2c6833b0-77e9-4a38-a9e6-8875b1bef33d diHITT - Notícias Sou Maluca Sim!
segunda-feira, 23 de junho de 2014 0 comentários

EU SEI, MAS NÃO DEVIA



Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.


A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

MARINA COLASANTI
sábado, 21 de junho de 2014 0 comentários

VÓ THEREZA



Vez por outra falo com vocês sobre minha avó paterna, essa nega flamenguista e chamada Thereza. Tento sempre expor minha admiração em razão das inúmeras atrocidades que ela passou ao longo da vida e mesmo assim manteve-se de pé. Educou, de acordo com as suas limitadíssimas possibilidades, filhos e netos.

Mulher negra, extremamente pobre, mas que me passou preciosos conhecimentos. 

Estou muito feliz por ter conseguido por meio de terceiros essa imagem dela, já de cabelinhos brancos e um bom copo de cerveja na mão.

Vó, saudades eternas. 


0 comentários

TEU SONHO NO MEU SONHO



Já és minha. Repousa com teu sonho em meu sonho.
Amor, dor, trabalhos, devem dormir agora.
Gira a noite sobra suas invisíveis rodas
e junto a mim és pura como âmbar dormido.
Nenhuma mais, amor, dormirá com meus sonhos.
Irás, iremos juntos pelas águas do tempo.
Nenhuma mais viajará pela sombra comigo,
só tu, sempre-viva, sempre sol, sempre lua.
Já tuas mãos abriram os punhos delicados
e deixaram cair suaves sinais sem rumo,
teus olhos se fecharam como duas asas cinzas.
Enquanto eu sigo a água que levas e me leva:
a noite, o mundo, o vento enovelam seu destino,
e já não sou sem ti senão apenas teu sonho.

PABLO NERUDA
0 comentários

ME DÁ PREGUIÇA




Quem nunca teve preguiça que atire a primeira pedra. De onde vem a preguiça que só de pensar nela ela já aparece? Se uns dizem que são preguiçosos para estudar, ler ou trabalhar, outros dizem que preguiça é “o que dá” diante de certas pessoas ou programas, causas políticas e ecológicas cheias de discursos que se repetem ou que exigem esforço. Em nossos tempos já se falou até de preguiça do sexo. Se a preguiça é difícil de explicar, não é difícil de entender que ela é reação a algo que, na falta de expressão melhor, chateia. Pode ser causa, mas também efeito. Pode ser direito e pode ser desculpa. Em qualquer caso, ela é sempre um mal estar. Tal mal estar não é só ruim, pode também ser proteção contra o excesso de trabalho, contra a super produtividade de cuja exigência ninguém escapa na vida contemporânea. Mal compreendida a preguiça pode ser só uma forma de violência passiva diante das urgências da vida.

A preguiça é um vício

Há preguiça demais e pouca análise dos seus motivos. Até por preguiça. Até parece a grande vitoriosa diante das possibilidades da vida. A preguiça é redundante. Seu nome próprio é a vitória sobre qualquer esforço, até o do pensamento que parece não exigir força alguma. Mas por qual motivo?

Os filósofos antigos se ocupavam da preguiça como um dos sintomas da melancolia que compõe a pré-história da depressão atual. A preguiça era falta de vontade de tudo e qualquer coisa. Na Idade Média, São Tomás de Aquino tratou-a entre os vícios capitais que se opunham às virtudes. Virtude, para o filósofo santo, era tudo aquilo que dizia respeito à realização da natureza de algo. Por exemplo: a virtude da faca é cortar, a virtude do homem é raciocinar, a virtude do cão de guarda é guardar assim como a da estante é suster livros. Neste sentido, mesmo sendo cristão, ele pensava como os antigos gregos. Vício, por outro lado, era tudo o que não alcançava seu próprio objetivo interno, era como perder-se no meio do caminho: uma faca que não corta, um homem que não raciocina, um cão que não guarda, etc. Mas por que algo deixaria de fazer o que deve, ou deixaria de realizar o motivo pelo qual existe?

