terça-feira, 15 de outubro de 2013
amor,
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE,
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relacionamento,
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MEMÓRIA
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão
Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.
Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE,
mensagem,
passagem,
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vida
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PAROLAGEM DA VIDA
Como a vida muda.
Como a vida é muda.
Como a vida é nula.
Como a vida é nada.
Como a vida é tudo.
Tudo que se perde
mesmo sem ter ganho.
Como a vida é senha
de outra vida nova
que envelhece antes
de romper o novo.
Como a vida é outra
sempre outra, outra
não a que é vivida.
Como a vida é vida
ainda quando morte
esculpida em vida.
Como a vida é forte
em suas algemas.
Como dói a vida
quando tira a veste
de prata celeste.
Como a vida é isto
misturado àquilo.
Como a vida é bela
sendo uma pantera
de garra quebrada.
Como a vida é louca
estúpida, mouca
e no entanto chama
a torrar-se em chama.
Como a vida chora
de saber que é vida
e nunca nunca nunca
leva a sério o homem,
esse lobisomem.
Como a vida ri
a cada manhã
de seu próprio absurdo
e a cada momento
dá de novo a todos
uma prenda estranha.
Como a vida joga
de paz e de guerra
povoando a terra
de leis e fantasmas.
Como a vida toca
seu gasto realejo
fazendo da valsa
um puro Vivaldi.
Como a vida vale
mais que a própria vida
sempre renascida
em flor e formiga
em seixo rolado
peito desolado
coração amante.
E como se salva
a uma só palavra
escrita no sangue
desde o nascimento:
amor, vidamor!
Carlos Drummond de Andrade
domingo, 13 de outubro de 2013
conto,
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filosofia,
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Ovídio,
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tempo,
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METAMORFOSES
Não há coisa alguma que persista em todo o Universo. Tudo flui, e tudo só apresenta uma
imagem passageira. O próprio tempo passa com um movimento contínuo, como um rio... O
que foi antes já não é, o que não tinha sido é, e todo instante é uma coisa nova. Vês a noite,
próxima do fim, caminhar para o dia, e à claridade do dia suceder a escuridão da noite...
Não vês as estações do ano se sucederem, imitando as idades de nossa vida? Com efeito, a
primavera, quando surge, é semelhante à criança nova... A planta nova, pouco vigorosa,
rebenta em brotos e enche de esperança o agricultor. Tudo floresce. O fértil campo
resplandece com o colorido das flores, mas ainda falta vigor às folhas. Entra, então, a quadra mais forte e vigorosa, o verão: é a robusta mocidade, fecunda e ardente.
Chega, por sua vez, o outono: passou o fervor da mocidade, é a quadra da maturidade, o meio-termo entre o jovem e o velho; as têmporas embranquecem. Vem, depois, o tristonho inverno: é o velho trôpego, cujos cabelos ou caíram como as folhas das árvores, ou, os que restaram,
estão brancos como a neve dos caminhos. Também nossos corpos mudam sempre e sem
descanso... E também a Natureza não descansa e, renovadora, encontra outras formas nas
formas das coisas. Nada morre no vasto mundo, mas tudo assume aspectos novos e
variados... Todos os seres têm sua origem noutros seres.
Existe uma ave a que os fenícios dão o nome de fênix. Não se alimenta de grãos ou ervas, mas das lágrimas do incenso e do
suco da amônia. Quando completa cinco séculos de vida, constrói um ninho no alto de uma
grande palmeira, feito de folhas de canela, do aromático nardo e da mirra avermelhada. Ali
se acomoda e termina a vida entre perfumes. De suas cinzas, renasce uma pequena fênix,
que viverá outros cinco séculos... Assim também é a Natureza e tudo o que nela existe e
persiste.
Ovídio, Metamorfoses.
Links indicados: SOBRE OS POETAS E A MENTIRA
DIFICULDADE PARA A BUSCA DA VERDADE
ESPANQUEMOS OS POBRES!
