo do humanismo.
Por mim, acho que só as mulheres podem desarmar a sociedade. Até porque elas são armadas pela própria natureza. Nascem sem pênis, sem o poder fálico da penetração e do estupro, tão bem representado por pistolas, revolveres, flechas, espadas e punhais.
Ninguém diz, de uma mulher, que ela é de espadas. Ninguém lhe dá, na primeira infância, um fuzil de plastico, como fazem com os meninos, para fortalecer sua virilidade e violência.
As mulheres detestam o sangue, até mesmo porque, tem que derrama-lo na menstruação ou no parto. Odeiam as guerras, os exércitos regulares ou as gangues urbanas, porque lhes tiram os filhos de sua convivência e os colocam na marginalidade, na insegurança e na violência.
É preciso voltar os olhos para a população feminina como a grande articuladora da paz. E para começar, queremos pregar o respeito ao corpo da mulher.
Respeito às suas pernas que tem varizes porque carregam latas d'água e trouxas de roupa. Respeito aos seus seios que perderam a firmeza porque amamentaram seus filhos ao longo dos anos. Respeito ao seu dorso que engrossou, porque elas carregam o País nas costas.
São as mulheres que imporão um adeus às armas, quando forem ouvidas e valorizadas e puderem fazer prevalecer a ternura de suas mentes e a doçura de seus corações.
Nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda. E meu peito não é de silicone; mas sou mais macho que muito homem.
RITA LEE
amates,
amor,
encontro,
literatura,
Manuela R. Spinoza,
poema,
relacionamento
0
comentários
ENCONTRO
Você me faz voar, nos teus toques tão precisos
teus riscos no olhar, rindo todo meu sorriso
Meio anjo, meio safado,
E totalmente, completamente, fatalmente...
Homem.
A gente ri à toa, nossos olhos decididos
Que brincam de brilhar, meio loucos, explosivos
Meio anjo, meio safado,
E totalmente, completamente, fatalmente...
Homem
Tua voz e tuas mãos, loucas me invadindo inteira
Me desenhando em mim, sua de qualquer maneira
Meio anjo, meio safado,
E totalmente, completamente, fatalmente...
Homem.
Manuela R. Spinoza
sábado, 1 de fevereiro de 2014
CHARLES BUKOWSKI,
coração,
sentimento,
superação,
vida
0
comentários
O CORAÇÃO QUE RI
A tua vida é a tua vida
Não a deixes ser dividida em submissão fria.
Está atento
Há outros caminhos,
Há uma luz algures.
Pode não ser muita luz mas
vence a escuridão.
Está atento.
Os deuses oferecer-te-ão hipóteses.
Conhece-las.
Agarra-las.
Não podes vencer a morte mas
podes vencer a morte em vida, às vezes.
E quanto mais o aprendes a fazê-lo,
mais luz haverá.
A tua vida é a tua vida.
Memoriza-o enquanto a tens.
És magnífico.
Os deuses esperam por se deliciarem
em ti.
CHARLES BUKOWSKI
(Tradução de Tiago Nené)
CRISTIANE SEGATTO,
depressão,
emocional,
medo,
mental,
pensamento,
sofrimento,
terapia
1 comentários
PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS E DEPRESSÃO
Como mudar crenças e ideias que produzem sofrimento
Ruminar é a coisa certa a fazer, desde que você tenha quatro patas, coma capim e disponha de um sistema digestivo complexo. Bois, cabras, camelos e outros herbívoros são bons nisso. O alimento vai, devagar, da boca ao estômago. Depois, volta do estômago à boca. E, de novo, segue da boca ao estômago. Tudo em nome do bom aproveitamento dos nutrientes. Humanos não processam alimentos desse jeito, mas podem ser paquidérmicos ruminantes mentais.
Sabe quando os problemas não saem da cabeça? Vão e voltam? O perrengue aconteceu lá no passado, mas ainda mina as relações do presente? Os ressentimentos encorpam como bola de neve? Ruminantes raramente viram a página ou passam a borracha. O estrago pode ser grande.