A definição tomista de preguiça é importante ainda hoje: ela se caracterizava como uma tristeza que impossibilitava a quem dela padecia de agir para fazer o bem. A preguiça era um torpor do espírito que impedia o indivíduo de agir. Não era a maldade, mas a inatividade.

Não é nenhum exagero a sua íntima relação com a cultura brasileira. Quando Mario de Andrade escreveu seu Macunaíma não errou nem por um segundo quanto ao sentido da preguiça que, como sério fator cultural, nos assola desde sempre.

A preguiça é a doença da ação

A preguiça tem alvo. Sua arma é o abandono. Quando temos preguiça tratamos nosso alvo como algo que simplesmente não nos interessa. Abandonamos ou ficamos abandonados a nós mesmos. Pode-se ter preguiça de conversar com amigos, mas também de educar os filhos, de ensinar alunos, de informar um funcionário sobre seus erros ou até acertos. A preguiça não vem do cansaço. É bom esclarecer que cansado é aquele que fez ou tentou fazer, que exauriu forças e não pode prosseguir por esgotamento. Esgotou uma força que havia. Preguiçoso é quem nem tentou fazer, mas está impedido por um outro motivo, o descaso. Em sua base está um desinteresse pelas coisas e pelas pessoas que, sem cuidado, pode se transformar em falta de respeito. O preguiçoso é aquele que esgota uma força que nunca existiu, ele se cansa antes de ter começado como se estivesse doente de uma curiosa incapacidade de agir.

Impotência

Se a violência é destrutiva do poder como um dia comentou a filósofa da política Hannah Arendt, podemos dizer que a preguiça também nega o poder, mas não por contradizê-lo e sim por localizar-se onde ele falta. A preguiça é o nome que se dá a uma forma de impotência, à potência que não se realiza. O preguiçoso não é simplesmente aquele que “não pode”, mas aquele que não tenta, não deseja e, no limite, não se permite sair da inatividade na qual está lançado. No fundo, o impotente é aquele que “poderia, mas não pode”. Porém, é preciso lembrar que “não poder” também está ao alcance de todo aquele que pode. Quem faz algo poderia sempre “não ter feito nada”. O que nos ensina que fazer ou não fazer tem relação direta com a possibilidade de escolha.

A preguiça neste sentido não é o ócio, mas o seu momento negativo, pejorativo. Assim como o negócio é a negação do ócio, mas num sentido positivo, a preguiça é a negação do ócio num sentido pejorativo. Por isso é possível dizer que a preguiça é autoritária, porque ela é fechada, não deixa espaço para as novidades da vida, para outros olhares, para a aceitação de novas potências. Se há segredo em conviver com a preguiça nossa de todo dia, ele está na possibilidade de saber sua diferença com o descanso necessário ou a falta de desejo pela vida e suas possibilidades. É muito bom não fazer nada quando isto é uma escolha, mas não é nada bom ser escravo da própria impotência.

MARCIA TIBURI


0 comentários

O AMOR SE ESCONDE




Eu te conheço, antes mesmo de te conhecer, em meus desejos.
Você é sempre linda, mas eu nunca consigo ver seu rosto.

A cada sonho apareces diferente.
Mas seu olhar te revela e me hipnotiza de novo,
misturando carinho, tesão e amor,
em doses muito, muito precisas.

Sua pele sempre parece feita de tudo,
um pouco de carne, um pouco de veludo,
um raio de sol, um raio de lua,
É a felicidade sorrindo, a alegria nua

Você é o alimento dos meus sonhos.
Me faz sentir tudo que os sentidos podem alcançar.
O seu cheiro, o som da sua voz, o toque na sua pele, o gosto do seu desejo.

Te reconheço pelo olhar, seja com cabelos louros, castanhos ou escuros.
Te reconheço pelo cheiro do seu couro cabeludo.
Reconheço cada parte de você inteira, em cada novo corpo.
Te redescobrindo sempre. Te amando sempre.

Mas, de repente você some, desaparece sem avisar,
deixando no seu lugar, onde você existia,
uma pessoa que não conheço. A casca do amor.