ILHA DAS FLORES (curta)
sábado, 12 de outubro de 2013
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brasileira,
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mulher,
negro,
preto,
religião
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Fé, Negra, Resitência,
A fé, diferente da convicção, está arrigada nos processos
biológicos profundos do corpo é a chave dos problemas da vida
moderna. A fé pertence a um tipo de experiência diferente do
conhecimento. É mais profunda (Lowen(1972). Teria ainda a maioria
dos negros no Brasil essa chave guardada sobre segredo?
A sensualidade e a devoção podem ser consideradas modos particulares
de vivência corporal que marcam uma diferença estática e ética
entre negros e brancos.
São formas culturais que permitem sair da existência anônima imposta
a os excluídos e incapaz de justiça. São formas de tocar o mundo
e, sinceramente, dar uma própria resposta. Dançando e brincando
vive-se a experiência de plena liberdade em seus cultos e
ressonâncias sociais. Vive-se não só uma inocente
irresponsabilidade...
As religiões negro brasileiras, vistas como devoção e esperança de
melhoria, não "alienam" o individuo negro mas, ao contrário, operam
de maneira radical em sua integração na realidade (Sodré,1987).
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
ciência,
conhecimento,
desencaminhadoras,
Deus,
estudo,
LUIS FERNANDO VERISSIMO,
religião,
universo
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AS DESENCAMIADORAS
Sir Francis Bacon deu um conselho curioso aos que estudavam a natureza. Disse que deveriam suspeitar de tudo que suas mentes adotassem com muita satisfação. Era uma maneira de prevenir contra a ilusão de que qualquer descoberta humana fosse completa, ou tivesse completamente dispensado a vontade de Deus.
No momento (século 17) em que crescia a ideia quase herética de que existia um livro da natureza tão cheio de mensagens cifradas de Deus para os homens quanto a Bíblia, Bacon aconselhava a ciência a não desprezar o que diziam os mitos e as escrituras. A vontade de Deus se manifestava de várias formas, algumas eram apenas mais poéticas do que as outras.
A primeira “mensagem” assim identificada do livro secular da natureza foi o magnetismo, que os gregos e romanos já conheciam e os chineses já usavam na navegação, mas que só começou a ser estudado a fundo pelo inglês William Gilbert, contemporâneo de Francis Bacon na corte da rainha Elizabeth I, de quem era médico.
O magnetismo era a prototípica evidência de uma força invisível na natureza, a primeira alternativa à pura intenção de Deus por trás de tudo. Gilbert, que chamava a força magnética de “alma” da Terra, deduziu que todo o planeta era uma pedra magnética e que os imãs eram filhos da Terra, com quem ela compartilhava seu poder. E recorreu à linguagem poética, no caso erótica, para descrever a origem do ferro e da sua misteriosa propriedade, no ventre profundo do globo, igual a “o sangue e o sêmen na geração dos animais”.
Na linguagem poética dos mitos, o poder da Mãe Terra sobre o destino dos homens é anterior às descobertas de Gilbert. São muitas as forças femininas que norteiam a vida dos homens e os atraem para o conhecimento, o sucesso ou a ruína – ou tentam.
Desde Eva, culpada por termos trocado o paraíso eterno pelo saber, o sexo e a morte, passando pela Esfinge com suas charadas didáticas e por todas as musas inspiradoras, sereias tentadoras e ninfas sedutoras, e todas as gerações e gerações de companheiras de fé ou desencaminhadoras fatais que nos mantiveram no rumo ou nos desencaminharam, são todas filhas da grande mãe magnética, nos guiando pelo mundo.
Albert Einstein contava que ao ganhar uma bússola, quando era menino, teve a primeira sensação de uma força misteriosa por trás de tudo, e o primeiro ímpeto de desvendá-la. Mais do que ninguém, Einstein podia dizer que substituíra Deus pela Natureza na explicação do mundo, mas ele nunca abandonou sua devoção quase religiosa a um determinismo harmônico do Universo, cedendo a Deus, ou a que outro nome se quisesse dar ao indesvendável, esse último mistério, só alcançável pela metáfora.