“A ruminação é um dos fatores que contribuem para a depressão”, diz o psicólogo Robert L. Leahy, do Weill Cornell Medical College, em Nova York. Há poucas semanas ele fez uma apresentação por videoconferência durante o congresso da Associação Brasileira de Psiquiatria, realizado em Curitiba.
Eu estava lá e hoje aproveito para compartilhar um pouco das observações dele. Leahy falou sobre o uso da terapia cognitivo-comportamental no tratamento da depressão.
Essa forma de psicoterapia foi desenvolvida nos anos 60 pelo psiquiatra Aaron T. Beck, quando era professor da Universidade da Pensilvânia. O objetivo é a modificação de pensamentos e comportamentos inadequados ou inúteis.
É uma terapia de curta duração, bem estruturada, voltada para o presente e, em geral, mais barata que outras formas de atendimento psicológico. É um dos raros tipos de terapia que os planos de saúde aceitam pagar.
Até hoje, mais de 500 estudos científicos demonstraram os benefícios da terapia cognitivo-comportamental no tratamento de transtornos psiquiátricos, problemas psicológicos (questões familiares e conjugais, luto complicado, angústia, raiva, hostilidade etc) e outros problemas médicos com componentes psicológicos.
A terapia pode ser útil no tratamento de transtornos psiquiátricos como depressão, ansiedade, transtorno do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno bipolar, transtorno de déficit de atenção com hiperatividade, esquizofrenia e muitos outros.
Essa modalidade de terapia também tem ajudado no tratamento de enxaqueca, dores, obesidade, insônia, hipertensão, disfunção erétil etc. Mais informações sobre resultados de estudos podem ser encontradas no site do BecK Institute e da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas.
Qual é a teoria por trás da terapia cognitivo-comportamental? Ela é baseada na ideia de que nossa percepção sobre as situações influencia a forma como nos sentimos.
Quando uma pessoa está em sofrimento emocional, é comum que tenha uma percepção distorcida dos fatos. O objetivo do terapeuta é ajudar o paciente a avaliar se seus pensamentos são, de fato, realistas. O segundo passo é aprender a mudá-los.
Ao pensar de forma mais realista, é provável que a pessoa se sinta melhor. “A terapia cognitiva ensina as técnicas para que o paciente seja seu próprio terapeuta”, diz Leahy.
Ainda nos anos 60, quando Beck desenvolvia a técnica, ele observou que os pacientes deprimidos tinham ondas de pensamentos negativos que pareciam surgir espontaneamente. É o que os terapeutas chamam de “pensamentos automáticos”.
Esses pensamentos azedam o bolo de qualquer mastigação mental. Distorcem a realidade e angustiam. Ruminar é ter pensamentos negativos e repetitivos sobre o presente ou o passado.
“Por baixo dos pensamentos automáticos, há sempre suposições inadequadas”, diz Leahy. Coisas do tipo: “Nunca vou conseguir ser feliz fazendo as coisas por conta própria”. Com a ajuda da terapia, o paciente pode perceber que essa é uma generalização que não corresponde à realidade.
Qual é a raiz desse estado mental que causa tanto sofrimento? No começo da infância, as crianças desenvolvem determinadas ideias sobre si mesmas, sobre as outras pessoas e sobre o mundo.
Uma boa definição sobre isso aparece no livro Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática, da psicóloga Judith S. Beck, filha do criador da técnica. A segunda edição desse clássico da área é um lançamento da Editora Artmed.
“As suas crenças mais centrais, ou crenças nucleares, são compreensões duradouras tão fundamentais e profundas que frequentemente não são articuladas nem para si mesmo”, escreve Judith. “A pessoa considera essas ideias como verdades absolutas – é como as coisas “são”.
Imagine uma pessoa que tem a crença nuclear de que é incompetente. Ela interpreta as situações por meio das lentes da sua crença, mesmo que a interpretação racional seja evidentemente inválida. A pessoa tende a selecionar as informações que confirmam sua crença nuclear. As informações contrárias são simplesmente desconsideradas ou desvalorizadas.