Mas, sempre reapareces de novo, perfeita, e cada vez diferente.
Com outro nome, com outros corpos, outros cabelos e outros olhos.
E durante algum tempo você permanece ao meu lado.
É quando sou feliz. É quando amo. É quando vivo.

Amei todos os seus nomes, todos os seus corpos e todas as suas vozes.

Mas, agora, chegou a hora de nos conhecermos sem máscaras,
para nunca mais desaparecermos um do outro.
Estou cansado de te perder.

Edmir Silveira
sexta-feira, 20 de junho de 2014 0 comentários

PARA O MEU CORAÇÃO



" Para o meu coração basta o teu peito,
para a tua liberdade as minhas asas.
Da minha boca chegará até ao céu
o que dormia sobre a tua alma..." 

PABLO NERUDA
0 comentários

NOITES SEM VOCÊ




Como o vazio da noite é tão cheio de você.
A cada segundo a tua falta pulsa em mim.
Só há o escuro, cego, teus olhos não estão mais aqui;

Como é vazia a noite sem as tuas mãos, sem a tua voz.
Como sou vazia sem você em mim.
E mais ainda sem mim em você;

Como a noite é tão cheia de saudade
e tão vazia do teu corpo no meu corpo,
dos teus sonhos nos meus sonhos.
Tão vazia de mim.

Como o vazio da noite é tão cheio de você,
como o vazio da noite é tão cheio de lembranças.
E quanto melhores as lembranças maior a dor.

Me arranquei, de dentro de você. E só agora vi que você era você.
E agora, como faço para arrancar você de dentro de mim?
Só me resta chorar o que fiz até cansar, até dormir.
Até acostumar a não ser mais o sonho do meu sonho.

Como são vazias as noites sem você.

 Daniela G. Riwde
0 comentários

A DANÇA DA VIDA

Ela chegou de novo, de repente, de longe, de sempre.


Mas nossas vidas sempre foram assim, feitas de surpresas impossíveis.
Desde o dia em que,aos 16 anos, antes de estarmos presos a tudo, resolvemos simplesmente que iríamos nos amar pra sempre. Do nosso jeito. Maior que tudo. Como só duas crianças podem sonhar. Pra sempre.
Sempre não é aqui, não é agora, mas até pode ser, porque sempre não tem hora, é sempre.

E nosso tempo sempre foi bem diferente.
De repente, presente, assim não mais que de repente. Quando era necessário, sem que nenhum dos dois soubesse que éramos necessários ao outro naquele momento.

Ela é uma verdadeira bailarina. Ela não escolheu, foi escolhida. Sua alma nascera com um propósito determinado e maior que ela: dançar.

Me parece que toda mulher escolhe a dança, mas a dança escolhe poucas.
Ela rodou o mundo, os grandes palcos, as maiores cidades, realizou tudo que os mais impossíveis sonhos poderiam imaginar. E, a minha bailarina, chegou de novo, quando eu mais precisava da sua dança. Agora.

Não fazia tanto tempo que não nos víamos, mas fazia muito tempo que eu não precisava tanto daquele abraço. Daquele colo. Daquela dança. Seus olhos se conectaram aos meus e imediatamente lacrimejaram, como os meus. Por uma dor que era só minha. Isso é a conexão maior que uma alma pode fazer com outra. O silêncio de quem conhece os sentimentos do outro pelo jeito de olhar.

Ela sabia que a minha tristeza nem minhas lágrimas tinham a ver com ela nem com aquele encontro. Mas sabia que tinha a ver com a minha vida. E isso era o que importava pra ela. Era só o que importava. E isso era tudo que eu precisava ouvir, que ela se importava com o que eu sentia. Mas, antes que tudo pudesse ir por outro caminho , ela começou a dançar pelo quarto, uma música imaginária. Sua dança clássica, elegante, perfeita, possível apenas para um corpo que vive diariamente para aquele propósito,e por isso, perfeito em cada detalhe tanto nos movimentos quanto na nudez de uma pele de veludo. Perguntei se ela queria que ligasse alguma música, ela se aproximou, me abraçou, começou a dançar sobre meu corpo, e respondeu, iluminando meu coração como um milagre:
- Minha música é você.