Mas Einstein não seguiu o conselho de Francis Bacon de desconfiar do que o satisfazia. Satisfez-se tanto com suas certezas que passou os últimos anos da vida buscando uma teoria unificada da gravidade e do eletromagnetismo que refutasse a teoria quântica que as ameaçava, e tornava a matéria e seu comportamento inexplicáveis em qualquer linguagem, científica ou a poética. Pois aceitá-la seria aceitar um universo regido pelo acaso, ou pela estupidez. Ou tornado absolutamente obscuro por um Deus ciumento
LUIS FERNANDO VERISSIMO
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
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político,
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PARA QUE SERVE UM VEREADOR?
Ele é o político que deve estar mais próximo dos cidadãos, entendendo os problemas da cidade e buscando soluções. A cidade é onde as pessoas moram, trabalham e se divertem e os vereadores devem entender as demandas das diferentes classes e comunidades existentes na cidade e representá-los politicamente. Os vereadores estão mais próximos da população do que a prefeitura, e por isso muitas vezes servem como canalizadores de denúncias e reclamações para o poder público. Apesar da proximidade com os cidadãos, os vereadores não têm o poder de executar serviços públicos (como mandar consertar buracos em ruas e postes de iluminação queimados ou podar árvores). Mas então que poderes eles realmente tem?
Poder de fazer leis:
Os vereadores criam e votam projetos de lei para assegurar direitos aos cidadãos. Como as leis não se aplicam sozinhas, é papel da prefeitura fazer com que as leis sejam cumpridas. Os vereadores podem fazer leis, por exemplo, que tratem dos impostos municipais (como mudanças no IPTU), benefícios fiscais (como diminuir os impostos pagos por construções que sejam ambientalmente sustentáveis), ocupação do solo urbano (como determinar que em certa área da cidade só se possa construir prédios comerciais), proteção do patrimônio municipal (como tombar uma escola municipal) e a elaboração do orçamento anual da cidade.Poder de fiscalizar:
Um dos poderes mais importantes dos vereadores é o de fiscalizar tudo o que a prefeitura faz, principalmente na aplicação de recursos para melhorar a cidade da forma como está previsto na lei orçamentária aprovada.Mas devemos lembrar a valiosa lição do Tio Ben: “Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”. Mas então quais são as responsabilidades dos nossos vereadores?
A principal obrigação dos vereadores é participar ativamente das sessões da Câmara Municipal. Além disso, ele deve estar por dentro dos acontecimentos de sua cidade, trabalhar para solucionar os problemas dos cidadãos, acompanhar as obras públicas realizadas pela prefeitura, acompanhar a criação de comissões, fóruns e comitês, trabalhar junto aos movimentos sociais e serem cidadãos exemplares.
Além de grandes poderes e grandes responsabilidades, os vereadores também têm benefícios para poderem exercer sua função bem.
Imunidade parlamentar:
O vereador não pode sofrer ameaça judicial em decorrência de suas opiniões, palavras e votos no exercício de seu mandato. Se ele cometer um crime, no entanto, ele poderá ser preso, processado e julgado sem consulta prévia à Câmara.
Direito à renúncia:
O vereador tem direito de desistir do cargo para o qual foi eleito, basta escrever um ofício ao presidente da Câmara e informar ao Plenário. Assim que renunciar, seu suplente assumirá o cargo.
Direito a outro trabalho
O vereador pode exercer outra profissão remunerada desde que haja compatibilidade de horários.
Direito à remuneração
Os vereadores recebem atualmente um salário de R$15 mil, equivalente a 75% do salário de um Deputado Estadual.
Benefícios do mandato
Os vereadores recebem 1.000 litros mensais de gasolina, 14º e 15º salário (o chamado “auxílio-paletó”), podem indicar 20 assessores e 4 mil reais em selos.Direito a licença
O vereador pode tirar licença (remunerada ou não) nos seguintes casos: para tratar de saúde, para cumprir missão de interesse do Município, para tratar de assuntos particulares, para assumir cargo municipal de confiança.
Mas também há limites:
O vereador não pode:
- Ser proprietário ou diretor de empresa que tenha contratos com seu município
- Eleger-se para outro cargo eletivo enquanto vereador
- Mover ação judicial contra ou a favor das pessoas jurídicas de direito público, autarquias, empresas públicas e empresas concessionárias de serviço público
- Exercer advocacia, caso assuma algum cargo titular ou de suplente na Mesa Diretora da Câmara.