No livro, Judith representa esse modelo de processamento da informação num diagrama. Quando a pessoa se acha incompetente, todos os dados negativos são processados imediatamente. Eles fortalecem a crença nuclear. Algo assim:
“Não consigo aprender a mexer nesse novo programa de computador.”
“Não consigo um empréstimo no banco.”
Os dados positivos apresentados pela realidade são transformados em dados negativos:
“O chefe me elogiou, mas eu não merecia.”
“Escolhi o plano de saúde, mas levei muito tempo.”
Às vezes, os dados positivos nem são percebidos. Quem se acha incompetente nem se dá conta de que faz muitas coisas bem feitas. Por exemplo: pagar as contas dentro do prazo, consertar um problema no encanamento etc.
O desafio do paciente é analisar a validade dessas crenças nucleares e mudar os pensamentos automáticos. Aceitar que errar é humano e assumir seus erros é um bom começo.
“Todas as pessoas inteligentes que conheço já tomaram decisões erradas”, diz Leahy, autor de dezenas de livros, entre eles A regulação emocional em psicoterapia.
Ninguém gosta de errar, mas é preciso perder o medo de lidar com ele. Quatro frases de Leahy que vale a pena ter em mente:
1) Todo mundo erra.
2) Erros são informação. São parte do progresso.
3) Um erro não é o fim do mundo.
4) Não tenha orgulho de ser perfeccionista.
A terapia cognitiva-comportamental não é uma panaceia. Em alguns pacientes, o efeito pode ser passageiro. Outros se beneficiariam mais se tivessem acesso a outras formas de terapia – de longo prazo e grande investimento (financeiro e emocional).
Em muitas situações, a terapia não substitui os remédios. Pacientes com depressão grave e outros transtornos psiquiátricos raramente podem ser tratados adequadamente sem medicamentos.
Em saúde mental, radicalismos podem ser bons para um ou outro grupo, mas péssimos para os pacientes. Ao final da apresentação, Leahy deixou um recado atualíssimo.
“Os pacientes nos procuram porque querem se sentir melhor. Não vêm por causa da religião da terapia cognitiva ou de qualquer outra”, disse. “Não há um tratamento que funcione para todos o tempo todo.”
Ninguém merece sofrer sozinho. O passo transformador é assumir que precisa de ajuda. Como Leahy, não acredito em cura. Acredito em ajuda. Ele não acredita em cura da condição humana. Nem eu.
CRISTIANE SEGATTO
Quando se diz que uma imagem vale mais do que mil palavras, logo pensamos em cenas e fotografias que não carecem de explicação: a força de sua mensagem dispensa legendas. Mas imagem não é apenas algo que se enxerga concretamente.
Quando vi a foto do caixão de Ronald Biggs coberto pela nossa bandeira, sabia que aquilo significava apenas uma homenagem do filho brasileiro que o ladrão inglês teve, mas, subliminarmente, a imagem também fazia uma associação indigesta entre o banditismo e as cores verde e amarelo. Essa imagem negativa que temos do nosso país não é gratuita. Por maior que seja a quantidade de brasileiros honestos, incluindo até alguns políticos, não adianta: o Brasil tem um histórico de corrupção e violência que induz a essa percepção.
Percepção é algo que se constrói dia após dia, fato após fato, e que uma vez consagrada, é difícil mudar. Mesmo que todos os trens da Inglaterra partam e cheguem com atraso nos próximos meses, será preciso anos para desfazer a imagem que aquele país tem de pontual. O contrário também acontece. Ronald Biggs, depois que fugiu para o Brasil, não roubava mais nem no troco, era apenas um aventureiro que se transformou em uma folclórica subcelebridade. O episódio do assalto ao trem pagador, cinco décadas antes, foi deixado de lado em prol da construção de uma imagem de anti-herói, e ele acabou sendo enterrado com cobertura da imprensa.
Poucas coisas são tão fortes quanto a imagem que a gente cria. E como todos gostam de saber com quem estão lidando para evitar surpresas, essa imagem vira referência e pode agir a nosso favor e também contra - preconceitos vêm daí.