E mais uma vez a mágica entrou na minha vida da forma mais real, bonita e necessária que poderia existir. E me fez renascer.

Edmir Silveira


quarta-feira, 18 de junho de 2014 1 comentários

AMAR E SER FELIZ



Nos primeiros dias do ano, caiu-me nas mãos, presenteado por uma amiga, um livro. Eu não a conhecia antes, e essa amiga passou tão rápido na minha vida, que acho que a função dela era só me dar esse livro. Como uma fada que a vida manda pra gente com a única função de nos fazer algum bem.
Ela me fez prometer que o leria.

Pois é, não é que o livro realmente me impressionou como há muito não acontecia?

Me identifiquei profundamente. Trata-se da transcrição de uma palestra do filósofo francês contemporâneo André Comte-Sponville. O nome do livro é Felicidade, desesperadamente. Ele faz um passeio pela história da filosofia e utiliza as vários correntes filosóficas para apoiar seu próprio raciocínio.

O livro me fez compreender o que sempre pensei e nunca havia conseguido enunciar e entender daquela forma tão clara e óbvia.

A identificação com a condução do assunto proposta pelo escritor foi completa. A primeira coisa que o livro me fez ver, é que eu havia, finalmente, compreendido o que é amar de verdade. Não de verdade no sentido de intensidade, mas no sentido de profundidade e amplitude. E, também, no sentido da ação.

O verdadeiro amor desperta nosso lado melhor. O lado mais humano, amigo, parceiro. Temos vontade de fazer coisas que façam o outro feliz. E, por causa dessas nossas atitudes bonitas para com o ser amado, nos vemos mais bonitos. Nossa autoestima aumenta, o que nos faz amar o amor que sentimos pela outra pessoa. E esse ciclo se fecha ao sermos retribuídos e, por isso, amamos ainda mais a pessoa que nos faz sentir todo esse prazer de viver.

 E, que aumenta na medida em que transformamos esse amor em atitudes, nos fazendo capazes de sentir felicidade pela felicidade do outro, prazer pelo prazer do outro. Nesses momentos conseguimos ser verdadeiramente felizes.
Cada um do seu jeito, com as suas verdades. Unidos apenas pela felicidade de estar junto. Pela alegria e o prazer que o amor proporciona.

Mas, a felicidade não existe para o amor dos imaturos, do desejo egoísta que quer o objeto porque não o tem. Do que quer a posse, o controle, quer o poder de manipular o outro através dos sentimentos. Este, está condenado a ser infeliz .
É esse pensamento imaturo que ainda sustenta a formalidade dos antigos modelos de casamento e suas subformas como uma meta de vida para a maioria.

O amor de verdade trás com ele a possibilidade real de felicidade. Ele nos faz sentir amor apenas com a simples ideia de que a pessoa amada existe. E que, também, nos ama. Mesmo que não estejamos naquele momento fisicamente próximos. A simples ideia da existência do outro já é razão de sentir alegria.

Não existe sentimento de posse. Existe desejo. Não existe obrigação. Existe vontade. Cada encontro acontece porque o desejo impulsionou. Porque trás prazer, felicidade. Trás alegria, amor.

O prazer de se sentir o objeto de desejo do nosso objeto de desejo é indescritível, é o momento mais mágico da vida. É a felicidade verdadeira.

O amor sem posse, apenas pela alegria de amar e de sentir prazer com o prazer do outro e felicidade com a felicidade do outro.

Edmir Silveira
0 comentários

DESEJO



Lençóis de seda na cama
Sobre o fino véu
Rasga o céu infinito
Brisa no ar
Esvoaça véu

Envolvida

Nos contornos malicia
Movimentos em curvas
Silhuetas
Pulso de garras firmes

Seduzida

Delicados caminhos entreabertos
Rega água
Escorre gotas
Derretimento em pulsão
De solo fértil

Entregue

Cavidades completas em novas formas
Ondas pulsantes
Em mar revolto
Transbordamento ofegante
Lambuza mel

Possuída

Patrícia Azevedo
 
;