A REALIDADE
Apesar de não terem na prática o poder de consertar buracos e postes de iluminação, podar árvores, construir pracinhas e oferecer serviços públicos (como assistência médica), muitos líderes comunitários (que são eleitos vereadores) fazem isso em suas comunidades através dos chamados “Centros Sociais” visando, em troca, ganhar votos. Essa é uma prática que deveria ser mais fiscalizada e combatida pela justiça eleitoral, pois configura compra de votos.FONTE:http://deolho.meurio.org.br
terça-feira, 8 de outubro de 2013
Afrodite,
jaqueline Ramiro,
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Trofônio
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O HOMEM É A MEDIDA DE TODAS AS COISAS
Não desejo ser pedante como algumas mulheres que pousam nos meios sociais como detentoras das verdades e propagandeadoras da moral. O mundo e as pessoas ainda constituem para mim grande e agradável mistério; trago fácil no rosto esse sorriso que tanto dizeis detestar enquanto eles veneram como o faria a Afrodite.
Petulância minha comparar-me a tal deusa?
Não, maior petulância é a sua que vem mantendo o meu culto de adoração vivo , permanente mais do que qualquer homem o faria, porém acredita ser capaz de repreender-me por aquilo que nunca teve coragem de conhecer. Ah! Pobre mulher mal amada. Es desdenhosa da beleza, juventude, conhecimento, força e independência.
Deixe-me como estou: incorrigível e feliz como os tolos.
Pois ainda que frívola sou aquela que desperta as paixões. Tu madura e sábia como aqueles saídos da caverna de Trofônio. Saiba que não me importo que vivas em constante melancolia, nem que tente a todo custo chamar minha atenção, mas apenas te peço um favor: não jogue em meus ombros o peso das suas fadigas conjugais, pois somos pessoas de personalidades e ambições muito opostas.
Na vida escolhi estar em constante movimento, ainda sou começo, não fim.
Sou mulher e revolução.
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
ARTHUR DA TÁVOLA,
pensamento,
perdoar,
relacionamento,
sentimento
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Perdoar é a junção de " per " com "doar".
"... Aprendi, outro dia que perdoar
é a junção de " per " com "doar".
Doar é mais do que dar.
Doar é a entrega total do outro.
O prefixo "per" que tem várias acepções,
indica movimento no sentido "de"
ou em "direção" a ou "através"
ou "para" etimologicamente falando,
portanto, perdoar, quer dizer doar ao
outro a possibilidade de que ele possa amar,
possa doar-se.
Não apenas quem perdoa que se
"doa através do outro".
Perdoar implica abrir possibilidades de
amor para quem foi perdoado,
através da doação oferecida
por quem foi agravado.
Perdoar é a única forma de facilitar
ao outro a própria salvação.
Doar é mais do que dar: é a entrega total ...
Perdoar é doar o amor,
é permitir que a pessoa objeto do perdão
possa também devolver um amor que,
até então, só negara ...
Artur da Távola
sábado, 28 de setembro de 2013
CAETANO VELOSO,
inferno,
intenções,
manifestações,
olhos
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CANTO DE FONTE
Os olhos de Emma são lindos, de uma cor verde-cinza e com forma e tamanho
muito harmônicos com o pedaço do rosto cuja pele está de fora
A moça do Black Bloc que aparece num vídeo da Mídia Ninja e na capa de “Veja”, que diz chamar-se Emma, é deslumbrantemente bonita com a máscara que só deixa à mostra os olhos. Isso não quer dizer que ela tenha apenas os olhos bonitos (o que muitas vezes é confundido com ter os olhos claros). Os olhos de Emma são lindos, de uma cor verde-cinza e com forma e tamanho muito harmônicos com o pedaço do rosto cuja pele está de fora. Muito harmônico também com as sobrancelhas, cujo arco está corrigido por depilação e talvez reforçado por leve pintura. Onde parece haver pintura (e, se for o caso, de cor e linhas muitíssimo bem escolhidas) é nas pálpebras. Falando para a câmera da Ninja, a borda das pálpebras junto às pestanas delineadas de negro, as jovens dobras do entorno de seus olhos parecem a um tempo escurecidas e cintilantes, sempre com insinuações douradas. Mas o que faz a gente crer tratar-se de uma bela mulher é a relação de tudo isso com a forma do rosto que está sob a máscara negra.