Nem todo alemão é sisudo, nem todo baiano é preguiçoso, nem todo gaúcho é machista, mas essa é a “foto” que guardamos deles em nossos porta-retratos mentais. Estereótipos de grupo. Individualmente acontece a mesma coisa. A sua vida passa como se estivesse numa esteira de linha de produção, até que um dia você ganha um rótulo – que não veio do nada, você de certa forma colaborou para ser etiquetado como um fofoqueiro, um bebum, um mulherengo.
E também colaborou para ser reconhecido como um cara focado, um homem responsável, um sujeito que cumpre o que promete. Você pode mudar? Pode. Para melhor e para pior. A vida é longa. Angelina Jolie passou de bad girl a cidadã ativista e de família - adotou crianças, visitou países assolados pela fome, a nossos olhos virou outra pessoa.
Mas, para comuns mortais, é bem mais penoso reverter a própria imagem. A imprensa não cobre.
Rótulos, mesmo os bons, são limitadores. O ideal seria que pudessem esperar qualquer coisa de nós, já que somos mesmo capazes de surpreender. Mas o mundo se apega às certezas, não às dúvidas. Então, tenha em mente que tudo o que você faz (e principalmente o que você repete) ficará arquivado na memória daqueles com quem convive, e será um trabalhão desfazer essa imagem. Não que seja impossível, mas vai exigir mais do que mil palavras.
Quando tento buscar na memória a menina que fui, não consigo me ver chorando. No colégio? Nunca. Em casa? Só de forma muito reservada e profunda no silêncio do meu quarto, jamais por fricotes infantis. Mesmo adolescente, com os hormônios em curto-circuito, tampouco lembro de abrir as torneiras. Era durona, não chorava nem quando havia sério motivo para tal aliás, bastava que algum parente distante tivesse morrido para me dar uma vontade louca de rir. Tinha vergonha de me emocionar.
Depois veio a idade dos namoros, e aprendi a chorar por dor de cotovelo e também por autopiedade. Meu choro era tão sentido, vinha de zonas tão secretas em mim que, mesmo quando o motivo do choro já havia se dissipado, eu continuava chorando pela simples emoção de estar testemunhando a minha tristeza reprimida que finalmente desaguava — eu chorava pela comoção que eu mesma me causava.
Chorei por amor e ainda vou chorar, porque é da natureza do amor despertar nossas fragilidades. Chorei no momento em que minhas filhas nasceram, porque o esforço e a intensidade da emoção do parto faz tudo vazar sem barragem que represe. E chorei de raiva nas poucas vezes em que me senti injustiçada. E só. Tudo choro emocional, mas com razão conhecida.
Porém acabou o tempo de estio, quando eu chorava tão de vez em quando que podia lembrar a data. Nos tempos que correm, as lágrimas também correm — muito! E se antes chorava por alguma emoção irreprimível como o nascimento de um filho ou por um sofrimento doloroso como a partida de um grande amor, ando chorando agora durante a Dança dos Famosos. Quando o Gabiru fez o gol que deu ao Inter o Campeonato Mundial de Clubes, chorei. Quando uma criança canta na festinha da creche: “Quero ver você não chorar/Não olhar pra trás...”, me debulho. Choro em formatura.
Choro em discurso de família. Chorei quando os Stones entraram no palco no Hyde Park e quando Paul McCartney cantou My Love no Beira-Rio. Choro com os fogos de artifício do Réveillon. Choro no trânsito. Choro quando os caixões são fechados, mesmo que eu não conheça quem esteja dentro. Choro ao ver qualquer pessoa chorando. Choro em apresentação de dança da Dullius. Choro em aeroporto. Choro no banho. E quando ouço Chão de Giz, do Zé Ramalho, daí não são apenas olhos marejados: transbordo. Essa música toca em alguma coisa que me cala fundo e ainda não sei o que é.
Dizem que ficamos mais amolecidos com a idade, mas eu achava que estavam se referindo às dobrinhas nos joelhos. Pelo visto, os sentimentos, com o tempo, também afrouxam. Melhor assim: deixam de empedrar e de nos enrijecer por dentro. Deslizam pela face e nos purificam: ficamos banhados, limpos, batizados.
MARTHA MEDEIROS
Assinar:
Postagens (Atom)