A gente tem vontade de ir ao acampamento em frente à casa de Cabral para falar com ela, mas respeita a exigência do grupo anarquista a que ela aderiu de não fazer de nenhum militante uma individualidade, sua vida pessoal devendo desaparecer sob a máscara e a ideologia. Por mais bonita que ela seja, os Black Blocs não estão aí para lançar celebridades midiáticas e figuras atraentes para olhares curiosos. A porta da casa de Cabral não é o portão do BBB. Emma é linda. O anarquismo é lindo. Mas eu sou um velho baiano que sonhou, aos 23, fuçar uma trans-esquerda ou uma ultra-esquerda e, como todo esse afã de trans e ultra estava focado em libertar a criação de canções no Brasil, terminei, na parte estritamente social e política, encontrando os valores do liberalismo como algo que merecia uma atenção que não vinha recebendo no ambiente em que eu me movia. Já contei em outro lugar como sonhava em ser uma esquerda à esquerda da esquerda e, no fim do processo, quase me tornei um liberal inglês. Tenho muita inveja de Ferreira Gullar, que foi de esquerda, sem fantasias ou delírios de ultra ou trans, e amadureceu para defender sem pejo muitos dos princípios liberais. E olha que ele já tinha experimentado tudo o que pode haver de trans e ultra na atividade poética e na crítica de arte.
Olho demoradamente os olhos, as sobrancelhas, algo da testa, o começo do nariz e um canto de fonte de Emma e me pergunto o que pensar. Ouço-lhe as palavras. Leio no blog de André Forastieri uma pergunta sobre as relações entre o Fora do Eixo e a candidatura de Marina Silva, inclusive sugerindo que o coletivo teria em mente indicar o ministro da Cultura, caso Marina se eleja. Um dos caras que quebraram o palácio do Itamaraty era cabo eleitoral de Marina. Esta o reprovou e o afastou. Mas, entre a beleza de Emma, a opção pela (deveras interessante) economia solidária, como alternativa à ideia de que só o esquema patrão-salário-empregado é livre, e as cenas de depredação protagonizadas pelos Black Blocs, meu coração e minha cabeça balançam: o antigo itinerário labiríntico que passa pela ultraesquerda e se encontra com o liberalismo se refaz em segundos. Mas, como digo na esquisita letra de “Um comunista”, “o samba” não crê em violência e guerrilha. Se Marina conseguir fazer sua campanha para a presidência, acho que não resistirei e votarei outra vez nela. Essa crítica à suposta naturalidade do trabalho assalariado como única forma possível de trabalho livre eu saquei do Mangabeira. Que não harmoniza muito com Marina. Mas harmoniza com a ambição experimental do Fora do Eixo. Que é “acusado” de estar perto demais de Marina.
É um momento muito embolado no cenário brasileiro. O 7 de Setembro vem com uma ameaça de risco de criação de instabilidade séria. Imagino como será em Brasília. Não que a decisão de não cassar o mandato de Donadon ajude. Mesmo assim, devemos manter a ideia de sair às ruas pela paz. Gosto do rosto de Emma, do livro de David Graeber (o antropólogo anarquista que Zé Miguel já citou como bom explicador das moedas alternativas do FdE), de Marina (e sua aproximação de André Lara Resende pode desagradar a alguém como Mangabeira, mas a mim não me desagrada: gosto de Lara Resende pelo que já fez na história do real e pelo artigo sobre crescimento em economia), e acho a proposta de Olavo de Carvalho de uma política (e não só uma economia) para os liberais muito presa à ideia de que o comunismo é como o diabo incansavelmente tramando contra o bem. Há boas intenções nos liberais e há boas intenções nos socialistas e comunistas. Embora ninguém duvide de que boas intenções podem levar ao inferno.
CAETANO VELOSO
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